2004-08-18

Os media e os jogos Olímpicos

Nesta fase dos jogos onde pontuam as modalidades verdadeiramente amadoras, a RTP faz mais ou menos isto:
- Trazes medalha ?
- Não
- Aida podes trazer medalha ?
- Já não, estive quase, não fosse uma ....
- Isso não serão desculpas ?
- Não, não eu até vou ainda esforçar-me.
- Ora !
E rematando para o público, tal desalmado fiscal de impostos:
- O judo, desta vez não foi capaz de contribuir com nenhuma medalha.
E é assim, não há medalha logo, são uns merdas.
Isto a propósito do judo, a modalidade que pratiquei mais ou menos a sério na minha juventude, pelo menos fui, como se diz, atleta federado.
Com os meus 12 ou 13 anos fui seleccionado para o Campeonato Europeu de Esperanças, recebi a carta da federação com enorme orgulho, mas, havia um mas, tinha que entrar num estágio de 15 dias com treino intensivo umas 8 horas por dia, ou seja, deixar a minha rotina, que já não sei qual era, mas que muito me agradava e, apesar das boas intenções, não fui ao estágio, que se lixe !
Passado o período de estágio, recebo nova carta da federação a convocar-me para um torneio de selecção para ir aos ditos campeonatos, era uma nova chance.
Lá entrei no torneio. No primeiro combate sai-me um adversário com quase o dobro do meu peso.
De notar que no judo, nesse tempo, dizia-se que o peso não interessava, o “caminho da suavidade” consistia precisamente em por a força do adversário a nosso favor.
Sempre me pareceu que era uma treta, e hoje os regulamentos parece que me dão razão porque criaram categorias divididas por pesos, quase quilo a quilo.
Os combates eram de 2 minutos, dirão que é como tomar um copo de água, mas, na realidade, não é, são 2 minutos que esgotam todas as nossas forças até ao ponto do desfalecimento.
Foi sempre o meu ponto fraco, não aguentava os 2 minutos, na excelência da minha técnica, nem lá próximo.
Foi assim o meu combate: um primeiro minuto de alta técnica em que só por azar não derrotei o gordo que era o meu adversário, um segundo minuto penoso, em que tentei apenas não desmaiar.
A vitória foi atribuída ao gordo por decisão do júri mas, mesmo assim, a decisão não foi unânime, houve um dos 3 júris que achava que o combate era meu.
Este voto, no apuramento para o Campeonato Europeu de Esperanças de 1962 ou 1963, é a minha coroa de glória desportiva. Os meus netos hão de conhecer esta proeza do seu avô.
Voltando aos actuais Jogos Olímpicos, segui pela rádio e só pela rádio, porque ao correr para a TV vi que estavam a dar tudo menos o judo que interessava.
O percurso de Telma Monteiro foi notabilíssimo, só foi derrotada há beira dos quartos de final por uma francesa de muito maior gabarito e, mesmo assim só após prolongamento, porque nos 5 minutos olímpicos o júri não foi capaz de decidir. Depois foi repescada mas, já estava esgotada e mentalmente derrotada, perdeu com uma adversária inferior. Os seus momentos de glória, de força e de sacrifício foram com a francesa onde deu tudo por tudo.
Com João Pina aconteceu quase o mesmo, e, no dia seguinte com João Neto. Ontem, o já medalhado Calado, muito diminuído, com 3 dedos quase partidos, não passou do primeiro combate.
Para mim foram todos uns heróis que honraram o nosso país.
Para a RTP foram uns merdas que não contribuíram para as medalhas.
E é esta mensagem que fica para todos os desportistas de sofá cujo maior esforço conhecido é agitar a bandeira e gritar POR- TU-GAL.

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