2007-06-29

2007-06-26

Assim vai o Prace

Da forma como segue a reestruturação do Ministério da Agricultura, parece que o Governo está a ponderar a mudança da sua designação para:
Comissão Liquidatária da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.

2007-06-25

A boçalidade

Llasa de Sela, filha de pai mexicano e mãe americana, salvo erro, dizia que não suportava a estupidez da classe média americana que considerava os mexicanos como gente burra rude e boçal apenas porque não sabiam falar inglês (a língua natural, no imaginário dessa gente).
Todavia essa estupidez não é exclusiva dos EUA, por cá também vou ouvindo classificar Joe Berardo como burro rude e boçal apenas porque não domina minimamente o português e por não ter tido uma educação formal.
Naturalmente, ele deve rir-se com os dentes de trás repetindo o dito popular “faz-te tolo mais “có qués” que um só tolo engana dez”.

2007-06-22

Eu escrevo para alguém

Referiu hoje Mia Couto na sua entrevista na RTP.
António Tabucchi também contou que um dia, quando ainda era estudante comprou um pequeno livro, em francês, com uma poesia com um nome estranho de um poeta que desconhecia completamente. Todavia, a leitura desse poema, durante uma breve viagem de comboio, mudou completamente a sua vida.
Chamava-se o poema “Bureau de Tabac” e o poeta era um tal Fernando Pessoa.

Ainda George Steinner diz ter descoberto assim, por acaso ?, Walter Benjamin.

Agostinho da Silva referia que não cobrava direitos de autor por razões metafísicas:
Não estava certo de ser ele próprio a escrever o que escrevia, talvez fosse alguém ou algo transcendente que lhe ditava essas linhas.

Também eu, por vezes sonho que daqui a vários anos, talvez alguém que vasculhe bits e bytes num velho “server” informático, venha a encontrar, com espanto, algumas linhas deste blogue e que essas linhas se transformem para ele numa revelação !

2007-06-20

Rollerball

Falo do filme, meio esquecido, de 1975, realizado por Norman Jewison e não do de 2002 que não vi nem me interessa ver.
Passa-se em 2018 num mundo onde já não há Estados e o controlo é exercido por Corporações, da energia, dos transportes, da alimentação etc.
O tema do filme passa-se em torno de um desporto de massas de então, o rollerball, onde as regras iam mudando de jogo para jogo segundo os interesses dessas Corporações, independentemente disso prejudicar e confundir os jogadores ou mesmo de pôr a sua vida em risco.
Lembrei-me do filme quando li o comunicado sobre o caso da professora com leucemia obrigada a dar aulas até quase ao dia da sua morte.
Diz o Governo que foi tudo legal, tudo de acordo com as regras.
Pudera, como no rollerball, também são eles que fazem as regras a seu bel-prazer !

2007-06-17

Ota ou Alcochete ?

Ao contrário da maior parte dos analistas que tenho ouvido, para mim, o novo aeroporto vai ser em Alcochete, o tempo se encarregará de me confirmar ou de me desmentir.
As minhas razões são estas:
A situação:
Há muitos anos que surgiram duas localizações sobre a mesa, Rio Frio e Ota, para saber as razões destas opções teríamos que recuar até ao antigo regime, as duas são péssimas aliás, mas como ninguém pensava a sério em fazer o aeroporto, os estudos sucederam-se até à exaustão mas as opções foram ficando as mesmas até ser escolhida a menos má das duas, a Ota.
Agora pretende-se fazer o aeroporto a sério e a inconveniência da Ota vem ao de cima. Todos dizem mal, mas o Governo não pode fazer mais nada, ou se agarra à posição tomada ou entra por um caminho infindável de estudos e mais estudos, e não faz aeroporto nenhum.
Para o Ministro Mário Lino o caso torna-se num ponto de honra e para Sócrates numa embrulhada.
A CIP, financiada por alguns empresários assustados com a forte possibilidade de ter que engolir o aeroporto na Ota, fazem um estudo sobre uma primeira hipótese minimamente aceitável, Alcochete.
Sócrates agradece com alívio a tábua de salvação e Mãrio Lino engole o sapo e vai tentando, como pode não deixar morrer a Ota.

Critérios técnicos:
Alcochete ganha aos pontos à Ota.

Critérios Económicos:
Alcochete ganha aos pontos à Ota.

Interesses obscuros:
Muitos analistas focalizam a sua atenção nos proprietários de terreno na Ota e agora também de Alcochete, mas uma coisa me parece certa aí não há interesses, há apenas interessezinhos.
Alguma valorização dos terrenos, expropriações super pagas a alguns, talvez haja tudo isso mas não deixam de ser pequenos ganhos.
Onde verdadeiramente está o Big Money é, como sempre, na apropriação privada de bens públicos, é na Portela, obviamente.
Quem vai ficar com a Portela, e em que condições é a isto que deveremos estar atentos.
Curiosamente o fim da Portela que é o mais difícil de sustentar, por todas as razões, é precisamente a questão que já não se discute.
Nem Portela mais um, nem Um mais Portela, a Portela nunca, a Portela vai acabar em prédios.
É isto que interessa ao Governo que terá algum encaixe financeiro e a alguém que terá um enormíssimo encaixe financeiro.
Para estes tanto faz Ota ou Alcochete ou outra coisa qualquer, só é preciso que acabe a Portela.

Conclusão:
Para o poder político aceitar Alcochete é pacífico, só Mário Lino perderá a face, mas aí Sócrates e Cavaco terão mais força.
Para o poder económico interessa Alcochete porque faz um mínimo de senso.
Para algum poder económico interessa-lhe apenas desviar as atenções para as disputas entre a Ota, Alcochete, Poceirão ou qualquer outra localização desde que se cale apenas qualquer hipótese que inclua a Portela.

Juntando assim o poder económico ao poder político quem vai ganhar é Alcochete.
A ver vamos.

2007-06-16

Qualquer criança sabe

Mas com o tempo vamo-nos esquecendo:
Uma ferida, uma dor, alivia-se com um beijinho !

2007-06-14

Hoje é o dia mundial do dador de sangue

Na tv perguntavam a uma especialista:
- Quem pode dar sangue ?
- Toda a gente que tenha saúde e leve uma vida saudável.
Respondeu prontamente a especialista.

Eu, que não levo uma vida saudável percebi logo que infelizmente não podia dar sangue mas qual não foi o meu espanto quando à pergunta directa:
- Os fumadores podem dar sangue ?
Ouvi esta resposta:
- Porque não ?

A especialista e a entrevistadora que certamente não são fumadoras, não sabem ainda mas eu já sei porque me estão a dizer constantemente nos maços de tabaco que compro.
Porque:
Fumar mata !
Fumar prejudica gravemente a minha saúde e a dos que me rodeiam !
Fumar bloqueia as artérias e provoca ataques cardíacos e enfartes !
Fumar pode prejudicar o esperma e reduz a fertilidade !
Fumar provoca o cancro pulmonar mortal !
Quem fuma tem que proteger as crianças e não as obrigar a respirar o seu fumo !
E muitas mais razões que dificilmente habilitam os fumadores a se enquadrarem num estilo de vida saudável! Isso já eu percebi muito bem.
Ainda bem que o Governo me avisa.

2007-06-13

Um novo problema

Se o aeroporto for para o campo de tiro de Alcochete para onde iremos nós atirar balas e mísseis ?
Para a Ota ?
Para a Portela ?
Aceitam-se sugestões.

2007-06-11

Um argumento simples mas eloquente

Quando, há vários anos, passei cerca de um mês num Kibutz, tinha, na minha juventude de então, um imenso fascínio e curiosidade por essa utopia afinal realizada.
E o que lá vi foi um sistema aparentemente perfeito e feliz: não obstante não existir propriedade privada, toda a gente usufruía de mais bens materiais, de viagens, de lazer, do que no resto do mundo em volta, não era quando cada um queria, é certo, mas quando a comunidade democraticamente entendesse que havia condições para tal, mas essas condições surgiam facilmente num Kibutz rico e bem gerido.
Apenas uma questão me intrigava:
Estatisticamente a maioria dos jovens nados e criados num kibutz, que ao atingir a maioridade usufruíam de uma extensa viagem pelo mundo, precisamente para fazer uma opção em consciência, ao regressar decidiam precisamente não ficar !
Falo no pretérito porque desconheço totalmente se a realidade continua a ser a mesma hoje, mas naquela altura os kibutzim eram mantidos por um fluxo constante de aderentes de fora para dentro e constantemente “sangrados” de dentro para fora.
Foi conversando com um jovem dissidente que havia abandonado um kibutz que compreendi perfeitamente a questão:
Embora reconhecesse que agora a vida era mais difícil e que vivia materialmente pior justificou-se assim:
- Se você aguenta passar um dia e outro dia e um mês e um ano e vários anos, enfim toda a vida, a comer numa mesa e a conversar com a mesma cara à frente e a mesma cara no seu lado direito e a mesma cara no seu lado esquerdo, pode gostar dos kibutzim, eu não suportei isso.
Este simples argumento fez-me mudar totalmente toda a minha filosofia social.
Foi mais eficaz do que os milhares de páginas que tenho lido sobre o tema !

2007-06-09

Diferenças culturais

Para os ingleses parece muito estranho que os inspectores que investigam o desaparecimento de Madeleine tenham almoços de 2 horas.
Para mim, com a mesma irracionalidade, é estranho ver os pais de Madeleine correrem o mundo em jacto particular emprestado e gastando o dinheiro da enorme onda de solidariedade, penso que com efeitos contraproducentes para a investigação e para o presumível sofrimento a que estarão sujeitando a menina.

2007-06-06

De regresso às lides

Depois de umas curtas férias sem “net”, sem notícias, deixo-vos um pouco do que ficou desses momentos: o belo poema, mataram a tuna, de Manuel da Fonseca que ainda há poucos dias ouvi recitar num momento mágico.

Mataram a Tuna

Nos domingos antigos do bibe e pião

saía a Tuna do Zé Jacinto
tangendo violas e bandolins
tocando a marcha Almadanim.

Abriam janelas meninas sorrindo
parava o comércio pelas portas
e os campaniços de vir à vila
tolhendo os passos escutando em grupo.

Moços da rua tinham pé leve
o burro da nora da Quinta Nova
espetava orelhas apreensivo
Manuel da Água punha gravata!

Tudo mexia como acordado
ao som da marcha Almadanim
cantando a marcha Almadanim.

Quem não sabia aquilo de cor?

A gente cantava assobiava aquilo de cor...
(só a Marianita se enganava
ai só a Marianita se enganava
e eu matava-me a ensinar)
que eu sabia de cor
inteirinha de cor
e para mim domingo não era domingo
era a marcha Almadanim!

Entretanto as senhoras não gostavam
faziam troça dizendo coisas
e os senhores também não gostavam
faziam má cara para a Tuna:
que era indecente aquela marcha
parecia até coisa de doidos:
não era música era raiva
aquela marcha Almadanim.

Mas José Jacinto não desistia.
Vinha domingo e a Tuna na rua
enchendo a rua enchendo as casas.
Voavam fitas coloridas
raspavam notas violentas
rasgava a Tuna o quebranto da vila
tangendo nas violas e bandolins
a heróica marcha Almadanim!

Meus companheiros antigos de bibe e pião
agora empregados no comércio
desenrolando fazenda medindo chita
agora sentados
dobrados nas secretárias do comércio
cabeças pendidas jovens-velhinhos
escrevendo no Deve e Haver somando somando
na vila quieta
sem vida
sem nada
mais que o sossego das falas brandas...
- onde estão os domingos amarelos verdes azuis encarnados
vibrantes tangidos bandolins fitas violas gritos
da heróica marcha Almadanim!

Ó meus amigos desgraçados
se a vida é curta e a morte infinita
despertemos e vamos
eia!
Vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era a Tuna do Zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim!

Manuel da Fonseca

Este poema, eu diria a marcha Almadanim, deu-me a coragem necessária para as guerras que se avizinham.

Muitos especulam sobre esta marcha Almadanim, como seria esta marcha ? porquê Almadanim ?

O que mais me cativa a mim, todavia, são “os tempos antigos do bibe e pião”.
Que mundos de significação estão encerrados nesta imagem de Manuel da Fonseca !