2008-05-31

A derrota de Santana Lopes

Com a derrota de Santana Lopes perdemos a esperança de almejar a possibilidade de, num tempo razoável, vir a ter o governo que mais se aproxima do ideal anarquista.
Estamos condenados a Sócrates, seja por ele ou por interposta pessoa, por Manuela Ferreira Leite, e com eles cada vez mais nos tornaremos peças descartáveis da terrível máquina que trabalha arduamente na urgente tarefa de não fazer nada.

2008-05-30

O verdadeiro caminho

O verdadeiro caminho passa por uma corda esticada não em altura, mas um pouco acima do solo. Parece destinada a fazer tropeçar, não a ser ultrapassada.
Franz Kafka, in “aforismos”

2008-05-28

O pensamento mágico

Manuela Ferreira Leite repetiu, como todos os autómatos repetem, até já com um pouco de enfado e é apenas nesse enfado que não é autómato, que “os tempos do emprego para vida já acabaram, agora estamos no tempo da precaridade !”
“Então e a insegurança e o planeamento do futuro das nossas vidas ?” perguntamos nós,
“paciência, é o destino, é a vontade do “Deus economicus” a que temos de nos submeter, têm de se habituar”
Parece que o mundo e estas as regras não fomos nós homens que o construímos.
Parece que não está na nossa mão fazer melhor.
Só nos resta então rezar para que a desgraça não se abata sobre nós!

2008-05-27

O arroz do Lidl

Ontem os media saíram-se com uma piada:
A cadeia Lidl tinha decidido “racionar” a venda de arroz a 10kg por pessoa e dia !
Parece evidente que chamar a isto um racionamento não faz qualquer sentido, quem se sentirá limitado no seu legítimo direito de comer arroz com esta limitação a 10Kg dia ?
O Lidl aliás explicou que o que se estava a passar era alguma especulação por parte de algumas pessoas que estavam a comprar arroz para revenda, aproveitando uma relação favorável de preço e, como o Lidl é retalhista naturalmente pretendeu evitar esta subversão especulativa limitando a venda de montantes impróprios de uma venda a retalho, simples medida de gestão portanto e nada de racionamento.
Mas o Ministro é da mesma raça dos jornalistas e não analisa os números nem os contextos, para ele também foi racionamento e toca de chamar a administração do Lidl e fazer parar a justa limitação.
Para o comum dos cidadãos isto nem aqueceu nem arrefeceu, não passaram a comprar nem mais nem menos arroz.
Para os especuladores foi ouro sobre azul. Grande ministro dirão eles.

2008-05-25

O problema do caralho

Estou a ler, com enorme prazer o livro do Prof Manuel Curado “Luz misteriosa – A consciência do mundo físico”.
A consciência pode ser estudada a muitos níveis, mas este livro trata do problema (aqui surge a dificuldade) essencial, principal, fundamental, eu sei lá, o problema da consciência mesmo, como diz o autor: “Se somos apenas constituídos por átomos e campos de forças, como é que seres que são desse modo podem sentir qualquer coisa? Afinal, os nossos automóveis, frigoríficos e computadores não sentem o que quer que seja? Por que razão nós sentimos?”.
Este problema em linguagem técnica é chamado “Consciousness: the Hard Problem”.
É assim que é reconhecido pela comunidade científica que se dedica a esta problemática.
Para traduzir para português, Manuel Curado usa a expressão “o problema duro”, e “hard” significa duro, sem dúvida, mas muito mais do que isso e também quer dizer difícil, que é a opção adoptada na própria lombada do livro “o problema mais difícil de todos”
Quando comecei a ler o livro esta questão colocou-se-me, o “duro” do Professor não me parecia correcto em português e difícil também me parecia pobre: “Hard é também trabalhoso, complicado, é muito rico semanticamente mas também muito difuso e pouco preciso.
Comecei então a meditar sobre as exactas palavras em português que expressassem melhor a ideia de “hard problem”, neste contexto, e ocorreram-me aquelas que já referi acima, “essencial”, “principal” etc. mas que também não me satisfaziam totalmente.
Conversando com o meu filho Adriano e explicando-lhe as nuanças semânticas que me preocupavam ele sugeriu-me a tradução, de facto perfeita em portugês, disse-me:
- Pai, isso é o “problema do caralho” e, acertou em cheio.

2008-05-22

Para perceber Portugal 2

Há exactamente 200 anos, em termos de dias do Corpo de Deus, que se comemora hoje, mas não exactamente há 200 anos porque a festa é móvel e em 1808 caiu a 16 de Junho, Junot preparava-se para assistir à procissão do Corpo de Deus na varanda do seu palácio, na companhia das suas amantes, enquanto a bandeira tricolor estava hasteada em Portugal.
Entretanto a procissão não saía, S.Jorge não podia sair porque não tinha chapéu (o Duque do Cadaval tinha levado o chapéu de S.Jorge, incrustado de jóias para o Brasil) e o próprio Corpo de Deus recusava-se a sair do Sacrário !
O povo gritava “milagre”.
Junot ficou furibundo e teve de ir pessoalmente buscar o Santíssimo Sacramento à Igreja.
Este episódio de terrorismo poético foi o prenúncio da revolta popular que muito desorganizada e corajosamente irrompeu por todo o país e preparou o caminho para o desembarque das forças inglesas que finalmente expulsaram os franceses da nossa pátria.

2008-05-20

Toda a política é ridícula

O que está a minar os Estados actuais, mais do que todos os tipos de terrorismo, é o crescente ridículo em que eles próprios incorrem.
Não falo só do lado histriónico e hilariante da política do qual temos Jardim, Santana Lopes e no mundo George Bush, Chavez e tantos outros, falo daquele ridículo mais subtil de quem se comporta como quem domina tudo e todos quando, na realidade, nem percebeu onde está e qual é o seu papel e não passa de um títere ainda que sem ninguém na outra ponta dos fios.
É tudo falso e oco.
Os Gatos Fedorentos entre nós, Jon Stewart nos EUA, e tantos outros que nem eu sei por esse mundo fora não têm já que vasculhar o lado cómico das coisas, é só replicar a realidade que assim, fora do contexto original, liberta do seu ridículo latente o perfume do cómico hilariante.
São simples caricaturistas, o humor já lá estava.

2008-05-18

A situação no PSD

Afinal é mais simples de perceber do que parecia.
A instabilidade, a constante mudança de Líderes, as directas, tudo tem um único objectivo:
Que os sócios paguem o raio das quotas.
Já com Marques Mendes e Menezes tudo rodou em torno das quotas, o que é certo é que muita gente pagou então, fosse por si ou por interposta pessoa.
Foi eleito Menezes e tudo voltou ao ramerrão habitual, as dívidas voltaram a acumular-se, que fazer ?
Novas directas, obviamente, sai Menezes e vêm outros e, segundo nos informou Marcelo Rebelo de Sousa, o pagamento de quotas já disparou.
Com directas de 6 em 6 meses o PSD consegue, talvez, manter a colecta mais ou menos em dia.

2008-05-16

Desta vez o Sócrates irritou-me

Quando há 2 ou 3 dias se falou do insólito cigarro ou cigarros de Sócrates no avião que o levou a Caracas, eu não fiz qualquer comentário. Para dizer a verdade até me agradou aquele traço de humanidade, tão inverosímil, naquele autómato patético.
Eu, quando um dia fretar um avião também hei de impor uma temporária lei do fumo. Aí mando eu, caraças !
Mesmo as “falsas” desculpas e o pio voto de ir deixar de fumar, ficou-lhe bem. Desculpem qualquer coisinha pá !
Agora, em vez de ficar caladinho, chamar aos seus críticos “terroristas calvinistas” passa todas as marcas, tal nível de hipocrisia apela em mim os mais baixos instintos.
Vá pó @#”!&/ seu ?$#&/§ e deixe de gozar connosco.
(não faço a tradução para evitar processos porque eu não ganho para indemnizações)

2008-05-13

Para perceber Portugal

Este excelente livro de Raul Brandão relata, dia a dia, a triste página da nossa história que correspondeu à primeira invasão francesa.
Aí se relata e fundamenta a vergonhosa atitude de colagem ao poder de facto, por parte da nobreza, que não acompanhou a corte na atabalhoada fuga para o Brasil.
Quando, por ordem de Junot, a bandeira nacional foi substituída pela francesa, o governo transitório, nomeado pelo Rei em fuga, participou na cerimónia, só o povo se enfureceu e respondeu com inúmeros motins.
Um notável nessa época era o Conde de Ega, conluiado com Espanha primeiro, enquanto valia o tratado secreto de Fontainebleau que partilhava Portugal e atribuía partes a nobres de Espanha, com os franceses depois, quando Napoleão rasgou esse tratado e pensou em ficar com todo o país no seu domínio.
É desta fase que transcrevo esta passagem exemplar de Raul Brandão:

Ega porém, escreve ainda para a província, para se formularem representações favoráveis a Junot. Isto explica-se por esta única palavra – dinheiro. sente-se, palpita ainda nos seus papéis essa suprema aflição. As letras são aos centos, aos maços; saltam de entre os documentos. São de judeus de Tanger, deste, daquele: não têm conta, não têm fim. Em toda a sua vida há esta ânsia, arranjar dinheiro. Recebeu-o decerto dos espanhóis, recebeu-o dos franceses. Para o obter não recua: a mulher é um meio – vende-a. Vende o Rei, o país, vende o pai, vendia, se pudesse o próprio diabo. Esta nota é dolorosa mas necessária: se o Ega se vende a troco de dinheiro, os outros vendem-se por comodidade. Só no povo – porque o frade é povo também – os franceses encontram resistência. É que os ricos são materialistas, e o pobre esse não hesita – que lhe vale a vida? – e salva-nos. O rico curva-se, roja-se para não perder o gozo e as honras; o pobre é de instinto espiritualista ferrenho. Estranho povo este: mais fundo, mais humilde, melhor. Um pouco de oiro enlameia-o. A massa obscura tem uma grandeza de espanto: logo que dela se destaca, o homem perverte-se.

2008-05-10

Ao que chegámos

O único político que ergue as minhas bandeiras, contra o ministro da agricultura e contra a ASAE é:
Paulo Portas !

2008-05-09

E se houvesse um país governado por uma súcia de Josef Fritzls ?

Assim como este cidadão austríaco é tão destituído de ressonância psicológica que chega ao ponto de encarar a sua própria filha como muitos de nós encaramos um canário que mantemos numa gaiola para nosso deleite, o que seria de um governo que encara o seu povo com menos interesse do que nós atribuímos a uma manada de vacas ?
Mas o pior é que esse governo existe, é o da Birmânia !

2008-05-06

Alípio Ribeiro

O Director da Polícia Judiciária, Alípio Ribeiro,é uma pessoa que se vê, fala com esforço, tudo nele é lento e pesado, o seu discurso é lento e pesado, o emitir 3 palavras articuladas, exige-lhe montões de desgastantes “disparos” pelas sinapses do seu cérebro.
Mesmo assim deu toda uma entrevista ao Diário Económico.
Precisava de compreender bem o que lhe perguntavam, seleccionar as mais apropriadas palavras de resposta e a sua ordem mais conveniente, entre centenas de combinações possíveis, mesmo assim lá conseguiu, mas a que preço ?
Ficou exausto !
Não teve outra solução se não sair do lugar pelo cansaço.
Descanse em paz, desejo-lhe eu.

2008-05-04

A vingança de Malthus

Na passagem do 18º para o 19º séculos Malthus afirmou que havia um problema básico para a humanidade, o crescimento da população, em progressão geométrica, e o crescimento dos produtos alimentares, em progressão aritmética. Chegaria em breve um momento de ruptura.
Resumindo, embora mais motivado por razões religiosos, para Malthus a civilização não tinha futuro.
O que é certo é que o tempo foi passando e as previsões de Malthus foram quase esquecidas, a civilização respondeu com uma impressionante revolução verde que fez progredir a alimentação ao ritmo necessário até que, em algumas partes do chamado 1º mundo, se verificou mesmo um excesso alimentar.
Aldoux Huxley escreveu mesmo, um dia do século XX, a propósito de Malthus, qualquer coisa como isto:
Nunca antes, um espírito tão brilhante como o de Thomas Malthus, tinha sido tão claramente desmentido pela história.
Mas isto foi até há mais ou menos um mês, agora o fantasma de Malthus voltou a afrontar-nos com o inesperado e brutal galope dos preços dos cereais, incluindo o arroz.
Malthus deve-se rir no seu túmulo ou, quem sabe, a civilização dá outro golpe de rins.

2008-05-02

A reforma do Estado

Pedro Paços Coelho diz que o que é preciso é a reforma do Estado, suponho que se refere à “máquina” da administração e não ao Estado em si.
Mas se assim é a imaginação é pouca porque esse é o desejo de todos os Governos, ao ponto de o Estado se ter transformado desde há uns anos num permanente estaleiro de obras.
A precisar de qualquer coisa é de uma forma e não de uma reforma.