2004-12-29

Susan Sontag

Morreu hoje.
Um espírito muito lúcido e corajoso no triste contexto da actual intelectualidade Americana.
Felizmente a sua obra continua viva.

Nem de propósito

Para reforçar com factos o que procurei dizer no poste abaixo, atentem nesta notícia que acabo de deparar no "Portugal Diário", com o título: "Milhares de Turistas Estrangeiros Mortos"
Eis a lista dos "milhares" de mortos já confirmados referidos nessa notícia:
Itália - 13 mortos
Suécia - 6 mortos
Noruega - 13 mortos
Áustria - 4 mortos
Reino Unido - 15 mortos
França - 22 mortos
Dinamarca - 3 mortos
Bélgica - 2 mortos
Alemanha - 4 mortos
Polónia - 1 morto (provável)
Finlândia - 1 morto
Brasil - 2 mortos
Estados Unidos - 13 mortos
Canadá - 3 mortos
África do Sul - 2 mortos
Austrália - 6 mortos
Nova Zelândia - 1 morto
Filipinas - 8 mortos
Coreia do Sul - 3 mortos
Se não me enganei nas contas, tudo somado dá 130. É este o número que nos demonstra a realidade dos "milhares" de turistas mortos.
Centenas, milhares. é tudo a mesma coisa, Who Cares ?

Os números da tragédia

A ligeireza com que se manipulam números nos média é uma constante, milhares ou milhões é, mais ou menos, a mesma coisa.
Não falo da cólera e outras epidemias, já anunciadas, que aí vêm e que irão matar ainda mais gente do que os tsunamis, ou seja, para cima de mais 70 000 pessoas, cá ficamos à sua espera.
Falo mais da informação que no dia da catástrofe ouvi incrédulo em diversas rádios e televisões: mais de um terço das vítimas eram turistas em férias !
Como estão já registados cerca de 70 000 mortos, e o número de turistas parece ainda não atingir os mil, somos levados a pensar que, para a comunicação social, um turista, como nós, vale, pelo menos, por 25 "macacos" asiáticos.

A lama e o atasqueiro

Assim como no mundo futebolístico o "sistema" é um fantasma translúcido e sem cabeça que mina subtilmente, uniformizando e manietando tudo e todos, tornando inútil qualquer gesto ou acção de boa vontade, anulando com a sua peçonha paralisadora a acção do mais correcto, bem intencionado e competente dirigente; no sistema partidário em que vivemos também existe um fantasma semelhante:
Não se chama o "sistema", chama-se a "máquina" mas a sua acção é em tudo parecida e ninguém a sabe regular.
Independentemente da maior ou menor qualidade dos candidatos que se perfilam para assumir o comando do país, continuamos a não ter opção real.
Só há duas escolhas: a lama ou o atasqueiro.

2004-12-27

Época de Natal

O período natalício que vivemos de "febre" consumista, ruas enfeitadas, pais natais da coca cola trepando varandas, cânticos de natal entoados por milhares de telefonias, o mesmo espírito presente aparentemente em todo o mundo, trouxe-me à memória uma entrevista que em tempos ouvi a um jovem escritor brasileiro, cujo nome não retive e que como bolseiro, penso que da Fundação Oriente, percorreu durante um ano a China profunda, procurando inspiração para escrever um livro.
Nessa entrevista em que jovem autor exprimiu algumas das suas impressões de viagem, retive dois dos aspectos, para ele mais marcantes:
A desilusão que lhe causou a verificação da prática do budismo, que tinha no seu imaginário como uma religião sábia, "pura" e tolerante mas que viu na prática ser hierárquica e prepotente como as outras mais nossas conhecidas. mostrando a constância da condição humana sempre presente em todos os caldos culturais.
A ilusão da universalidade, dizia ele: já imaginaram uma sociedade onde valores e referências para nós fundamentais e sempre presentes, ainda que subconscientemente, são totalmente irrelevantes e ignoradas, onde nomes como Bach, Beethoven, Jesus Cristo, Maomé, Da Vinci, Platão, Sócrates, não significam nada, absolutamente nada ? No entanto essa é a realidade na vastíssima China rural, mostrando como a globalização parece não ser ainda, tão global assim.

2004-12-15

Prepara-se o ritual

Como sempre, os "opinion makers" começam já, e continuarão a fazê-lo, a apelar para a elevação no debate, a exposição das diferentes ideias, a apresentação de intenções e propostas de governo.
Como sempre, os partidos vão ignorar tudo isto, vão uns criticar e outros defender o que foi e não foi feito, vão insultar-se elegantemente e, por vezes mesmo, menos elegantemente, para gáudio dos jornalistas que venderão mais jornais, expondo a sua superior postura e comentando o "ao que isto chegou".
Como sempre, de todos os debates e independentemente do que lá se passe, todos os comentadores irão dizer que se ficou pelos aspectos comezinhos, que não se debateram ideias que no entanto, um ou outro, candidato gaguejou menos ou mais, foi mais ou menos brilhante, nas suas "piadas", que teve boa ou má apresentação e correrão rios de tinta em acesas discussões sobre estes aspectos e sobre quem ganhou o debate.
Como sempre, o povo assistirá divertido a este espectáculo e no dia 20 de Fevereiro, se não chover muito, irá votar em quem já sabe hoje, em A ou B, porque é um gajo porreiro e nunca em A ou B porque é um malandro que só quer "poleiro".

2004-12-13

MAD TV

Conhecia a revista desde a minha juventude e sempre que, raramente, encontrava uma “MAD” nalgum quiosque, juntava os meus parcos escudos de estudante para a comprar, ler e reler.
Agora durante os meus “zapping” apanhava vagamente alguns pedaços de “sketches” que me pareciam meio destrambelhados e longe da ironia fina da velha revista.
Foi nas 24 horas de MAD TV que a SIC comédia nos ofereceu no feriado de quarta-feira que prestei mais atenção a esta versão televisiva. Tenho de reconhecer que o humor corrosivo, acutilante e politicamente incorrecto da velha revista está lá, ainda hoje.
Não se deixe mal impressionar pelo aparente humor fácil de “pastelão na cara” que é sugerido numa visão menos atenta, veja um ou dois episódios completos e verá então que tudo tem um sentido.
A partir daí é um “must”.

2004-12-09

Notícias do dia

Ouvido na SIC Notícias:
1. O CDS-PP, diz que ouviu o Presidente com muita atenção mas continua a não perceber nada.
2. Santana. Lopes tinha já a intenção de se demitir só que o Presidente antecipou-se.

2004-12-04

Um vector não é uma seta

Dizia-nos solenemente o velho Professor nas longínquas aulas de cálculo vectorial.
- As setas são apenas representações gráficas de um vector e não o vector, ele mesmo.
Esta insólita afirmação solene do óbvio, parecia-me, no momento, descabida.
Com o tempo e a experiência, porém, o reconhecimento da importância da precisão da conceitos, de não confundir alhos com bugalhos, começou a assumir em mim a dimensão de uma cruzada necessária.
Assistimos diariamente, a todos os níveis, a inflamados debates de surdos e não admira que se não consigam consensos quando as premissas originais são tão diversas.
Vem isto a propósito da actual situação, onde ouço constantemente debater a “destituição do Governo” decidida por Sampaio, extraindo-se consequências e atribuindo-se as intenções mais diversas.
Como o meu velho professor eu tenho que dizer:
- Não obstante o Governo ir, a curto prazo, sair, a realidade é que Sampaio não decidiu a sua destituição.
O que está em discussão é apenas e só a dissolução da Assembleia da República, a concretizar nos termos constitucionais e, naturalmente, as respectivas consequências.

2004-12-01

A nódoa

Há já vários dias o Solistência recordou, com grande oportunidade, a actualidade profética de Eça de Queirós, expressa nesta citação do mestre:
"Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa."Eça de Queirós
E aqui está o que se passou, a nódoa do governo Lopes está prestes a desaparecer, tem sido difícil mas está quase a sair. Só que parece que desta vez não foi com benzina, no século XXI temos já outros recursos poderosos.
Os produtos utilizados foram diversos:
Primeiro, Marcelo bioactivo com glutões cor de rosa.
A seguir, decisivo, Cavaco fórmula extra, de dupla acção.
Finalmente, Henrique Chaves de acesso de profundidade que remove a sujidade oculta e não deixa auréolas.
O resultado é garantido, a nódoa vai definitivamente sair, apenas ainda se receia que o tecido tenha sido irremediavelmente afectado.
Esperemos que não.

2004-11-29

Um dia em Le Mans

Sábado morto, uma longa espera pelo TGV que iniciaria o meu regresso a Portugal.
Acordo cedo de mais, rebolo-me na cama de Hotel procurando posição para passar o tempo, olhando a RTPI.
Saio do hotel e deambulo pelo centro histórico de Le Mans, bem recuperado, sem dúvida, mas muito mais interessante à noite do que de manhã.
Fixo-me num café tomando uma bica (finalmente podemos dizer que a bica já conquistou a Europa, um café, sem mais adjectivos, é já a chávena curta e de espuma densa, a bica, em quase todos os cantos da Europa) e olhando quem passa.
Dizem-me que Le Mans tem pouca imigração mas a maioria dos rostos que vejo, embora ocidentalizados, têm a marca indelével do Magreb.
O tempo passa lento, saio do café prematuramente à procura de um restaurante para um almoço que me faça passar o tempo, paro, bem no centro da cidade, na Brasserie Le Globe, atraído por um item da ementa: "Le Tartare - a vous de préparer".
Entro, sento-me e peço essa pérola da gastronomia da Europa Oriental, que também as têm, com "frites maison". Para beber hesito entre os diferente vinhos da lista, demasiado caros para a qualidade, mas enfim, estava em França, tinha que beber vinho, naturalmente.
O empregado simpático sugere-me um "demi" jarro de Beaujolais (a campanha fabulosa que o Beaujolais está a fazer, pelo menos como vi em na França e na Polónia e de que talvez venha aqui a falar mais tarde, é um excelente exemplo do que muitas das nossas regiões vitícolas poderiam fazer) não o considero de modo nenhum um grande vinho mas enfim, cumpre e está melhor para a bolsa de um português médio.
Chega então o Sr. Tártaro, mal apresentado mas com os ingredientes necessários para se fazer qualquer coisa: a gema de ovo, indispensável, cebolinha, chalota e alcaparras picadas e, à parte, um tabuleiro com o molho inglês, também, para mim, indispensável, várias mostardas, azeite e tabasco, que não usei, sal e pimenta.
Soube-me pela vida, entretanto ouço que o empregado se chama Joaquim, nem mais nem menos, Joaquim, pronunciado exactamente como os nossos Joaquins. Pergunto-lhe a nacionalidade mas diz-me que é Francês, com 3 origens onde Portugal não está, medito sobre esse insólito Joaquim.
Para sobremesa mousse de chocolate e, finalmente, café, Armagnac e cigarros, faltou-me o charuto mas foi, mesmo assim, um belo e repousado momento de nicotina cafeína e álcool.
Mentalmente pensava, tentando adicionar de memória as diferentes parcelas do consumo: vai-me custar uma nota este almoço talvez uns 40 Euros, pensava, mas que se lixe.
Vem enfim a conta: 29 Euros, que maravilha. Pago, olho para o relógio e fico aflito:
Caraças o TGV está quase aí, ala que se faz tarde.

O menino

Na sua incubadora, tentando sobreviver:
- Porra que os meus irmãos mais velhos em vez de sorrirem e me acariciarem só me batem e atiram para o chão.
Irmãos mais velhos
- O raio do puto não para quieto na incubadora e manda-se para o chão a cada passo, por mais que se queira protegê-lo assim não dá, ninguém o segura.

2004-11-27

Porque sou agnóstico

Um ser que obstinadamente pretende que todos os homens o amem a cima de todas as coisas não pode ser Deus, é mais o Santana Lopes.

2004-11-24

Canas de Senhorim

Ainda não percebi bem o que move a população de Canas para entabular esta luta determinada pelo direito a ser Concelho.
Para alguns, poucos, isso servirá os seus interesses, sem dúvida, mas para a maioria o facto não altera um milímetro das suas vidas, a não ser, como uma mera questão de amor próprio e de sentido da sua dignidade e por aí não restam dúvidas, quanto mais oposição houver mais eles lutarão para levar a sua avante.
E não tenho a mínima dúvida de que vão ganhar.
Mas o que custa mais a compreender é quem se opõe a esse reconhecimento.
Inexplicavelmente, as altas sumidades portuguesas repetem de cor, como se fosse verdade, que Portugal tem já muitos Concelhos. Porquê ?
Existirá alguma regra de ouro que imponha essa dimensão ideal ? Haverá algum motivo que seja mais forte do que a vontade da população que os Concelhos servem ?
O que eu vejo em muitos países da Europa, são Comunas que tanto podem ser grandes como pequeníssimas é a dinâmica da população que o determina. E é assim que está bem.

2004-11-21

Polónia

Regressado de Varsóvia, corrigido o erro ortográfico no “até à vista” do título do passado poste, resta-me contar as primeiras impressões desta visita relâmpago à Polónia:
E é mesmo verdade, num ano a Polónia mudou, Varsóvia está com mais carros do que nunca e carros novos, passei por engarrafamentos nunca antes vistos, mesmo tendo em conta que apanhei a primeira neve do ano. O caos era total.
Os pequenos agricultores, que apenas há um ano lideravam a oposição à integração na UE, estão eufóricos com as torneiras de zlotis que jorram de Bruxelas e já não querem outra vida.
A Polónia está a mudar e a mudar rápido.

2004-11-17

Do Widzenia

Novo salto a Varsóvia, por uns dias.Devo voltar já com o orçamento aprovado e a tempo de gozar a prosperidade prometida.

2004-11-15

Referendo

Sampaio disse que é fundamental ratificar o tratado constitucional europeu se não vem o dilúvio.
Cavaco disse que não deveria a haver referendo. Resumidamente, porque o povo não sabe o que quer e é capaz de votar contra só para chatear, pondo em causa uma coisa seríssima que ele não compreende minimamente.
O povo que diga o que eu quero, diz um, ou é melhor que esteja calado, diz outro.
Grandes democratas, digo eu.

2004-11-12

Reflexão sobre a justiça 2

Que a lei tem pouco a ver com a justiça é um facto, para mim, adquirido há muito e se mais razões não houvesse, bastaria verificar que a classificação de um acto como justo ou injusto, não se limita à consideração do acto em si mas a uma infinitude de circunstâncias objectivas, em que ele é praticado, além de condições subjectivas de quem o pratica, motivações, conhecimentos, crenças, atitudes, saúde mental e não sabemos mesmo se o nosso livre arbítrio será tão livre assim ou será antes ouigualmente condicionado por factores inscritos no nosso código genético.
Nenhuma lei pode prever tudo isto, naturalmente, e é por isso que deveriam existir juizes, como homens bons (ou mulheres) e sensatos que mesmo com as suas limitações humanas deveriam analisar os actos concretos, incorporar a informação acessória, deduzir das circunstâncias subjectivas, enfim aproximar um pouco a lei da justiça.
Como exemplo comezinho poderei referir o seguinte:
Existe uma lei, a que felizmente ninguém liga, que me impede de atravessar a rua fora de uma passadeira de peões, se esta existir creio que a menos de 50 metros, todavia se eu visse à minha frente, do outro lado da rua, um cidadão que precisasse da minha ajuda urgente e o trânsito o permitisse, creio que a justiça exigiria e quase ninguém hesitaria um milésimo de segundo entre atravessar imediatamente ou procurar a passagem de peões a 20 ou 30 metros.
A lei tinha sido quebrada mas a justiça tinha sido feita e julgo que qualquer juiz deveria absolver esse alguém sem hesitação, apenas porque sim.
Infelizmente, tendemos, no nosso sistema judicial, para que o juiz não o faça ou que para o fazer tenhamos que recorrer à mentira consentida e estimulada dizendo, por exemplo, que desconhecíamos a existência da passagem de peões ou que pensávamos que estava a mais de 50 metros ou algo no género e felizmente vamos tendo juizes que fingem que acreditam.

2004-11-09

Acho graça

A como alguns pregadores, comentadores bloguistas e jornalistas se afadigam para nos explicar que os EUA são um grande país e nós, que não vamos lá de 15 em 15 dias como eles, não percebemos nada da sua grandeza e complexidade.
Eu, de facto, em toda a minha vida, só estive nos EUA 4 vezes, mas não me deixo intimidar, pela minha suposta ignorância, como disse Lars Van Trier, que já fez pelo menos 2 filmes supostamente passados nos EUA, também eu posso dizer: "Nunca fui aos EUA nem preciso de lá ir para os conhecer bem porque eles entram constantemente pela minha casa dentro, até à exaustão".
Mas mesmo que não tivesse qualquer ideia poderia inferir, que lá, como na Lapónia ou no Cordistão onde nunca estive, os homens devem ser mais ou menos como os de cá que eu conheço, brilhantes uns imbecis outros.
O que difere de facto é o caldo cultural que determina atitudes e comportamentos e aí, para além de ser o aspecto que mais me entra pela casa dentro em todas as suas nuances, é de esperar que num país novo e de imigração diversificada, as diferenças sejam mais do que muitas mas há uma resultante de todas essas forças contraditórias que se traduz nas suas grandes opções políticas, queridas ou consentidas, e aí não restam dúvidas, os homens escolheram mesmo o Bush outra vez.
Isto é um facto objectivo que nenhum analista pode desmentir, sobre o qual eu tenho todo o direito de opinar e opino como o Daily Mirror, também eu digo:
Como é que 55 054 087 pessoas poderam ser tão burras ?
Cá, também aturamos um Santana Lopes mas, pelo menos, podemos dizer orgulhosos que nem um português votou nele, antes assim.

2004-11-08

Pontos Cardeais

A minha visita ao Sulitânia, casa de comes e bebes, e o reconhecimento da importância daquele Sul na Sulitânia, trouxe-me à consciência a minha particular relação emocional com os Pontos Cardeais:
Gosto também do Sul, de todos os Sul, de Portugal e do Mundo; não nutro grandes simpatias pelos Norte, tirando talvez o verdadeiro Norte mais perto do polo e esse país, para mim mítico desde a infância, que dá pelo nome de Canadá. Todavia, talvez o que mais me atraia seja mesmo o NE, todos os NE.
Será que Freud explica isto ?

2004-11-04

Reflexões sobre a justiça

A sentença do julgamento de há dias, da jovem que com 17 anos terá provocado um aborto, tendo sido denunciada à polícia por um enfermeiro, apresenta-se como um caso exemplar.
A juíza decidiu com justiça, mas teve que fazê-lo de forma ínvia, ignorando factos e dispensando testemunhas essenciais para o conhecimento da verdade, porque o seu depoimento iria, certamente, dificultar a justa decisão já tomada.
Ao ouvir as sensatas palavras da Meritíssima, pensei para comigo: não tenho dúvida de que a lei foi quebrada pela jovem mas a justiça foi feita e para que o fosse inteiramente o enfermeiro "bufo", amante da lei, deveria apanhar uma talhada para deixar de ser tão "bom cidadão".
Logo a seguir veio a notícia que eu queria ouvir: a Ordem dos Enfermeiros abriu um processo disciplinar ao "bufo" por ter revelado informações adquiridas no exercício da sua actividade profissional.
Bem feita, digo eu.

2004-11-03

As eleições espectáculo

Bush ganhou, tá bem, se eles acham que sim quem sou eu para duvidar, mas não é das eleições que quero falar mas da sua cobertura noticiosa, se é que há alguma diferença entre as duas coisas.
Assisti ontem à noite, até certo ponto, ao painel de notáveis que comentava as eleições americanas na SIC-notícias..
Ora estava Bush à frente, ora Kerry, entretanto havia o fantasma da Florida que tanto trabalho tinha dado nas anteriores eleições, todos queríamos saber quem ganhava na Florida.
A dada altura um jornalista explica que Bush vai à frente na Florida, por poucos votos mas ainda falta cerca de 1 milhão de votos por correspondência e afins, que só começariam a ser contados na próxima quinta-feira.
Os especialistas, presentes explicam logo, tratando por tu a situação:
- Sim, na Florida é assim mesmo, há muitos votos de soldados que estão no Iraque e mais outros que já votaram antes etc. etc.
Conformei-me, só depois de quinta-feira saberíamos alguma coisa.
Fui para a cama, assim no escuro e quando acordo de manhã, por milagre certamente, a Florida já está toda contada e Bush ganhou. Sobre aquela questão da quinta-feira, que todos os especialistas conheciam tão bem, nem mais uma palavra ou explicação: já está tudo contado e pronto, agora o problema é Ohio, aí sim, ainda falta um montão de votos provisórios e os democratas não desistem enquanto não contarem todos.
No entanto os republicanos estão a pressionar para que Kerry reconheça a derrota, porque se assim fizer fica já o caso arrumado e não é preciso contar mais nada.
Entretanto eram sempre tratado ao mesmo nível, votos reais e previsões à boca das urnas, de todos os dados que vejo e leio não sei se são uma coisa ou outra e suspeito bem que o jornalista que os transmite também não sabe.
Eu penso, para mim: afinal que porra de eleições são estas da "pátria da democracia" que eu não estou a perceber nada ?

2004-10-31

O caso Venezuela

O tratamento dos media ao caso da prisão da tripulação e passageiros de um voo charter para Lisboa, por posse de 400 Kg de cocaína, é um caso deveras interessante de seguir.
A última notícia que ouvi, dita como se fosse o caso mais natural do mundo:
- O juiz decidiu a libertação da tripulação do avião, no entanto a acusação opôs-se e eles continuaram presos !

2004-10-29

Se ele há tanto curso por aí

Quando é que aparece um curso para a gente aprender a viver sob o Governo de Santana Lopes.

2004-10-27

Sei que não sou o único

Embora muito poucos tenham esta sensibilidade:
Respeito as touradas, onde os touros se comportam como touros e os homens como homens.
Respeito a caça, mesmo à raposa, onde as presas se comportam como presas e o homem como o predador que é.
Não tolero, incomoda-me, acho uma falta de respeito inaceitável, transformar um burro num palhaço e pô-lo a comentar a Quinta das Celebridades com a Júlia Pinheiro, como se um burro que se preze ligasse o mínimo aquela palhaçada humana.

2004-10-26

Gostava de saber a resposta

Qual será a altura da Alta Autoridade para a Comunicação Social ?

2004-10-25

Discurso politicamente correcto

Vejam o exemplo vivo de como se pode enriquecer apenas do trabalho.
Ganhando apenas o salário mínimo nacional mas com muita poupança e ponderação: levando a lancheira de casa para não desperdiçar dinheiro nos restaurantes, usando transportes públicos, apagando as luzes desnecessárias, aquecendo-se com mantinhas, no Inverno, para controlar a conta da EDP, enfim com uma vida muito regrada, de grande sacrifício e sem luxos, lá se pode ir conseguindo acumular poupança, comprar uns prédiozitos e outros bens e até já se pode dispensar os transportes públicos e deslocar-se num dos seus carros.
E depois pode haver vozes invejosas a dizer que foge aos impostos e não sei quê, ora, quem não foge um bocadinho aos impostos se puder ?
Cambada de invejosos preguiçosos a exigir mais salário e melhores condições de vida: trabalhem e poupem meus amigos, o salário mínimo chega muito bem, façam como o Victor Santos.

2004-10-18

Isabel

Eu tinha então 24 anos, trabalhava em Angola, no Andulo, nos seus últimos meses de colónia, Isabel era uma nossa empregada doméstica com apenas 12 ou 13 anos.
Pagava-lhe uma miséria, ligeiramente superior à miséria habitual, dormia num colchão no chão contra a opinião de todos os casais amigos que criticavam a minha mulher por “esse luxo” que lhe proporcionávamos:
- Vai fazer xixi e estragar o colchão e, até dorme mal porque eles não estão habituados. Deve dormir numa esteira, aí é que ela se há de sentir bem.
Nunca demos ouvidos a essas críticas, sempre pensei que as costas humanas não conhecem escravo nem amo.
Aliás, Isabel não se queixava, vivia feliz, cantarolava, ria-se muito quando eu, no meu umbundo mal arranhado, lhe dizia de brincadeira: Isabel, “nena vava”, querendo dizer “traz-me água” mas certamente tão mal dito que lhe despertava sempre um riso sincero ou seria do prazer que lhe dava a ida à fonte ?
A ida diária para buscar água de uma determinada fonte era o seu grande momento de prazer e liberdade, aí se encontrava com as amigas, conversava sobre o dia, brincava e levava sempre muito mais tempo do que o razoavelmente necessário.
Nós sempre lhe tolerámos esse “abuso” porque a fazia feliz e não nos prejudicava, nem um pouco, já que todo o trabalho era feito a tempo e horas mas, mais uma vez a minha mulher foi muito criticada, Isabel perturbava a paz social: as suas amigas, empregadas de outros casais, usavam a liberdade de Isabel para apoiar as suas reivindicações e muitas vezes também se demoravam desculpando-se com Isabel.
Depois veio o 25 de Abril, a minha difícil decisão de regressar a Portugal, grandes períodos de ausência do Andulo para a então Nova Lisboa e Luanda na preparação da nossa partida e, quando regressávamos, dias depois, Isabel lá aparecia sempre para nos encontrar e retomar o serviço.
Contaram-nos que diariamente Isabel esperava sentada no chão da rua aguardando ansiosa qualquer janela aberta ou luz acesa que lhe indicasse o nosso regresso.
Decidimos voltar a Portugal e despedimo-nos de Isabel definitivamente, nunca mais a voltámos a ver. Apesar de tudo tivemos, alguns dias depois, notícias do Andulo dizendo-nos que Isabel continuava a ficar na rua, em frente da nossa casa, à espera do nosso impossível regresso.
Desde esse tempo que me lembro, muitas vezes, de Isabel, especulo sobre o que terá sido a sua vida ou a sua provável prematura morte, dado os anos brutais e selvagens que se seguiram em Angola.
Lembro-me e invade-me sempre uma estranha sensação de vazio, de incompletude, de que o meu efémero e aparentemente insignificante contacto com Isabel não pode ter terminado ainda.
Foi a minha primeira experiência de patrão, quando eu era ainda um miúdo pouco maior do que ela e o episódio Isabel na minha vida foi determinante na minha formação e visão do Mundo.
Não me conformo que tenha sido tão breve, penso que se olhar para o Sul, e pensar com muita força “nena vava”, terei que ver um dia, de novo, Isabel voltando da fonte, rindo e contente, carregando a sua vasilha de água fresca.

2004-10-16

Bom Conselho

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

Chico Buarque de Holanda

2004-10-14

Um programa paradigmático

O Tudo em família, na RTP2 a seguir ao almoço, é um programa excelente, paradigmático, uma fonte inesgotável de postes neste blogue.
De facto, se reflectirem um pouco sobre o nome deste blogue, talvez percebam melhor o que quero dizer e que não é nada irrelevante:
O tudo em família é uma voz isolada, no meio do espectáculo, a tentar gritar que também somos macacos. Mas fá-lo de forma confusa, instintiva, oscilando entre o espectáculo e o bom senso.
No programa que vi hoje fiquei a saber que estudos científicos rigorosos (espectáculo), baseados na observação de creches na China e na Roménia (países de macacos, como todos sabem) descobriram que o colo e o contacto de pele a pele pode ser mais importante para o bebé que o simples fornecimento de alimentos.
Observaram também que experiências com macacos (propriamente ditos) preferiam o contacto com “mães” com pelos do que “mães” metálicas.
A minha questão, aquilo que me preocupa, é que seja preciso que os média nos digam aquilo que está inscrito (supunha eu que indelevelmente) nos nossos genes.
Será que hoje, alguma mãe, alertada por qualquer estudo, rigorosamente científico, que prove que no beijo são transmitidos muitos agentes infecciosos e maléficos (o que eu não tenho dúvida que é verdade e qualquer estudo o poderá demonstrar) deixe de beijar o seu filho, para o proteger ?
Numa sociedade onde começam a proliferar cursos de paternidade e de maternidade, receio bem que sim.
Desculpem este meu desvario mas eu não tenho culpa de ser filho de uma mãe fumadora e que não teve aulas de amamentação, como foi proposto à minha filha, e de os meus pais não terem tido nenhum curso de paternidade (por apena 100 Euros).
Dou graças a Deus por ter sobrevivido até hoje, apesar de tudo.

Bush vs Kerry

Assisti aos 3 debates televisivos entre Bush e Kerry e, não obstante o que diz Luís Delgado, só vejo duas hipóteses:
Ou o povo americano é completamente imbecil, o que, infelizmente, não é uma hipótese a desprezar de todo, ou Kerry tem estas eleições no papo.

2004-10-12

O discurso do nosso Primeiro Ministro

Tem sido mal interpretado, não há cidadão, comentador político ou económico que não lance as suas dúvidas e não saliente a sua incoerência com as palavras de Bagão Félix de há um mês.
Oh homens de pouca fé, então não vêem ?
Não se aperceberam que enquanto nós nos distraímos com a novela Marcelo Rebelo de Sousa, e com o empate contra o Lichen quê?, Santana Lopes trabalhava arduamente no que é importante para os portugueses e as portuguesas ?
Não viram como ele resolveu, neste último mês, com suor e muita competência, todos os nossos problemas financeiros ?
Pois foi, agora estão criadas as condições para a fartura.
Tudo o que seja trabalhar menos e ganhar mais, eu apoio com todas as minhas forças, não sou como aquele manhoso do Marcelo que só para destilar ódios pessoais se insurgiu contra a tolerância de ponto.

Contraditório
Tás mas é xéxé oh Nuno, não pode ser, ninguém é capaz de mudar num mês a situação de um défice financeiro descontrolado, os analistas têm razão, pá.

2004-10-08

A pressão

Acho curioso como se discute a existência de eventual pressão neste episódio com Marcelo Rebelo de Sousa.
É uma mera questão de semântica, como em tantos casos.
Pressão ou pressões é o que não tem faltado neste caso: O discurso do Ministro Gomes da Silva foi inequivocamente uma pressão, bastante forte; a audiência de S. Exa o Presidente da República não deixa também de ser uma pressão, de sentido contrário, todas as declarações que se têm feito sobre o caso são também pressões e até eu estou aqui a tentar fazer uma micro-pressão.
A questão não é saber se houve ou não houve pressão do Governo ou do capital, isso houve sem dúvida nenhuma, a questão é saber se houve ou não houve chantagem, só isto.

Contraditório

Olha que não, Nuno; olha que não.

2004-10-07

E agora José ?

Com que opinião vamos sair à rua na segunda feira ?

2004-10-06

O ranking das escolas

Publicado, há dias, é uma coisa muito boa.
Agora, basta os pais dos alunos da escola Básica Integrada de Pampilhosa da Serra, tratarem de matricular os seus filhos no Colégio de Nossa Senhora da Boavista em Vila Real e fica tudo resolvido.

2004-10-02

5 de Outubro

É já na próxima terça feira, 5 de Outubro que sai o novo cd de Tom Waits: “Real Gone”.
Embora se possa comprar no escuro qualquer disco de Tom Waits, este já o ouvi e posso confirmar que é fabuloso.
Ah, também se comemora a implantação da República em Portugal, 5 de Outubro é de facto um dia a assinalar.

2004-09-30

Esquerda e Direita

Enquanto intelectuais, comentadores e políticos se acotovelam para bem se posicionar à esquerda e à direita, o povo que os motiva continua com uma única preocupação, na dimensão vertical:
Só quer sair de baixo.

2004-09-29

Luis Delgado de novo

Na sua crónica de hoje no DN, Luis Delgado diz que Bush tem todas as condições para ter uma maioria mais folgada do que em 2000.
Esperemos que sim, porque, como é sabido, a maioria de 2000 teve tão pouca folga que, ao que parece, nem chegou a ser maioria.

2004-09-24

Experiência

O meu primeiro Chefe dizia muito esta verdade:
Há pessoas que têm 20 anos de experiência, enquanto outras têm 1 ano, repetido 20 vezes.

2004-09-23

Já no tempo de Salazar

Se dizia que a carreira de um político se dividia em 3 fases:
A pista, a pasta e a posta.
Passados todos estes anos, em democracia, o sistema vai-se reconstituindo.

2004-09-21

Tenho pena da Sra. Ministra da Educação

Sinceramente, sem qualquer ironia. A pobre foi chamada à pressa para o comando de um combóio desgovernado, onde nenhum dos botões em que carrega funciona já, fazendo esforços desesperados mas sabendo já que, mais dia menos dia, o comboio se despenha com ela dentro.
Entretanto, os maquinistas que deram cabo de tudo, contemplam, sãos e salvos, talvez sorrindo com alívio, enquanto aguardam, se é que não alcançaram já, o comando de outro combóio, este cheio de ouro e em marcha pachorrenta que não exige grande direcção.
Imagino o pandemónio que vai pelo gabinete da Sra. Ministra, os gritos e murros na mesa, as ameaças ao telefone, o gaguejar comprometido por aí a baixo na hierarquia, as emendas atarantadas, feitas a toque de caixa, cada vez piores que os sonetos e que vão inexoravelmente empurrando o combóio para o abismo.
Nos filmes de hollywood é assim, os leaderes notáveis que aí são retractados resolvem sistematicamente os problemas mais bicudos, por vezes a salvação do Universo, apenas com uma voz de comando determinada e enérgica:
- Quero, dentro de 45 minutos, uma lista de todos os que utilizaram pasta de dentes XYZ nas últimas 24 h, em todo o mundo.
- Mas isso é impossível, são milhões de pessoas, nos sítios mais recônditos,
- Isso é um problema seu, não admito não por resposta, o Sr.é pago para resolver estes problemas, venha a lista já.
E a lista aparece, certíssima, por vezes num écran de computador, com quilómetros de nomes e um título, em letras garrafais, a piscar ao cimo do écran dizendo "Lista de utilizadores de pasta de dentes XYZ".
Mas isto é em alguns filmes de hollywood, na realidade, por mais que o chefe grite e esbraceje a lista nunca aparece.
Infelizmente, Portugal começa a ser dominado a todos os níveis por gente cuja formação e experiência de direcção foi forjada exclusivamente a ver filmes desses.

2004-09-20

Estou temporariamente sem tempo.

Passe a contradição.
Não leio, não escrevo, não penso, enfim, não nada.
Espero lá para o fim da semana recomeçar de novo, adquirindo tempo para nova temporada. O tempo o dirá.

2004-09-17

A terna agressividade portuguesa

Ouvi, mais ou menos, este diálogo:
- Eh pá meu filho da puta, tu fazes-me isso ?
- Faço, porra, já te disse, não mereces mas faço.
- És um gajo porreiro pá, és um amigo do caralho, obrigadinho pá.
Em qualquer parte do mundo isto dava briga séria, aliás, cá também, era só mudar o contexto e a entoação.
Neste caso traduzia uma amizade sincera.

2004-09-16

Nacionalidade portuguesa

Há coisas que sabemos mas que, de facto, não sabemos, desconhecemos os seus contornos a sua importância ou outras questões relacionadas. É um pouco como uma peça de um “puzzle” antes de encontrarmos o seu lugar junto das outras ou talvez aquela noção de Piaget de conhecimento acumulado e conhecimento equilibrado, o verdadeiro conhecimento.
Vem isto a propósito de um facto que me ensinaram há muitos anos, ainda na escola primária, como suponho terão ensinado a muitos de vós, que consiste em ser Portugal o país, com as mesmas fronteiras, mais antigo da Europa.
Sempre encarei isto como um “fait divers” , uma curiosidade, sem grande relevância, dita e redita para aumentar a nossa auto-estima, como se ser o mais antigo, por si só, fosse um facto digno de ser valorizado.
A primeira vez que essa informação assumiu em mim contornos diferentes foi, há já alguns anos, quando ouvi numa entrevista a Agostinho da Silva, este dizer que o grande mérito dos nossos primeiros reis foi terem descoberto onde estava Portugal, terem-no desenhado no mapa no seu exacto sítio.
Se por um acaso da história tivéssemos, por exemplo, perdido Trás-os-Montes e ganho a Andaluzia ainda estaríamos em Portugal ? Para Agostinho da Silva absolutamente não.
A Nacionalidade Portuguesa será feita assim desse binómio, povo e território.
Durante a minha estada na Polónia, essa singularidade portuguesa voltou à minha consciência, apercebi-me então que não somos apenas os mais antigos somos praticamente únicos na unidade desse binómio.
O povo e a identidade polaca é tão antiga como a nossa, no entanto em 2004 os polacos, ao contrário dos nossos primeiros reis, ainda não descobriram onde fica a Polónia.
Grande parte da Polónia de hoje ainda há 70 anos era Alemanha, mas antes, parte já havia sido polaca, e Prússica e austrohúngara, e parte do que já foi Polónia é hoje Ucrânia e Bielorússia.
E esta inconstância territorial é válida para as indiscutíveis Alemanha e França e esse arranjo territorial que se chama Espanha e o Reino Unido que por si só já é uma colagem como o nome indica, podemos dizê-lo, para toda a Europa, com a excepção deste nosso singular país.
Será que essa singularidade não confere à nacionalidade portuguesa um sentido diferente também único ?
Esta reflexão fez-me recordar um episódio que se passou comigo há muitos anos que mais tarde contarei.

2004-09-15

Os ricos que o governo odeia

Este artigo de João Paulo Guerra no Diário Económico põe o dedo mesmo no centro da ferida da actual política de "solidariedade" do governo.
Se não têm pachorra de ler o artigo todo (recomendado), deliciem-se com o parágrafo que transcrevo e que resume a essência da tese de João Paulo Guerra.
"Os pobres dos ricos que vivem em habitação própria e têm segunda e terceira casas para os tempos de lazer, os que frequentam consultórios particulares, no país ou no estrangeiro, os que se deslocam em carros de alta cilindrada – sinal da retoma –, nada têm que temer. Agora, os ricos que esperam por um transporte, para depois viajarem como sardinha em lata, os poderosos que aguardam um dia inteiro por um olhar apressado de um médico num hospital ou num posto de saúde, os opulentos que habitam decrépitas assoalhadas num prédio a ruir na «baixa» de Lisboa ou do Porto, esses ricos estão feitos. Esses ricos vão pagar a crise. A crise dos pobres propriamente ditos e a dos pobres dos ricos."

2004-09-13

Desilusão

Acabei de ouvir a triste comunicação do Sr. Ministro das Finanças.
Admiro a honestidade mas não posso esconder a desilusão.
O Sr. Ministro teve a coragem de assumir que não tinha poderes mágicos e que gerir as finanças públicas era como gerir um orçamento familiar.
Só lhe resta assumir também as consequências desta confissão:
Sem poderes mágicos, Dr. Bagão Félix, parece que não precisamos de si e, de acordo com a sua análise, não restam dúvidas que a Fátima, a minha mulher, deverá assumir imediatamente o Ministério, ninguém gere melhor que ela um orçamento familiar.

2004-09-12

Segundo nos informa a publicidade

Ao fim de longos anos de aturada investigação nos mais sofisticados laboratórios, alguns detergentes parece que estão quase a chegar muito próximo do nível qualitativo do sabão macaco.
É obra.

2004-09-11

Um bom conselho

É fundamental que nos mantenhamos sempre com os pés firmemente assentes um palmo acima do solo

Ouvido a já não sei quem, citando autor cujo nome não retive

2004-09-10

A mediocridade está no poder

E parece que está para ficar

Algo vai mal

Quando são os nossos inimigos quem melhor nos entende

Sempre actual em muitos contextos

O último a entrar num autocarro muito cheio é muitas vezes o que mais se opõe a que outros, ainda fora, também entrem.

2004-09-09

Rebecca Gomperts

Quem quer ver esta mulher presa por nos explicar como se comete um crime, tem que mandar já prender quase todos os romancistas, produtores, realizadores e actores de cinema e televisão, todos os responsáveis de todos os telejornais, quase todos os jornalistas, a maioria de criadores de videojogos enfim, toda esta gente que constantemente nos explica como se praticam os crimes mais abjectos.
Acho até que ainda me estou a esquecer de muita gente.

2004-09-08

Nacionalidade por interesse

Contou-me quem sabe do assunto, que até ao início do século XX havia 4 aldeias da região raiana de Montalegre que mantiveram um estatuto singular: não eram portuguesas nem espanholas ou, se quiserem, eram portuguesas e espanholas simultaneamente.
Os cidadãos dessas 4 aldeias tinham o privilégio de poder escolher a sua nacionalidade, logo que atingissem a maioridade.
Segundo reza a história, o padrão normal consistia em todas as famílias procurarem ser multinacionais, ter filhos que optavam alternadamente pela nacionalidade portuguesa e espanhola, porque pensavam conseguir assim obter o melhor dos dois mundos e garantir de facto a independência relativamente às duas nações.
Neste caso, tornavam-se portugueses e espanhóis precisamente porque não queriam ser nem portugueses nem espanhóis.
A nacionalidade era uma mera questão de interesse.
Finalmente os 2 Estados não suportaram mais esse estatuto ambíguo e, actualmente, duas dessas aldeias são espanholas e as outras duas portuguesas.

2004-09-07

Dogville

A Filipa, do Tomara que Caia, diz que até acha que gosta do filme mas que sente o Sr von Trier a gozar com ela e a delirar com isso.
Percebo muito bem a sensação e as dúvidas
Penso que tocou num ponto chave, o Sr van Trier, de facto, tem o condão de perturbar o pessoal:
O Adriano, meu colega de blogue e meu filho, recusa-se a ver von Trier desde que viu “Os Idiotas” e se sentiu gozado.
Sonhei que a Praia, num poste perdido dizia que detestou Dogville, e considerou o filme profundamente maniqueísta. Como o filme me parece tudo menos maniqueísta, ao pretender reler esse poste para aferir das razões do Ivan, procurei nos arquivos da Praia mas não o encontrei, será que sonhei mesmo ?
Para mim, “Os idiotas” deixaram-me uma sensação ambígua, “Dancer in the Dark” e “Dogville” considerei sublimes.
Considero-os, ainda assim, 3 filmes perturbadores.
A dúvida que coloco é a seguinte:
Será que Sr. Von Trier conhece todos os botões que controlam as nossas emoções e se entretém a manipulá-los para nos condicionar a seu bel-prazer e a gozar connosco, como muitos sentem, ou estará tão atarantado como nós e limita-se a tentar mostrar as suas inquietações e fantasmas que, por acaso, são os mesmos de muitos de nós, ainda que não consigamos desenterrá-los por nós próprios ?

2004-09-06

Passeio diário

No meu passeio diário pelos jornais "on line" deparei, hoje, no público com 3 artigos de opinião que despertaram o meu interesse:
O primeiro, denominado "No Reino da Traulitânia" demonstra como muitos dos nossos políticos, inclusive do nosso governo conseguem pintar uma imagem do nosso país ainda mais atrasado e retrógrado do que a realidade dos factos demonstra. Foi esta emissão emitida por um Investigador de Ciência Políticas cujo nome o Público se esqueceu de nos revelar, presumo que seja uma crónica caída do céu sobre a redacção do Público.
O segundo, logo a seguir, do Professor Pio Abreu, denominado "O Subjectivo e o Objectivo" traça uma interessante reflexão sobre o juízo dos nossos juizes, uma questão que reputo fundamental para se perceber o estado a que chegou a nossa justiça.
O terceiro de Eduardo Prado Coelho de seu nome "105 anos" fala-nos da lucidez dos 105 anos de Emídio Guerreiro, figura notável.
E se entrarem por aí, já agora também podem espreitar a carta do leitor Isolino Braga de Portalegre, que também tem a sua graça.
Qualquer deles sugerem alguma reflexão e numa penada, 3 artigos com interesse, não é todos os dias que se vê.

2004-09-04

Receita caseira

Na sequência dos meus postes com sentido utilitário como aquele que em tempos fiz sobre o correcto uso das ferraduras (ver arquivos: 30/05/2004 – “Ferraduras”), vou deixar-vos aqui uma nova receita, muito útil em fins de semana chatos:
Depois de um bom almoço, ou jantar, estire-se no sofá em frente da televisão, acomodando-se com o apoio de algumas almofadas.
Ligue a dita TV. Isto resulta com diversos canais mas na minha experiência a SIC é das que produz melhores resultados, sintonize pois o aparelho na SIC.
Feixe os olhos e deixe-se envolver por aquele ambiente de fundo.
Em poucos segundos, cairá nos braços de Morfeu, e, na maior parte das vezes, terá sonhos lindos.
Comigo resulta quase sempre.
Ainda dizem que a programação da TV não presta !

2004-09-02

Há quem entenda assim a liberdade

Acabei de ouvir a um dirigente do CDS-PP:
A liberdade de expressão é um valor fundamental que temos que preservar, assim não toleramos que se manifestem, deste modo, opiniões hostis à nossa, constringindo-nos e contrariando a nossa legítima liberdade de expressão.
Até parece que tem lógica.

2004-09-01

Comentário a um poste

A simpática papoila, no passado dia 30, postou o seguinte no seu blogue:

O Secretário de Estado dos Assuntos do Mar

é, basicamente, um cagalhão com olhos

Senti falta dos comentários no seu blogue, terei que o fazer aqui:
Com olhos ? Papoila
Se o SEAM tem olhos devem ser cegos ou muito amblíopes.

2004-08-31

Portugal pequenino

Ah, como tens enfrentado com firmeza aquele novo Adamastor, mascarado de women on waves, que ousa querer mandar no mar que é teu.
É a nossa soberania carago, diz Thomaz, o homem atado ao leme pela vontade do grande Ministro do Mar.
Continua assim que vais longe:
Valente e arrogante com os cordeirinhos.
Cobarde e submisso com os lobos.

2004-08-29

Nacionalidade por opção

O meu amigo Bernard Ehrwein é francês de gema e habita na Provença.
Mas um Francês de apelido Ehrwein, ainda que este nome signifique qualquer coisa como “vinho de honra” aludindo a um dos símbolos de França, está muito longe de um “vin de honneur”, não é comum, soa e é alemão.
Acontece que os ascendentes próximos de Bernard vieram daquela região raiana, chamada Alsácia, que ao longo da história da Europa tem sido ora alemã ora francesa. Foi um avô de Bernard que se sentindo francês de corpo inteiro, fugiu para a a Provença para nunca mais ser alemão.
Todavia Bernard contou-me que na sua infância provençal era muitas vezes considerado e tratado como alemão pelos seus colegas de escola, ao que ele lhes respondia algo como isto:
- Sou mais francês que vocês, porque vocês são franceses por acaso, porque nasceram de pais franceses. Eu sou francês porque o meu avô escolheu e alterou a sua vida para que ele e os seus descendentes fossem sempre franceses..
Por isso, para este meu amigo é precisamente o seu apelido alemão Ehrwein que o torna mais francês e não tolera que ignorem ou lhe troquem o “h” como os outros franceses têm tendência a fazer.
Embora com contornos diferentes, sob este ponto de vista, Obikwelu é mais português do que todos nós, precisamente por ser um português por opção e por ser chamado Francis Obikwelu como mais nenhum.
Mas há mais pontos de vista e voltarei ainda ao assunto.

2004-08-27

Olhei para ele meio desconfiado

O nome era mais do que suspeito: "O escândalo na Casa Pia".
Comecei a ler os primeiros postes, que me pareceram bem, embora continuasse sempre com um pé atrás.
Que raio de interesses ocultos estará a servir este aluno 10388 ?. Que personagem do espectáculo representa ? Que papel desempenha este novo(?) personagem ?
Os dia foram passando, os posts sucederam-se e as mensagens mais lúcidas que já li sobre a realidade da Casa Pia começaram a tomar forma real, sem máscaras, sem cenários e sem música de fundo.
As dúvidas desfizeram-se: este é, sem dúvida, um blogue a ter em atenção.
Uma só nota me deixava ainda incomodado: o aparentemente irracional e permanente ódio aos panascas, mas depressa me pareceu compreender que para o autor do blogue este termo tinha uma carga bem precisa que não se referia à homossexualidade em geral.
Pareceu-me uma dicotomia semelhante à daquele jovem brasileiro justiceiro que matou dezenas de criminosos mas dizia sempre: eu não mato bandidos e assassinos só por o serem, não, eu só mato "almas sebosas" e explicava:
Por exemplo, se há um pai de família que passou uma vida desgraçada para acumular umas migalhas, e tem agora uma velhice humilde que conseguiu conquistar, com a sua mulher, um teto pobre, uma televisão que o ajuda a passar o tempo e que comprou com muito sacrifício e umas míseras economias para qualquer doença, e vem um bandido que num momento lhe rouba a televisão e as economias de uma vida, esse bandido é "uma alma sebosa".
Eu percebi muito bem o que ele queria dizer

2004-08-26

Ainda a propósito de Francis Obikwelu

Enquanto aguardo por nova medalha, gostaria também de opinar sobre a questão que tem interessado muitos blogues assim como muita comunicação social.
Nota-se que os média e a opinião pública têm tendência a considerar um português naturalizado como uma espécie de português de segunda.
Do Francis, que alimenta o nosso orgulho, exultamos sim, mas com o gosto amargo de que não é um português genuíno, não comeu bacalhau e não ouviu fado em pequenino e traduzem, com frequência, esta duplicidade, chamando-lhe frequentemente luso-nigeriano.
Eu reconheço que a situação não é líquida. Não a situação jurídica que é claríssima e inequívoca, neste domínio, Francis é português, tem de pagar os seus impostos ao Estado Português, é elegível e eleitor em Portugal. Não é também a questão do coração, pelo contrário, tenho-lhe ouvido declarações até um pouco agastadas relativamente aos jornalistas que lhe negam esse estatuto de português de corpo inteiro.
A questão que coloco vai um pouco mais além e resume-se a isto: O que é, de facto, um português ? ou um francês ou um chinês ?. Quais as qualidades que definem a verdadeira pertença a um determinado povo ? ou será que a questão de ser português é mesmo relevante ?
Por agora, limito-me a colocar a questão, em futuras crónicas irei deitar mais achas para esta fogueira.

2004-08-25

O Senhor, para engenheiro, é muito estúpido

E desliga-me o telefone.
Foi isto que acabei de ouvir de uma menina, com voz de máquina, em resposta à minha recusa a ir buscar um cabaz de compras que ela “gentilmente” me oferecia.
Sendo MBA, estou familiarizado com a noção de “marketing” agressivo mas não sabia que este, agora, chegava ao ponto do insulto ao “prospective buyer”.
Estúpido sei que não sou, mas desactualizado é óbvio que sim.
Colega Carrapatoso, por favor, desculpa as minhas reticências a ser tratado por tu como teu cliente Yorn, tenho de reconhecer que é uma caturrice ridícula.

2004-08-24

Percepção selectiva

É um fenómeno conhecido da psicologia e que se traduz facilmente naquele verso da conhecida canção de Simon e Garfunkel “The Boxer”: “All lies and jest, still the man hears what he wants to hear and disregards the rest”
Como sou humano, consciente de que aquele princípio também se aplica a mim, eis o que eu ouvi neste final do Benfica-Aderlech e no princípio das notícias que se lhe seguiram:
Diz um comentador:
- Luis Felipe Vieira abandonou o campo face a este desastre financeiro !.
Eu a pensar que estávamos a ver um jogo de futebol..
Logo a seguir do outro comentador, com ar feliz, por estar a cumprir bem a sua missão:
- Vai voltar o calor e o tempo seco e com isto os incêndios. Vamos já dizer-lhes os incêndios que já estão por aí !
Termina o jogo e começam as notícias:
O barco dos abortos vem aí, 2 comentadores em directo. Diz um, exaltado:
- Não se devia deixar atracar este barco ...
Tenta dizer a outra comentadora com um ar felicíssimo e sempre interrompida pelo primeiro.
- Não, é fundamental que este barco venha. Logo a fórmula de resposta às interrupções: deixe-me falar que eu também o ouvi calada, quando falou.
Logo o “pivot” acaba com o debate e passa para os esperados incêndios e para o facto de Portugal ser o último da Europa em poder de compra..
Foi isto que ouvi, imaginem como fiquei esclarecido.
É claro que a culpa deve ser minha, eu é que não consegui ouvir o essencial.

2004-08-22

Obrigado Francis Obikwelu

A medalha é tua e só tua.
Obrigado por teres optado partilha-la connosco e por teres decidido correr o estádio com o nosso símbolo nacional.

Tempo dos ciganos

A única longa metragem de Emir Kusturica que me faltava ver era o “Tempo dos Ciganos”.
A restante obra do autor criou-me grandes expectativas sobre este filme. Há já muitos meses, quando procedia aos habituais “zapings” televisivos parei no canal Holliwood seduzido por imagens e música belíssimas, eram os minutos finais do “Tempo dos Ciganos”.
A partir daí mandei e-mails para o Hollyood pedindo a repetição do filme mas não tive resposta, comecei uma busca desesperada pelo seu DVD, em tudo quanto é loja real ou virtual, em Portugal e no estrangeiro mas, estranhamente, parece-me que procurava e procuro ainda um fantasma.
Graças à Consuelo, no Pep`R`us, tomei conhecimento de que o filme ia passar no estádio do INATEL, dia 20 de Agosto e foi assim que apenas ontem consegui, finalmente, ver o filme.
Não me desiludiu, nem um pouquinho, é incrível como ninguém o edita em DVD.

2004-08-19

As cassetes

Tenho seguido esta história das cassetes roubadas do Correio da Manhã, com uma atenção semelhante à que presto às mensagens nos maços de tabaco: de vez em quando olho.
Bom, esta história, de facto, não precisa requerer a minha atenção, entra-me pela porta dentro sem me pedir autorização, e percebi, vagamente, que houve cassetes gravadas com chamadas telefónicas de um jornalista do Correio da Manhã a diversas entidades de alguma forma associadas ao caso Casa pia. Percebi também que o conteúdo dessas cassetes foi digitalizado e um resumo dos ficheiros foi distribuído, pressuponho que pelo ladrão, a toda a gente menos a mim. Sei que daí nasceram grandes confusões, que um Director Geral foi posto na rua ou saiu voluntariamente, sei também que o Independente publicou transcrições desses ficheiros de som.
Hoje ouço a notícia, sem qualquer explicação adicional, que o correio da manhã tinha destruído essas cassetes ou o seu conteúdo e que isso era péssimo porque já não se podia estudar a validade dos ficheiros digitalizados entretanto feito pelos ladrões.
A minha questão é a seguinte como é que o Correio da Manhã tinha as cassetes que lhe foram roubadas ? Será que eu perdi essa parte crucial da informação ?Certamente que toda a gente já sabe isto e me vai chamar distraído mas na verdade, até que me expliquem, está tudo a parecer-me muito mal contado.

2004-08-18

Os media e os jogos Olímpicos

Nesta fase dos jogos onde pontuam as modalidades verdadeiramente amadoras, a RTP faz mais ou menos isto:
- Trazes medalha ?
- Não
- Aida podes trazer medalha ?
- Já não, estive quase, não fosse uma ....
- Isso não serão desculpas ?
- Não, não eu até vou ainda esforçar-me.
- Ora !
E rematando para o público, tal desalmado fiscal de impostos:
- O judo, desta vez não foi capaz de contribuir com nenhuma medalha.
E é assim, não há medalha logo, são uns merdas.
Isto a propósito do judo, a modalidade que pratiquei mais ou menos a sério na minha juventude, pelo menos fui, como se diz, atleta federado.
Com os meus 12 ou 13 anos fui seleccionado para o Campeonato Europeu de Esperanças, recebi a carta da federação com enorme orgulho, mas, havia um mas, tinha que entrar num estágio de 15 dias com treino intensivo umas 8 horas por dia, ou seja, deixar a minha rotina, que já não sei qual era, mas que muito me agradava e, apesar das boas intenções, não fui ao estágio, que se lixe !
Passado o período de estágio, recebo nova carta da federação a convocar-me para um torneio de selecção para ir aos ditos campeonatos, era uma nova chance.
Lá entrei no torneio. No primeiro combate sai-me um adversário com quase o dobro do meu peso.
De notar que no judo, nesse tempo, dizia-se que o peso não interessava, o “caminho da suavidade” consistia precisamente em por a força do adversário a nosso favor.
Sempre me pareceu que era uma treta, e hoje os regulamentos parece que me dão razão porque criaram categorias divididas por pesos, quase quilo a quilo.
Os combates eram de 2 minutos, dirão que é como tomar um copo de água, mas, na realidade, não é, são 2 minutos que esgotam todas as nossas forças até ao ponto do desfalecimento.
Foi sempre o meu ponto fraco, não aguentava os 2 minutos, na excelência da minha técnica, nem lá próximo.
Foi assim o meu combate: um primeiro minuto de alta técnica em que só por azar não derrotei o gordo que era o meu adversário, um segundo minuto penoso, em que tentei apenas não desmaiar.
A vitória foi atribuída ao gordo por decisão do júri mas, mesmo assim, a decisão não foi unânime, houve um dos 3 júris que achava que o combate era meu.
Este voto, no apuramento para o Campeonato Europeu de Esperanças de 1962 ou 1963, é a minha coroa de glória desportiva. Os meus netos hão de conhecer esta proeza do seu avô.
Voltando aos actuais Jogos Olímpicos, segui pela rádio e só pela rádio, porque ao correr para a TV vi que estavam a dar tudo menos o judo que interessava.
O percurso de Telma Monteiro foi notabilíssimo, só foi derrotada há beira dos quartos de final por uma francesa de muito maior gabarito e, mesmo assim só após prolongamento, porque nos 5 minutos olímpicos o júri não foi capaz de decidir. Depois foi repescada mas, já estava esgotada e mentalmente derrotada, perdeu com uma adversária inferior. Os seus momentos de glória, de força e de sacrifício foram com a francesa onde deu tudo por tudo.
Com João Pina aconteceu quase o mesmo, e, no dia seguinte com João Neto. Ontem, o já medalhado Calado, muito diminuído, com 3 dedos quase partidos, não passou do primeiro combate.
Para mim foram todos uns heróis que honraram o nosso país.
Para a RTP foram uns merdas que não contribuíram para as medalhas.
E é esta mensagem que fica para todos os desportistas de sofá cujo maior esforço conhecido é agitar a bandeira e gritar POR- TU-GAL.

2004-08-17

Buba 2

O Buba, gentilmente, agradeceu o meu “post” no seu “blog”.
Obviamente gostei e até gostaria de desenvolver sobre as suas simpáticas palavras, mas como penso que todos os mecanismos do deita flores para cá que eu mando mais para lá só banalizam o que queremos dizer, limito-me a terminar como ele:
Vamo-nos encontrando por aí.

Indisponibilidade

Imaginem que um velho amigo vosso, daqueles que está em todos os jantares, que frequenta a casa com assiduidade, sem razão aparente, vos diz um dia:
- Eu, vou continuar com outros amigos mas à tua casa já não vou mais, pensei muito bem e tomei esta resolução.
Que pensariam vocês ? A mim caia-me mal, muito mal.
Mas é isto que tenho ouvido de vários jogadores de futebol no activo relativamente à selecção nacional. Cá e até em França como aconteceu recentemente com Zidane. Os média esperam até, com ansiedade, essa grosseria que dizem será assumida por Figo muito brevemente.
Então como é ? Sirvo ainda para jogar nos clubes mas servir na selecção não obrigado.
E parece que toda a gente acha isto normal ! Para mim é uma torpeza que demonstra uma arrogância desmedida. É óbvio que o que apetece responder é que nós é que não os queremos mais, seus filhos da puta.
É este facto, para mim, tão insólito, que me interrogo sobre a sua motivação. Só vejo uma:
Estando em fim de carreira, antes de passar pela humilhação de não ser convocado, deixa-me dizer que sou eu que não quero. Enfim, esperteza saloia.
Bom, mas como tudo isto parece ser encarado tão bem, deixem-me usar o mesmo tipo de esperteza, e deixar já aqui, publicamente a minha declaração solene:
Saiba a Selecção Nacional de Futebol que eu não estou disponível para ser seleccionado, bem podem suplicar de joelhos que eu não vou lá, já disse, é uma decisão tão irreversível como a de Santana Lopes de abandonar a política, não vou e pronto.
Agora se não me chamarem já sabem por que foi.

2004-08-16

Trabalho estimulante

Leio:

"Within the scope of article 36 of the Treaty, State aid intended to provide additional finicing for rural development measures for wich Community support is granted, shall be notified by Member States and approved by th Commission in accordance with the provision of this Regulation as part of programming refered to in Article 15. The fist sentence of Article 88 (3) of the Treaty shall not apply to aid thus notified"

Interrompo momentaneamente a leitura para confidenciar no "blog" o sentimento que me invade: Ai como é bom analisar propostas de Regulamentos Comunitários !.

2004-08-14

Podia ter sido escrito ontem

O partido não é mais do que um Estado dentro do Estado, e nesse pequeno Estado de abelhas deve haver “paz”, como no grande. São precisamente aqueles que mais reclamam uma oposição no Estado os que mais se insurgem contra qualquer divisão no partido.

De novo, Max Stirner: “O Único e a Sua Propriedade”

2004-08-13

Buba

Começa a passar-se com os blogues o que se passa com tudo neste mundo global, já vão sendo muitos, mais do que as mães, já não há capacidade de processamento e começo a ter a sensação habitual de que estou a perder o melhor porque, como em todos os casos, o ser-se mais badalado não é nenhum sinal de qualidade.
Entretanto, nesta versão do meu blogue, não tenho linques; não que não os queira mas apenas porque ainda os não sei colocar e se, por qualquer acaso desta misteriosa "máquina divina" que é a "net", eu me visse forçado a colocar apenas 1 linque, não tenho qualquer dúvida sobre qual seria: O Buba.
É um blogue riquíssimo e notável. É lento no seu rítmo, mas prescutu-o diariamente, ansioso e, de vez em quando, lá surge uma crónica nova, geralmente longa, que nunca me desilude, são sempre, sempre "pérolas".
É notavelmente bem escrito, com rigor, profundidade e algum humor, ainda que por vezes temperado com alguma melancolia.
É livre e não admite censuras de nenhuma espécie, nem mesmo as mais poderosas que estão dentro de nós.
E escreve lucidamente sobre tudo o que o preocupa, seja este triste mundo e esta triste actualidade em que vivemos, sejam memórias longíquas daqueles factos, aparentemente simples e desinteressantes que todavia nos marcam a vida e, o mais espantoso é que o lemos e percebemos porquê, conseguimos ver aquilo que as palavras não conseguem dizer e apenas o coração ou o cérebro percebem. Tem a dimensão da arte.
É neste aspecto que mais gosto do Buba, porque tenho a noção clara de que a nossa ideosincrasia é construída a partir de um somatório de pequenas referências, pequenos episódios que vivemos, pequenas frases que lêmos ou ouvimos em determinado momento e que se transformam em grandes e sólidas pedras que utilizamos na construção de nós próprios.
Mas essa transformação é feita, por vezes, por subtis razões: porque tocava aquela música, porque a luz incidia de determinada maneira, porque o episódio determinante se relaciona com um outro ou outros insignificantes e de que já nos esquecemos, cuja função foi apenas a de realçar aquele que se tornou determinante.
Quando tentamos descrever essas experiências a alguém, sem a música e sem a luz, torna-se difícil que nos compreendam na plenitude, o Buba, no entanto, consegue sempre transmitir tudo isso, pelo menos a mim.

2004-08-12

"The Glory road"

“Quem para nada tem jeito vai para Direito”, referiu, com humor, Mário de Carvalho, numa entrevista a Ana Sousa Dias.
Eu acrescentaria: e daí para para Director Geral e para o Governo.

2004-08-11

Charadas

I9 é claramente inove
K7 não pode ser outra coisa diferente de capacete, isto independentemente de ser pirata ou não

2004-08-10

A Democracia é o pior sistema tirando todos os outros

Ora aqui está uma frase, penso que proferida por Churchill e que de tempos a tempos é citada pelos nossos analistas políticos.
Mas é uma frase perigosa, não obstante a sua aparente eloquência, não serve para mais nada que não seja rebater liminarmente qualquer crítica ao sistema, de forma alarve e panfletária, sem qualquer fundamentação e "justificar" todos os abusos ditos democráticos:
- É mau e injusto, certamente, mas o que se há de fazer, não existe sistema melhor.
Eu responderei:
- Há sim, há sempre sistema melhor, tu, que dizes isso, é que talvez fiques pior.
E depois, chama-se democracia a tudo o que tenha votos. Até Salazar construiu em Portugal uma democracia, como dizia a Constituição de 33, se bem me lembro da velhinha OPAN: uma democracia orgânica ! e até tinha votos.
Aquela, claramente, não servia mas a nossa democracia actual também ainda deixa muito a desejar.
Consideremos um pequeno exemplo para reflexão:
Eu disse, uns postes abaixo: "Quando for grande quero ser Deputado da Nação" mas bem posso esperar sentado e contentar-me em ser deputedo como o amigo do meu amigo citado no comentário ao mesmo.
Pois é, ainda que pertença inequivocamente ao "demos" não me deixam sequer submeter-me a votos, a não ser que me filie numa dessas coisas a que chamam partidos, ou seja, a não ser que eu deixe de ser e de pensar como eu. E esta hem ?

2004-08-09

Os “boys”

De tempos a tempos, desde o primeiro Governo de Guterres, ouve-se periodicamente falar dos “boys”, nomeados aos milhares por essa administração pública fora, encarnando a crescente mediocridade que a domina.
E são de todos os tipos, jovens, menos jovens, homens, mulheres, competentes até, muito poucos, (os mais perigosos) e mais ou menos totalmente irrelevantes a maioria, nem bons nem maus, tentam manter-se sem fazer muitas ondas.
Mas há um equívoco que urge esclarecer, não são, como a maioria dos média quer fazer crer, parceiros de partido, podem-no ser mas não é esse o factor determinante, são simplesmente os amigos, da tasca e dos copos nalguns casos, das exposições e concertos noutros casos, das férias conjuntas e das visitas mútuas ou simplesmente velhos colegas de escola e de antigas aventuras.
A fidelidade partidária pode ser um meio que facilite a nomeação mas nunca é um factor determinante.
Na realidade já ninguém quer saber do partido em si ou da sua ideologia, o que é isso ? e dá tanto jeito responder a quem ataca quem os nomeou: que não, que não são “boys”, a maioria até é independente e muitos até são da oposição.
Serão, sim senhor, mas ainda assim, na verdade, não deixam de ser “boys”.

2004-08-08

Crise criativa

Há dias em que fervilho de ideias que me parecem dignas de ser “postadas”, outros em que tudo me parece sem interesse, enfadonho e descabido..
Como não sou formiga não tendo a guardar do Verão de fartura para a o Inverno intelectual.
Estou num momento de crise criativa, mas como sou português consegui desenrascar-me, precisamente através de um link delicioso para uma entrada da Wikipedia, uma enciclopédia digital, que discorre seriamente, embora em inglês, sobre esse portuguesíssimo conceito do desenrascanço.
Ora façam o favor de ler: fica aqui.

2004-08-05

Quando eu for grande

Quero Poder lutar pela prosperidade e bem estar do meu povo.
Quero ser Deputado da Nação.

2004-08-04

É tão confortável

Termos os nossos valoresinhos arrumados na cabeça:
Touradas não, é muito cruel para os pobres animais. Sado-masoquismo ? para mim não, mas entre adultos livres e esclarecidos porque não, eles lá sabem ? e não tenho pachorra para me questionar sobre a natureza do touro, se não será na luta que ele prefere morrer, já tenho a resposta, claro que não, o pobre animal é como eu ou um rato ou uma barata ou qualquer outro animal, o que quer é que não o incomodem.
A maternidade é uma função sagrada, qualquer mulher, Búlgara ou não, miserável ou não que vende o seu filho à nascença por 10 000 Euros é uma miserável desnaturada, Tirem-lhe os 10 000 Euros, se não há leis façam-nas, e deixem-na voltar para a sua miséria, vá trabalhar ou encerrem-na numa masmorra. O casal que compra a criança devia ter mais juízo, não faça isso outra vez. A criança “who cares” ? Volta para a mãe legítima, é claro. O quê ? para a miséria ? para a masmorra ? Ora, não encham a minha cabeça de confusão, dêem apoio psicológico a essa mãe doente.
É preciso é a retoma rápido, venha a minha promoção, já há dois anos que não tenho umas férias decentes. Há desemprego ? ora, a economia em estimulando vai empregar toda a gente com certeza, menos os preguiçosos que não querem trabalhar, só querem viver à custa dos subsídios que eu pago com os meus impostos, vão trabalhar malandros, eu não lhes arranjo emprego, era só o que faltava, mas a retoma vai resolver todos os problemas e se não o faz devia, é porque vocês não votam nos que merecem.

2004-08-03

Sabedoria popular

Sábado, regressados das compras domésticas, acabados de nos estirar frente à toda poderosa TV, ouço a minha mulher murmurar:
- Céu cavado aos 3 dias é molhado.
- O quê ? pergunto eu, que não esperava, naquele momento, aquela tirada insólita.
Ela repete e explica que dizem no Alentejo que quando o céu está cavado, isto é, coberto de pequenas nuvens formando uma espécie de ondulação, passados 3 dias chove.
Fui à janela e confirmei o que ela queria dizer: o céu estava cavado, recorri ao teletexto da tv a verifiquei que no norte do país poderiam ocorrer aguaceiros mas nada para Lisboa onde se esperava a continuação do Verão radioso.
Hoje, enquanto almoço, olho pela janela e vejo cair a chuva, ora leve ora de forma mais intensa. Aquele episódio voltou-me à memória. Telefonei para a Fátima e confirmei: a conversa do céu cavado foi no Sábado, passou Domigo, Segunda, Terça e zás, o dia está molhado.
Foi uma feliz coincidência, claro, mas contribuem para alimentar as minhas dúvidas:
Dizem que o clima está a mudar pela acção humana. Será ? ou é a nossa vida que é demasiado curta para compreender os ciclos cósmicos que a memória colectiva ainda vai conservando ?

2004-08-02

A menina do anúncio do Actimel

É um pouco como eu, também não tenho nenhum feitio para estar doente.

2004-07-31

Noite dos bombos

Uma zona autónoma temporária, no sentido de Akim Bey, que se repete anualmente desde há vários anos e onde a generalidade das regras comuns são momentaneamente esquecidas.
Não se pode descrever, apenas viver, é única.
Foi ontem em Mirandela, repetir-se-á no próximo ano.

2004-07-30

Manuel Alegre

Mais um candidato à liderança do PS entrevistado por Judite de Sousa.
Com este não brinco, tenho-o por homem sério, com um percurso de vida notável ao serviço da sua razão temperada com uma notável sensibilidade poética..
Apenas lamento que no seu discurso permaneça a fidelidade ao fantasma denominado esquerda, sempre ocupado na luta contra o outro fantasma chamado direita e com uma fé inquebrantável noutro fantasma chamado "democracia".
Enquanto se degladia com fantasmas outros irão manipular instrumentos de carne e osso e tudo continuará com Manuel Alegre no Olimpo, respeitado sim, mas significando nada.

2004-07-29

Mensagens

Já nem reparo naquelas mensagens doentias que a lei manda pôr nos maços de cigarro.
Ontem porém, reparei numa mensagem, para mim, nova que dizia o seguinte:
“O fumo contem benzeno, nitrosaminas, formaldeído e cianeto de hidrogénio”
Creio que pouca gente sabe interpretar o significado profundo da presença dessas substâncias no fumo do tabaco mas conhecendo o objectivo desmobilizador dessas mensagens, presumo que serão tudo venenos de alto calibre.
Só uma coisa me sossegou: pelo menos o fumo parece não conter os tenebrosos bífidos activos, os glutões verdes ou o sinistro ómega 3 que estão presentes noutros produtos que se vendem impunemente no mercado.

2004-07-27

Não suporto mais

Ver ler e ouvir minutos a fio em todos os noticiários imagens do meu país a arder.
Ver ler e ouvir as estafadas explicações sobre a falta de limpeza das matas, as beatas deitadas dos carros e os foguetes das festas de aldeia.
O fogo faz parte do ecossistema mediterrâneo mas não é deste fogo ou destes fogos naturais que estamos a falar, o que vejo leio e ouço é um triste holocausto ao deus capital da indústria dos fogos, é outra escala, é outra coisa, não tem nada a ver.
As limpezas de mata, os foguetes, os cigarros (estes então têm as costas larguíssimas, conheço estudos que demonstram que é muito difícil atear um fogo em restolho seco com uma beata a arder, como sabe aliás quem já acendeu uma fogueira) aumentam o risco numa percentagem mas são incapazes de multiplicar por 5 ou por 10 a dimensão dos incêndios a que assistimos: estamos numa escala de loucura.
Não é preciso investigar para saber que fogos nesta escala, articulados, organizados, com várias frentes colossais, concentrando-se sucessivamente em zonas específicas a massacrar não nascem na natureza.

2004-07-26

Contradições

Gosto de coisas que sei que não prestam e não gosto de outras que sei que são boas.

2004-07-24

Sexta-feira negra

Para além de Paredes, como muitos blogues assinalam, morreu também ontem Serge Reggiani.


Também Sacha Distel nos deixou ontem, embora este me diga muito pouco.

2004-07-23

João Soares tem a solução

Acabei de ver a entrevista de Judite de Sousa a João Soares como candidato a Secretário geral do PS.
Retive que João Soares tem uma ideia firme: defender o direito das mulheres, com ele o Governo terá 50% de mulheres.
Comprometeu-se mesmo nesse propósito com o povo português.
Penso que esta é a resposta correcta a Santana Lopes que colocou apenas algumas “santanetes” no Governo.
Com João Soares podemos estar certos que teremos um Governo cheio de “joanetes”

Está descoberto o mistério

O critério para a desconcentração do Governo parece que é o da residência dos Secretários de Estado a deslocar que assim, aliás, não se deslocam, permitindo-lhes continuar a tomar a bica no café habitual e ter o prazer de ouvir o Sr. Fonseca perguntar:
-         Quer a chávena escaldada Sr. Secretário de Estado ?
Os assuntos de Estado são deste modo tratados com muito mais amor e carinho.
É a tão desejada humanização da infernal máquina da governação.

2004-07-21

O nosso novo Primeiro Ministro

O nosso novo Primeiro Ministro tem um pequeno problema: espalha-se um bocadinho, quero dizer espalha-se um bocado, enfim, espalha-se muito, pronto, é a cada passo, já disse.

2004-07-20

A minha Pátria é a Língua Portuguesa

Vou-lhes contar uma pequena história passada em Szczecin, no Noroeste da Polónia, mais precisamente na chamada Pomerânia.
Para um ou outro leitor menos familiarizado com o polaco adiantaria que o SZ se pronuncia mais ou menos como X em português, o CZ como TX (ou o CH transmontano) e o C como TS. Com estes pequenos rudimentos de informação penso que se torna pronunciável aquele arrazoado de consoantes que denomina a cidade de Szczecin.
Acabado de fazer o meu “check in” num hotel de Szczecin, telefono à minha mulher para lhe dar conta de que estava vivo e bem e, quando termino esta chamada, sou surpreendido pela simpática e bonita recepcionista que me pergunta com toada brasileira:
Fala português ?
Logo lhe disse que sim, naturalmente, dado que até era português como constava no passaporte que ele tinha acabado de consultar. O surpreendente mesmo é que ela o falasse com fluência, sendo polaca.
Logo me contou a história da sua vida, vivida parcialmente no Brasil, história essa que não obstante o seu interesse é totalmente irrelevante para o que quero dizer aqui.
O que importa é que desse momento em diante passei a ser VIP naquele hotel e era um imenso prazer, no meio dos franceses e polacos que me acompanhavam, poder ter aqueles momentos de privacidade no meio do público.
Mais do que a comunicação privilegiada que pude estabelecer o mais importante, para mim, foi a comunicação que se deixou de estabelecer com os meus companheiros, permitindo-me, pela primeira vez, estabelecer uns momentos de comunicação exclusiva, reservada e íntima.
Nestas férias que acabei de passar, durante o EURO, o local transbordava de estrangeiros das mais diferentes origens e muitas vezes tentei adivinhar curioso que comentários teceriam aqueles Suecos, Dinamarqueses ou Noruegueses, dado que nem esse pequeno segredo consegui desvendar ao certo.
Por outro lado o inglês que se ouvia por todo lado era transparente incapaz de esconder qualquer segredo, nunca aqueles anglófonos poderão sentir aquele pequeno prazer que eu senti em Szczecin.
Foi então que se me tornou mais clara a expressão de Pessoa que coloquei em título, a língua é de facto muito mais do que um código de comunicação está mesmo na essência da nossa identidade.
Tive então alguma pena dos ingleses, americanos etc pelo enorme esforço que fazem para dar a sua língua a todo o mundo mas, ao fazê-lo, é um pouco da sua identidade que oferecem também e que vão perdendo para si.

2004-07-19

... Liberdade Política:

Que devemos entender por esta expressão ? A libertação do indivíduo em relação ao Estado e as suas leis ? Não, pelo contrário: a sujeição do indivíduo ao Estado e às suas leis. Porque razão se fala então de liberdade ?...

Max Stirner - “O Único e a Sua Propriedade” (finalmente uma edição em português, graças à Antígona)

2004-07-18

Ninguém viu

A dança dos nomes dos ministérios atraíram algum interesse da comunicação social.
O espanto de Paulo Portas por saber, no exacto momento da posse, que era ministro não só da defesa mas também dos assuntos do mar, foi amplamente comentado. Quem discutia se era a baleia ou o tubarão branco o rei dos mares desiluda-se, agora o rei dos mares, que vela por todos os assuntos, é Paulo Portas e, diga-se de passagem, eu acho que é claríssimo que Paulo Portas é bem mais capaz para tratar desses assuntos do que qualquer tubarão pretensioso, foi uma decisão muito acertada de Santana Lopes.
Pacheco Pereira, na Quadratura do Circulo, disse que só uma mudança de nome de um ministério provoca custos desnecessários e uma enorme perturbação na máquina da administração: Está completamente enganado, são essas alterações orgânicas dos ministérios que justificam a máquina pesada da função pública, que se rebola de prazer, por ter qualquer coisa “importante” para se entreter.
Exercer finalmente os seus poderzinhos, rejeitar uma informação, laboriosamente construída, porque no cabeçalho não consta a família e a criança na Segurança Social, como é possível estar-se tão distraído ?
São estas mudanças que alimentam e deleitam “O Castelo”, preenchem enormes tempos de lazer, alimentam anedotas privadas, facilitam lutas contra a hierarquia, permitem remoques sobre a competência ou incompetência dos colegas.
Venham assim estas alterações que transforma uma penosa marcha para a frente numa interessante e divertida ginástica aeróbica ao som da música.
Essas mudanças, todavia, também têm outra função, dão sinais claros sobre a forma como se encara o país e as suas prioridades e é neste domínio que interpreto uma mudança de nome que não perturbou ninguém: a do Ministério da Agricultua Desenvolvimento Rural e Pescas que passa a Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas.
O desenvolvimento rural, segundo pilar da PAC, de importância crescente na Europa, termina a sua lenta agonia em Portugal, já nem no nome fica, é a estocada final, caso não venha a UE trazer algum balão de oxigénio.     

2004-07-17

E agora Nuno ?

A festa acabou ... mas a vida continua.Reinicio o blogue, não com a energia que esperava mas ainda assim com boa vontade e, para já, com uma cara nova.

2004-06-27

Parece que todos acordaram de um sonho

Neste pequeno intervalo nas minhas férias, percorro furiosamente todos os blogs habituais e noto uma ansiedade descabida:
O Abruto demonstra mesmo tendências suicidas.
Parece que o Durão aceita o cargo de Presidente da Comissão !
Parece que Santana Lopes pode vir a ser o novo Primeiro Ministro !
Está tudo maluco ?
Acalmem-se colegas, está tudo na mesma, Portugal também tem direito ao seu Bush, porque não ?
A degradação, mediocridade e incompetência que domina a classe política e dirigente há muito que se instalou em Portugal e não só.
No fundo até é bom que todos vejam depressa as suas verdadeiras cores, talvez seja o princípio do fim, embora receie que ainda haja muito para degradar.
Isto é apenas um passo lógico, na cadeia de motivações que guia esses senhores.
No passa nada.

Mea culpa

Afinal Scolari did it
Não é que a equipa começou a jogar a sério e com vontade de ganhar jogos.
O segredo creio que está num sentimento ou atitude que invadiu o país e chegou à selecção: chama-se entusiasmo.
Eis uma bela palavra que julgo querer dizer qualquer coisa como “possuído por Deus”, mas nestas coisas de etimologia quem sabe é a Charlotte.
Seja como for ele está aí, o entusiasmo, e a manter-se poderemos ir ainda mais longe. Oxalá.

2004-06-15

Blog de férias

Este blog parte para merecidas férias no Algarve esperando regressar cheio de força logo que encontre acesso à net, no máximo dentro de 1 mês ou talvez um pouco antes.

2004-06-13

O desaire com a Grécia

O meu raciocínio sobre esta importante questão nacional é o seguinte:
Portugal tem uma equipa medíocre, provam-no os sucessivos resultados em jogos amigáveis e oficiais de há cerca de 3 anos até aqui.
Isto apesar de ter, também indiscutivelmente, vários valores individuais.
Face a isto a perspectiva para este europeu é frágil, residindo toda a esperança em apenas dois aspectos.
1. A capacidade de Scolari, também indiscutível e de provas dadas, para nos poucos dias de treino conjunto construir uma equipa.
2. O apoio subtil da organização, através, sobretudo, dos árbitros para favorecer a equipa anfitriã, evitando a sua eliminação precoce e o consequente desastre financeiro.
Antes do primeiro jogo desconhecia o que Scolari tinha podido fazer e a escolha do galáctico incorruptível Colina era um péssimo presságio, foi uma infeliz opção da UEFA que confiou o resultado exclusivamente às equipas e ao seu jogo.
O trabalho de Scolari não funcionou e a mediocridade natural da equipa veio ao de cima, perdemos.
Vamos ver com a Rússia, estou confiante no sistema e apenas neste, Scolari já não tem tempo, resta-nos o trabalho do árbitro que tem que nos favorecer e merecemos carago, já fomos muitas vezes prejudicados por esse mesmo factor, isto no tempo em que jogávamos bem melhor e onde o Colina imparcial nos servia bem.

2004-06-12

Pane et circencis

Já chegou o circo, o pão dizem que vem dentro de momentos.

2004-06-11

Reflexões sobre um momento

Acabo de ver o noticiário da RTP da hora do almoço.
Assisto à reportagem sobre o “super bock super rock”.
Uma jornalista interroga uma adolescente sobre o concerto de Avril Lavigne.
A moça responde cantando:

- Don’t even try to tell me what to do; don’t even try to tell me what to say.

Assisto a esta declaração com “mixed feelings”: admiro essa adolescente por se sobrepor à jornalista, no seu minuto de fama, com a emoção proporcionada por essa mensagem sublime que lhe diz: “Sê tu própria”, a mesma mensagem de José Régio no seu Cântico Negro. No entanto, esta concreta mensagem, neste caso parte de Avril Lavigne, que, ao contrário de Régio não faz, nem dá nenhum passo que lhe não seja ditado. E receio que essa adolescente não compreenda a verdadeira dimensão do seu acto.
Nesse momento, telefona o Adriano dizendo que vai ao “Super bock Super Rock” porque a pressão dos seus amigos é muito grande.
Eu também sei que este evento está uns pontos acima do “Rock em Rio”, mas na realidade só uns míseros pequenos pontos.
Resumo assim esta minha reflexão: deixa estes macacos-deuses resolverem as suas próprias contradições, não me cabe a mim mais papel do que o de atirar algumas pequenas achas para a fogueira.

2004-06-09

Autocensura

Tinha para hoje um poste prontinho, sarcástico, mesmo jocoso, sobre as próxima eleições para o Parlamento Europeu onde arrasava, à minha maneira, todos os cabeças de lista.
A trágica morte de Sousa Franco impede-me de brincar e, falando sério, há apenas 2 cabeças de lista por quem nutro algum respeito: precisamente Sousa Franco e também Ilda Figueiredo.
Creio que são ou eram os únicos que levavam estas eleições a sério e que queriam ir para a Europa para , a seu modo, lutar por aquilo que acham mais justo.
Sousa Franco já lá não vai chegar mas fico com grata memória de ver que morreu a lutar até ao fim, ainda que numa luta inglória e inútil.

2004-06-08

O Trânsito de Vénus

Recebi, recentemente, por herança, um velho relógio pendular de sala.
Imagino-me um membro de uma comunidade de bactérias, mais ou menos, inteligentes, com um horizonte de vida de 5 minutos e que vivem no meu relógio.
Uma vez em cada geração o meu povo vai assistir a um fenómeno raro, vai ver o ponteiro de minutos cruzar sobre o traço que está assinalado no mostrador.
Há gerações infelizes que não vêm esse espectáculo, porque nasceram exactamente depois de um cruzamento e morreram exactamente antes do próximo. São gerações raras e notáveis mas vão lamentar essa peculiaridade.
E, dizem os sábios bacterianos que de 6 em 6 gerações alguns afortunados vão assistir a um espectáculo magnifico, uns trânsitos especiais onde se pode ouvir nesse exacto momento uma ou mais intensas badaladas, entre uma e doze dizem, eu não sei bem mas os cientistas do meu povo têm tudo registado.
Há registos históricos de bactérias afortunadas que ouviram 12 badaladas Isto só acontece de 144 em 144 gerações.
E ao longo do caminho do ponteiro dos minutos há vários riscos e pontos de desgaste no relógio (é um relógio já bastante antigo dos avós da minha mulher) que o ponteiro vai percorrer e que as bactérias se apreçam a ver se puderem e se estiverem no lugar certo do relógio.
Eu, neste relógio cósmico, não sendo astrónomo e não me preocupando com a medida da unidade astronómica que ainda tem um erro de cerca de 30 Km que talvez se anule agora, não quero saber do trânsito de Vénus, sei que para o ano, todos os anos, vão haver outros momentos raros, na verdade todos os momentos são raros e únicos porque nunca se repetem mais.
Ainda por cima o trânsito de Vénus nem sequer toca badaladas.

2004-06-06

Equívoco perigoso

O cidadão comum, os media e todos os intervenientes no espectáculo, vêm, cada vez mais, identificando democracia com eleições ou processo eleitoral. Consideram, sem discussão, mais legítimo o poder que deriva de eleições do que aquele que tem outras fundamentações.
Tem sido esta crença discutível e, como tal, permito-me aceitar facilmente quem assim pense, embora discorde.
Começo a preocupar-me quando assisto à sua elevação ao estatuto de dogma, tornando essa questão, precisamente, indiscutível.
Observam-se fortes sinais nesse sentido quando se vê um suposto professor, especialista em democracia, no programa do Jo no GNT afirmar que a antiga Grécia teve grande importância na construção da democracia ao inventar o sufrágio universal !?
Porque livros terá estudado o Sr. Professor ? em que vestígios históricos se terá fundamentado ? Porque de tudo o que vejo e leio, Atenas através de Sólon e principalmente de Clístenes deu, de facto, os primeiros passos na democracia, podemos mesmo dizer que inventou a democracia: o governo fundamentado no “demos” (povo), mas nunca se baseou no sufrágio e muito menos universal.
Atenas fundou uma Democracia Escravista, o “demos” (povo) não incluía mulheres nem a vasta população de escravos que trabalhavam para que o “demos” tivesse o necessário lazer par se dedicar à democracia, não era assim universal, nem por aproximação.Grande parte do trabalho de Sólon consistiu precisamente na tentativa de identificação do “demos” com todos os atenienses machos, limitando a escravatura a estrangeiros.
Na reforma de Clístenes, geralmente considerado como o inventor da democracia, os 500 membros do Conselho (mais ou menos o parlamento) eram sorteados entre todos os membros do “demos” com mais de 30 anos, logo, sufrágio, não havia.
Tinha ainda a “Ecclesia” (assembleia popular) onde todos os membros masculinos do “demos”, com mais de 20 anos participavam.
Portanto Clístenes fez um trabalho notabilíssimo mas não inventou nenhum sufrágio universal, antes pelo contrário, o seu sistema estava mais próximo daquilo a que se chama hoje democracia directa.
A essência do pensamento dos atenienses notáveis que conceberam a democracia, limitava-se à noção de que deve ser o povo a conduzir o seu próprio destino.
Seguindo os ensinamentos destes mestres deveremos compreender que, eleições são apenas um método, entre outros, para operacionalizar a democracia, nunca a sua fundamentação.

2004-06-04

Um poste essencial

Respigado de Bengelsdorf, letra por letra.

Opinião rara
As pessoas já não morrem, existem só as coisas que as matam. Isto não está certo e não me parece bem.
Vincent Bengelsdorf

2004-06-03

Nostalgia

Há dias, participei num excelente almoço, em casa de um amigo, e onde estava também um conhecido gestor da nossa praça, de seu nome Luís.
Em conversa informal, como é próprio destas reuniões sociais, falámos de Portugal e dos portugueses, da situação actual e da tão desejada retoma.
Disse o Luís, a certo ponto:
- Os portugueses, no fundo, no fundo, não querem crescer; na verdade quereriam voltar atrás 30 anos.
Todos nos rimos no momento, mas o que gostaria de ter respondido na altura e que no entanto não fiz, por não reconhecer naquele auditório a estrutura e a solidez mental que espero encontrar nos leitores deste blogue, foi o seguinte:
- não são 30 anos não, são antes 10 000.
Não sei dos portugueses no seu todo, mas sei de mim, e em verdade vos digo que penso que perdemos a inocência e o caminho há cerca de 10 000 anos.
Antes da invasão dos povos guerreiros inventores da roda e dos carros de combate e que para sempre acabaram com a nossa paz nas sociedades de parceria e de entreajuda de macacos deuses, que aqui, em Lisboa, como noutros lados de outros modos, vivíamos em união com o Tau, alimentando-nos de ostras e de outros bivalves que recolectávamos do Tejo.
Sinto, como muitos outros, uma imensa nostalgia desses gentis trogloditas.

2004-06-02

Começou a campanha

Como de costume começamos já a ler e ouvir muitos peritos analistas com as queixas habituais de que não há elevação, nem debate, que a campanha é pobre, feita de "faits divers" sem esclarecer ninguém.
Como sempre, eu interrogo-me sobre a análise destes analistas. Em que mundo viverão ?
Será que na sua atenta observação da realidade política não conseguiram ainda aperceber-se que ela não se rege por nenhuma ideia ?
Não viram ainda que a política é feita por um jogo de interesses, conversas de corredor, almoços e jantares de negócios, um coça-me as costas que eu coço as tuas ?
Querem debates de quê e sobre o quê ? Para se arriscarem a dizer uma coisa hoje e que, provavelmente, vão ter de desmentir amanhã ?
Debates de ideias ? Haja um pouco mais de rigor e olho mais vivo meus senhores.

2004-06-01

Portugal tem dois políticos

Que em nada são iguais
Mas não tenho a certeza
Qual dos dois detesto mais.
Refiro-me a Paulo e a Miguel Portas.
Que praga terá caído naquela família ?.

2004-05-31

O Ministro Arnaut

Mais uma vez o vi e ouvi, desta vez na nova RTPN (ex-NTV) e, como é habitual agora, falando do Euro 2004, ao seu melhor nível, disse assim:
Se tudo correr bem, vai ser bom para Portugal.
Se alguma coisa correr mal, vai ser mau para Portugal.
Digam o que disserem, não podemos deixar de estar de acordo com ele, é o que todos pensamos.
E queria aqui confessar que começo a considerar mais o Ministro Arnaut, começo a ter remorsos da ironia fácil que eu, como tantos outros fazemos com ele.
Eu sei que é uma tentação permanente porque é, sem dúvida nenhuma, um Ministro muito desfrutável, mas apenas porque é simples e puro.
O nosso mal não vem deste Ministro. Este Ministro é incapaz de fazer mal conscientemente. O nosso mal vem de outros, mais finos mas muito mais perigosos.

2004-05-30

Ferraduras

Todos sabemos que as ferraduras dão sorte, mas quem tem uma ou mais ferraduras e vê a sorte passar ao lado, naturalmente, deverá questionar-se sobre a verdade dessa máxima da sabedoria popular.
Há, no entanto uma razão que explica esta aparente contradição. Depois de muito pensar, decidi revelar-vos um segredo que aprendi na Polónia, junto de um velho e sábio ferreiro, segredo esse que revela o correcto uso da ferradura para estes importantes efeitos.
Hesitei muito antes de publicar, confesso, temos sempre a tendência para pensar que um segredo como este se deve manter privado, não vá o Diabo tecê-las. Por outro lado, porém, não vejo também nenhuma razão para que não tenhamos todos sorte de que aliás estamos muitos necessitados e decidi assim pela revelação.
É assim: a Ferradura, para acumular a sorte deve ser mantida com a concavidade para cima, como um U, naturalmente quando está ao contrário, o que por razões de estabilidade as pessoas tendem a fazer, toda a sorte escorrega pelo exterior e não fica retida na dita.
Também, se acumular muita sorte mas, por azar, ela tombar lá se vai a sorte para o galheiro.
Eu já experimentei mas o raio da ferradura está sempre a tombar. Vou arranjar uma solução que mantenha este princípio lógico. Afinal é tão evidente que tem de dar resultado.
Experimentem também.

2004-05-27

Sabedoria popular

O Benfica levou a fruteira mas o Porto ficou com o caneco.
Anónimo na TV

Design

Os povos, como as pessoas, também têm os seus traços de personalidade, nalguns casos mesmo, manifestam, como as pessoas, distúrbios de personalidade.
Os portugueses, segundo dizem, são um pouco maníaco-depressivos, serão, mas tem outros aspectos bem mais simpáticos e úteis em diferentes circunstâncias.
Um desses aspectos, que é muito nosso, é a capacidade de empatia, compreendemos os outros que nos são diferentes e adoptamos com facilidade aquilo que vemos nos outros e que nos agrada.
Este aspecto não é nada comum e é interpretado até, ás vezes e julgo que erradamente, como falta de personalidade.
Eça de Queirós dizia que os chineses, quando emigram, levam sempre a China consigo e lá fazem os seus bairros que são mini-Chinas, com casas chinesas a mesma gastronomia e hábitos de vida. Os portugueses não, vão de mãos a abanar, vêem e encaixam-se no que vêem.
Um exemplo disto é a forma como adaptamos palavras de outras línguas, enquanto o tempo as não incorpora, fazendo gala em as utilizar tal como no original, com a pronúncia próxima do original ou tão próxima como conseguimos e ouvimos.
Por exemplo Bruce Sprigsteen, em Portugal chama-se Bruce Springsteen, mas nos nossos vizinhos espanhóis já é qualquer coisa como Bru Sprintin.
Este hábito que me parece salutar, tem todavia dois aspectos que me irritam particularmente:
Quando as palavras são de uma língua estranha que não conhecemos exactamente, adaptamos sempre a pronúncia inglesa o que é um absurdo: ainda ouvi, no outro dia, num centro de massagens orientais em que explicavam que era uma arte milenar dos países do Oriente e, como exemplo, aplicaram a “Oriental face massage”, transformando o Inglês numa língua milenar do oriente.
“Oriental face massage” ? a que propósito ? se não sei o nome original porque não digo simplesmente “massagem oriental da face” ou coisa semelhante ?
O outro aspecto irritante é quando, por ignorância, mesmo em camadas sociais que a não deviam ter, pronunciamos mal as palavras transformando-as em coisas que não são da língua original nem da nossa, coisas híbridas e feias.
É o caso do “design” que usamos a torto e a direito, ignorando o nosso antigo termo “risco”, tão bonito, embora reconheça que pode ser fonte de confusão com as suas homófonas e homógrafas.
Mas dizemos quase sempre qualquer coisa como “désaine” e não “disaine” como os ingleses.
Isto irrita-me a mim e ao Carlos Pinto Coelho, porque já o vi corrigir, neste ponto, um seu entrevistado, causando um embaraço, que, no entanto, gostei de ver.

2004-05-25

Abu Ghraib

Todos nós conhecemos, já vimos, faz parte do processo de formação e das vivências de todos nós:
Uma criança de 3 ou 4 anos que cai e, por exemplo, bate com a cabeça numa cadeira provocando-lhe dor, chora e vira a sua pequena ira contra a cadeira agressiva sendo para isso estimulado por todos os adultos próximos: Tau tau nesta cadeira má que magoou o menino, e todos batem na cadeira atrevida. A criança parece recuperar da sua dor com a sensação de que a justiça foi feita.
Este fenómeno é amplamente conhecido da psicologia e não é só infantil como parece. De formas mais elaboradas, este mecanismo de incorporação do plano simbólico explica muitos aspectos do comportamento humano.
Mas o Sr. Bush que, como todos sabemos, tem uma idade mental próxima dos 3 anos, manifesta esse fenómeno na sua forma mais pura e singela como a criança que descrevi. Disse-nos agora mais ou menos isto:
Abu Ghraib foi palco de torturas no regime de Sadam mas também palco de torturas das forças democráticas de ocupação: A culpa é de Abu Ghraib; tau tau em Abu Ghraib, prisão má que faz mal aos meninos.
Como, apesar de ser intelectualmente um menino, tem já um corpo de gigante, o tau tau de Bush é mais violento: Destrui-se imediatamente Abu Ghraib e faz-se uma prisão nova que não faça mal aos meninos.
Com gestos como este o mundo torna-se mais feliz, a “justiça” é feita, e ficam as nossas consciência descansadas.
Como no caso da criança de que falei, a verdadeira causa da sua má experiência, a sua inabilidade para andar, passa incólume e fica pronta para o próximo fracasso.

2004-05-23

A Engenharia do século XXI

Não sei o que se passa com a nossa ciência e a nossa tecnologia.
Fazemos coisas espantosas e nunca vistas como este simples facto de eu, simples cidadão, poder escrever aqui qualquer coisa imediatamente acessível a todo o mundo. Isto era inimaginável há 5 ou 6 anos, no entanto, hoje é banal.
Mas assim como admiro estas conquistas do Homo Sapiens, espanto-me sempre como, ao mesmo tempo, se vão perdendo outros saberes e outros fazeres.
Cair um teto de um edifício público sem causas demasiado improváveis não deveria ser possível no século XXI.
Há centenas de ano, houve uma “corrida” na Europa pela construção de catedrais mais e mais altas, colocando imensos problemas de engenharia, elevando esta tecnologia a um grau transcendente e misterioso para o comum dos mortais. Orgulhamo-nos do nosso Mestre Afonso Domingues que permaneceu sob a abóbada do mosteiro da Batalha para afirmar a confiança na sua engenharia.
Centenas de anos depois de Afonso Domingues a abóbada do mosteiro da batalha ainda lá está atraindo milhares de turistas e o mesmo se passa por diversas imponentes catedrais europeias que sobreviveram a guerras e a bombardeamentos.
Centenas de anos depois, cai o teto do novo terminal do aeroporto Charles Degaule, construído há menos de um ano, assim como o teto da piscina de Moscovo, construído havia meses.
Eu sei que o paradigma da engenharia de hoje não é construir para durar mas construir barato mas o mínimo que se pede é que haja competência e que as coisas não caiam por si.
A muitos engenheiros de hoje, como aos que conceberam o novo terminal do aeroporto sobre os ombros dos gigantes “maçons” de todos os tempos, não admito nenhuma desculpa, só posso dizer: "shame on you”.