2006-10-21

Eu sou pela abolição

Da “lei da oferta e da procura” que nos proíbe a vida gratuita.
Da “lei da gravidade” que nos impede de voar.
Da “lei da rolha” que nos não deixa falar
Da “lei do menor esforço” que nos mata em vida.
Já temos leis a mais, basta !

2006-10-16

Luta contra a corrupção 3

Como referi no poste anterior sobre este assunto, constato que algumas culturas valorizam a sociedade mais do que o indivíduo enquanto outras, como a nossa, tende para o contrário.
Numa primeira abordagem pareceria lógico e natural, que relativamente à segunda dicotomia que referi como determinante no debate desta questão, segredo vs transparência, se pudesse observar uma associação do seguinte tipo:
Grupos culturais que privilegiam a sociedade tendem a valoriza a transparência (que facilita a equidade social); sociedades que privilegiam o indivíduo tendem a valorizar o segredo (que facilita a defesa dos direitos individuais).
Curiosamente, a minha experiência tem constatado precisamente o contrário.
Primeiro exemplo:
durante toda a minha vida de estudante, em Portugal, as minhas notas nas diferentes disciplinas, como as de todos os meus colegas, eram afixadas numa pauta afixada no pátio da escola, todos podíamos ver a classificação de todos e este procedimento transparente sempre me pareceu natural. No Mestrado que fiz, que embora feito em Portugal, respeitava totalmente o modelo de uma Universidade americana, incluindo grande parte dos Professores que eram Americanos dessa Universidade, as notas eram-nos comunicadas individualmente e em carta fechada, ninguém sabia as notas dos outros se esses a não dissessem e ainda assim mantínhamos a insegurança de não saber ao certo se falavam verdade.
Este secretismo era justificado na defesa da concorrência ou da competitividade mas eu não deixava de me questionar: e as injustiças ? e os compadrios ? e os efeitos da “graxa” e outros métodos estudantis de subverter o sistema ? como me defenderei eu disso.
Segundo exemplo: Em Portugal a filosofia subjacente em concursos públicos baseiam-se na transparência: tudo público, tudo claro, todos devem poder saber tudo.
Eu, aqui há anos, tive oportunidade de integrar uma delegação portuguesa que, em Washington, negociou com o Banco Mundial um empréstimo para um projecto e pude aí constatar que os mais difíceis aspectos negociais tinham precisamente a ver com essa nossa atitude para a transparência que era incompatível com o secretismo exigidos pelo Banco Mundial para os mesmos concursos.
O mais estranho é e ambos defendíamos os mesmos princípios em nome do mesmo valor, a equidade.
Para nós: Se eu for preterido num concurso, sem ver a proposta dos outros como é que eu posso saber se não houve um favorecimento ilícito ?
Para o Banco Mundial: Se eu for preterido no concurso, é certamente porque o outro concorrente tinha uma melhor proposta, com que direito vou eu vê-la para depois a copiar sem esforço a quem foi mais hábil do que eu ?
Referindo-se estes exemplos a grupos culturais anglo-saxónicos e não propriamente escandinavos, no entanto um tipo de sociedade aparentemente menos propensa à corrupção do que as nossas sociedades latinas, o caso não deixou de me intrigar.
No fundo, talvez seja o natural mecanismo de compensação de que a natureza é pródiga:
Para nós que procuramos desenrascar-nos da melhor maneira possível, e que sabendo que o outro é como nós, também com os seus esquemas rocambolescos, pensamos que será papel do Estado por tudo em pratos limpos e esclarecer-nos de tudo, reivindicamos a transparência.
Para os outros que vivem um dia a dia de controlo social intenso, de auto sacrifício pelo bem estar global, deverão ansiar por um Estado que lhes garanta a sua privacidade.

Seja isto ou não, o que é certo é que o Estado não é uma entidade etérea e abstracta, quem toma decisões são pessoas como nós, mergulhadas na mesma cultura , daí as dificuldades de lidar com este fenómeno e aí é que está o busílis da questão.
Mas como também sou português e um pouco preguiçoso, deixo por aqui esta questão.

2006-10-15

Mujamad Yunus 2

Um aspecto notável da obra de Yunus era o de encarar os espoliados que ajudava como seus iguais, rejeitava todo o tipo de paternalismo.
Os projectos eram apreciados tecnicamente de modo sério, e para que o empréstimo fosse concedido tinha que ser assinado um contrato.
Isto com mulheres analfabetas, na sua grande maioria, que não sabiam assinar o seu nome.
Mas Yunus não aceitava assinaturas de cruz ou marcas do indicador, tinham que assinar o seu nome, como a generalidade das pessoas de negócios fazem.
Se não sabiam fazê-lo Yunus punha os seus técnicos a ensina-las e elas lá passavam horas de língua presa entre os dentes a treinar a sua assinatura até que a pudessem repetir de um modo uniforme e minimamente ágil.
Quando finalmente o contrato era assinado e aquelas mulheres, habituadas toda a vida a serem completamente anuladas e exploradas, assinavam o seu contrato com as suas próprias mãos, podia-se ver nos seus rostos o enorme orgulho com que o faziam.
Nesse momento começavam a sentir-se finalmente pessoas.

2006-10-14

Mujamad Yunus

Um prémio Nobel da PAZ mais do que merecido.
Um Doutorado em Economia que não encara esta ciência como o tal monstro caprichoso mas apenas como uma base teórica que permite criar muitos instrumentos úteis para melhorar a vivência das pessoas.
Um homem atento ao seu mundo e ao seu semelhante.
Um “homo sapiens” que encara os problemas, analisa-os racionalmente e formula as soluções possíveis.
O banco Grameen, não foi concebido num gabinete, nem poderia ser, qualquer economista diria que estava condenado ao fracasso, foi feito passo a passo.
”Caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar, passo a passo, golpe a golpe”
Realizou sonhos, devolveu dignidade, permitiu bem estar a muitíssimos excluídos do mundo.
Foi copiado por todo o lado, a generalidade das vezes muito mal copiado, falta-lhes o sonho de Yunus.
Se isto não é um enorme contributo para paz, não sei o que será!

2006-10-12

Notícias do Espectáculo

Depois de ontem lhe termos proporcionado, em rigoroso directo, mais de uma hora de 2 janelas a arder no centro de Manhatan, o espectáculo continua.

Hoje poderá ver ainda em todos os canais nacionais:

A ESPECTACULAR MANIFESTAÇÂO NACIONAL DE OPOSIÇÃO AO GOVERNO
Mais de
50 000-manifestantes-50 000
Veja e ouça, em rigoroso directo, os depoimentos expontâneos de muitos manifestantes.
veja e ouça as palavras de ordem de milhares de cidadãos enraivecidos contra a política do Governo.
Veja e ouça os discursos dos líderes sindicais.
Veja e ouça os comentários do Governo e da oposição.
Saiba quantas camionetas foram necessárias para por em marcha esta grandiosa manifestação.
Veja o que comem e bebem esses manifestantes, as suas motivações mais íntimas.
Veja quais o ministros mais contestados
Hoje, em todas as televisões.

Luta contra a corrupção 2

Mas onde é que eu me fui meter ?
Querer resolver aqui grandes angústias com que a humanidade se confronta há milhares de anos, sobre as quais já se escreveram milhares de livros, por espíritos bem mais brilhante do que o meu !
Façamos assim: imagine o leitor que está comigo numa mesa de café.
Já comemos e bebemos bem, sentimo-nos bem, estamos numa daquelas disposições em que podemos resolver as grandes questões da humanidade, onde tudo é legítimo, onde podemos discorrer sobre o âmago da física quântica, construir as mais perfeitas utopias, ter opinião sobre tudo, mesmo o que nos é estranho, inclusive matar Deus, ou recriá-lo.
Eu vou assim mandar as minhas “bocas” com inteira liberdade e a superficialidade que este meio blogosférico implica, o leitor, pelo seu lado poderá comentar á vontade, insultar-me, louvar-me, ser indiferente, enfim, dizer ou não dizer o que bem lhe aprouver.
Iria abordar a primeira dicotomia que falei no primeiro poste sobre este tema:
indivíduo vs sociedade.
As principais utopias concebidas basearam-se na prevalência do interesse comum, da sociedade sobre o indivíduo:
Nesta situação de prevalência do social sobre o individual não existirá um campo fértil para a corrupção e quando esta aparece é mais facilmente arrancada e destruída como erva daninha.
A corrupção é um tipo de crime eminentemente antisocial. Em princípio ela serve os interesses de todos os intervenientes directos, corruptor e corrompido e os danos que provoca são eminentemente sociais, etéreos, não palpáveis, instalam uma percepção social de iniquidade, gera invejas, desmotiva os justos, conduz a um mal estar social, mas a mim propriamente, a cada eu individual, não afecta directamente, não aquece nem arrefece como diz o povo.
Será por isso que nas sociedades culturalmente impregnadas do sentimento da prevalência da sociedade sobre o indivíduo, as sociedades escandinavas por exemplo, os fenómenos de corrupção são mais raros e quando surgem são mais facilmente denunciados e expostos; cada cidadão, os sente como inaceitáveis e sente como um seu dever denunciar e combater.
Nós portugueses e brasileiros e outros povos latinos e os povos africanos, em geral, temos impregnado na nossa cultura a prevalência do indivíduo sobre a sociedade. Culturalmente uma denúncia é um acto feio, desde crianças que não toleramos os “queixinhas” que nos denunciavam aos pais ou professores. Denuncias anónimas (muitas vezes a única forma de denunciar e sobreviver) são consideradas como uma torpeza inaceitável, temos toda uma cultura que faz medrar a corrupção e que impede o seu combate.
Temos, é certo. mais firme do que os Suecos a solidariedade, aos nossos amigos, temos laços muito firmes a um grupo restrito que nos está próximo, mas laços diluídos para com a sociedade no seu todo.
Somos capazes de actos de grande nobreza e caracter em favor de um amigo concreto em dificuldades mas somos menos propensos à solidariedade social e às grandes causas mais abstractas. Contamos facilmente aos nossos amigos, com orgulho da nossa esperteza, como conseguimos roubar o fisco ou enganar a polícia, actos que um escandinavo ocultaria de toda a gente, mesmo dos mais íntimos, com uma vergonha que lhe tiraria o sono.
Leis ou medidas tendentes a combater a corrupção não alcançam a unanimidade, enfrentam frequentemente críticas e críticos.
É evidente que tudo isto, dito assim, é um estereótipo. Em todas as culturas podemos encontrar gente de um ou de outro tipo mas quando se está atento consegue-se sentir este padrão emergir como uma nata, nas mais pequenas coisas:
Na Dinamarca, em Copenhaga, um dos aspectos que me fascinou foi a disciplina e fluidez do transito automóvel, fiquei largos minutos em cruzamentos apenas observando com espanto e admiração aquela ultra-disciplina funcionando como uma máquina afinadíssima: impensável para um automobilista dinamarquês passar com o sinal laranja, mas, por outro lado, o arranque é imediato e simultâneo quando abre o verde, não se admite que ninguém perca tempo inutilmente. Medo da polícia ? certamente que não, medo sim do controlo social dos outros automobilistas.
Como este poste já vai longo, fico, de momento, por aqui.
Em breve continuaremos a nossa conversa de café.

2006-10-10

Pena de morte

Hoje, 10 de Outubro, é o dia mundial contra a pena de morte.
Hoje, nós portugueses, comemoramos os 160 anos, da última condenação à morte em Portugal.
Demos então uma lição de civilização ao mundo, cantada por muitos espíritos ilustres, ainda que perdida entre as lições de selvajaria e ignomínia que também demos durante a nossa expansão colonial.
Mas fiquemos pela primeira, que é mais bonita, e nos deve orgulhar:
Sendo tão simples, ainda assim, muitíssimos anos depois permanecem muitas nações que continuam a não compreender esta lição até a América, a autoclassificada mãe dos direitos humanos, continua mergulhada nesta barbárie.
Chega de penas de morte.
Haja, um mínimo de decência.

2006-10-09

A luta contra a corrupção 1

Há um dilema implícito neste combate e que não é nada fácil de resolver.
Prende-se com estas duas dicotomias:
- indivíduo vs sociedade
- segredo vs transparência

Há valores em todos estes termos de cada uma destas dicotomias.

Poderei sempre dizer sem medo de grande oposição e até obtendo alguns aplausos:
1. Os direitos da pessoa humana devem ser sempre respeitados.
2. Em nome do bem estar social cessam os interesses privados de qualquer um.
3. Todos devem ter direito à sua esfera privada de comportamento.
4. Na administração e nas empresas é fundamental haver transparência.

No entanto é tudo contraditório entre si, não é possível ter tudo isto simultaneamente.

Todos estes valores nos quais podemos basear o combate à corrupção são todos conflitantes.

Para já, deixo apenas esta nota à laia de introdução ao tema.

Voltarei a este assunto com alguns exemplos que vivi.

2006-10-07

O drama da oposição

Como é que se combate um Governo que está a levar o país precisamente para o ponto e pelo caminho que ela acha que o País tem de ir.
E, ainda por cima, com mais competência.

2006-10-01

Miss Mundo

Ou seria Miss Universo ?
Já não sei bem, deu agora nas notícias da tarde... grande concurso de beleza feminina, desta vez em Varsóvia.
Ganhou uma moça da república Checa.
Infelizmente, como todas as outras concorrentes, era bem bonita mas de plástico !
Por trás dela pareceu-me ver, pendendo, 3 cordéis que se puxam:
Um para fazer rir, outro para fazer chorar e outro para falar dizendo, aleatoriamente, 33 variantes de cada uma destas frases, entremeada com a expressão “estou muito feliz” :
“Que a paz encha os corações e que todos os Homens se abracem”
“Que todas as crianças pobres tenham direito a brincar”
“Que esses senhores, que mandam no mundo não aumentem o buraco do ozono"