2004-05-27

Design

Os povos, como as pessoas, também têm os seus traços de personalidade, nalguns casos mesmo, manifestam, como as pessoas, distúrbios de personalidade.
Os portugueses, segundo dizem, são um pouco maníaco-depressivos, serão, mas tem outros aspectos bem mais simpáticos e úteis em diferentes circunstâncias.
Um desses aspectos, que é muito nosso, é a capacidade de empatia, compreendemos os outros que nos são diferentes e adoptamos com facilidade aquilo que vemos nos outros e que nos agrada.
Este aspecto não é nada comum e é interpretado até, ás vezes e julgo que erradamente, como falta de personalidade.
Eça de Queirós dizia que os chineses, quando emigram, levam sempre a China consigo e lá fazem os seus bairros que são mini-Chinas, com casas chinesas a mesma gastronomia e hábitos de vida. Os portugueses não, vão de mãos a abanar, vêem e encaixam-se no que vêem.
Um exemplo disto é a forma como adaptamos palavras de outras línguas, enquanto o tempo as não incorpora, fazendo gala em as utilizar tal como no original, com a pronúncia próxima do original ou tão próxima como conseguimos e ouvimos.
Por exemplo Bruce Sprigsteen, em Portugal chama-se Bruce Springsteen, mas nos nossos vizinhos espanhóis já é qualquer coisa como Bru Sprintin.
Este hábito que me parece salutar, tem todavia dois aspectos que me irritam particularmente:
Quando as palavras são de uma língua estranha que não conhecemos exactamente, adaptamos sempre a pronúncia inglesa o que é um absurdo: ainda ouvi, no outro dia, num centro de massagens orientais em que explicavam que era uma arte milenar dos países do Oriente e, como exemplo, aplicaram a “Oriental face massage”, transformando o Inglês numa língua milenar do oriente.
“Oriental face massage” ? a que propósito ? se não sei o nome original porque não digo simplesmente “massagem oriental da face” ou coisa semelhante ?
O outro aspecto irritante é quando, por ignorância, mesmo em camadas sociais que a não deviam ter, pronunciamos mal as palavras transformando-as em coisas que não são da língua original nem da nossa, coisas híbridas e feias.
É o caso do “design” que usamos a torto e a direito, ignorando o nosso antigo termo “risco”, tão bonito, embora reconheça que pode ser fonte de confusão com as suas homófonas e homógrafas.
Mas dizemos quase sempre qualquer coisa como “désaine” e não “disaine” como os ingleses.
Isto irrita-me a mim e ao Carlos Pinto Coelho, porque já o vi corrigir, neste ponto, um seu entrevistado, causando um embaraço, que, no entanto, gostei de ver.

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