2008-10-28

Isto de estar reformado dá muito trabalho

Agora que eu pensava que ia ter tempo de sobra para encher o blog de novas “bocas” foi puro engano, afinal ando mais ocupado do que nunca.
Espero sinceramente que seja apenas uma fase passageira e que nunca volte a ter saudades do “dolce far niente” do meu trabalho diário.

2008-10-22

Nova vida

De há uns dias para cá que tenho andado ocupado naqueles pequenos mas importantes afazeres que me permitam levar os anos que me restam da melhor maneira possível.
Reformei-me da função pública, há novas rotinas a construir, não é o fim nem o princípio, é apenas uma nova etapa.
Para todos os que profissionalmente conviveram comigo ao longo dos anos escrevi uma carta que já enviei para todos os e-mail que consegui encontrar e continuarei a fazê-lo, mas sei que não vai chegar a toda a gente que eu queria.
Deixo então a carta aqui para que chegue também a alguns colegas e amigos que por vezes consultam este blogue e dos quais eu já perdi o contacto.

Caros colegas e amigos

Escrevo para vos dizer que atingi aquele estatuto que me coloca mais próximo do “sonho português”, a vida gratuita.
Pois é, o Estado concedeu-me agora a pensão definitiva de aposentação.
Acabou ! terminaram 36 anos de convivência, na prosperidade e na pobreza, na saúde e na doença, por entre tempestades e calmarias que me trouxeram prazeres e dores, mais prazeres do que dores, felizmente, e que eu recordo já com saudade.
Tudo começou na Missão de Extensão Rural de Angola, nos serviços mais bem organizados onde alguma vez trabalhei e onde me senti a contribuir para uma obra e onde uma obra se começou a fazer em mim, aprendi muito lá.
Depois vieram os anos do “PREC” e da reforma agrária que me ensinaram também muito, mais sobre a história e a condição humana, visto que me permitiram viver um período único e dificilmente repetível.
Vieram então os anos de formação profissional, onde pude conhecer grande parte dos técnicos do Ministério, corri todo o país, e onde um pequeno grupo de técnicos entre os quais eu, iniciámos as acções de formação em gestão para dirigentes cooperativos, acção inovadora no momento, com um grande impacto e enorme sucesso.
Uns anos se seguiram em Trá-os-Montes, aí como dirigente, anos que me deram oportunidade de contribuir ou, pelo menos, não empatar demasiado o que foi um período de ouro do seu desenvolvimento.
Por fim o LEADER, o programa mais belo e utópico que a Comissão Europeia concebeu.
Aprendi imenso aí também e, sinto orgulho de ter levado a missão a bom porto, sem cair na facilidade de desistir do sonho e deixar o tempo e a “realidade” fazer o inevitável: Pôr a utopia no seu lugar que é nenhum.
Por todos estes lados fiz amigos, muitíssimos, e alguns inimigos também, mas estes poucos.
Nesta vida em comum sinto que dei mais ao Estado do que do que ele me deu a mim, mas não tenho ressentimentos, fui recompensado de muitas outras maneiras, cresci bastante.
Estava disposto a continuar, não fosse o Estado se ter cansado de mim.
Aceitei o divórcio por mútuo acordo.
Começo uma nova vida.
A todos que tanto me ajudaram e me ensinaram, o meu muito obrigado e, podem ter a certeza de que não me esqueço de ninguém, nem mesmo dos que já não estão presentes na minha memória.
Continuarei sempre à disposição.
Até sempre.
Nuno Jordão

2008-10-15

Ainda a crise financeira

Eu sei que depois da intensa campanha de informação que eu tenho proporcionado neste blogue a este respeito, julgo que já ninguém terá dúvidas sobre a natureza do problema.

Deixo aqui mais um esclarecimento que, infelizmente, está só em inglês e sem legendas.
Com as minhas desculpas a quem tem, talvez a felicidade, de não entender o Inglês deixo aqui para os outros a mesma explicação, só que agora em Inglês que nestas questões financeiras soa sempre melhor.
Vejam atentamente até ao fim.

2008-10-12

A crise financeira 2

Como bem me lembrou o Adriano, hoje vemos nos telejornais e em quem devia ter vergonha, falar da actual crise financeira mundial usando uma linguagem mais forte do que a que estávamos habituados a ver em literatura anarquista de circulação limitada.
Termos como casino, produtos tóxicos, realidade virtual, para designar a actividade financeira entraram finalmente no “main stream”, espero que não sejam só palavras mas que conduzam a alguma meditação.
Para continuar a chamar os bois pelos nomes, deixo-vos aqui a versão de Chico Buarque, já escrita há anos:

O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé

O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português

O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa luta
Grita(ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotado
'Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assutador

Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais o/Que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber

A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Banco/Do Brasil

O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador

Este chega/Pro galego
Nega arrego/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçom

O garçom vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação

2008-10-10

A Euribor lá cedeu

Parece que foi de propósito.
Mal acabei de publicar a minha crónica anterior a Euribor desceu um pouco a sua taxa.Apesar de ser um passo no bom caminho, eu continuo atento.

Falta de confiança ou golpada ?

O sistema é concebido assim:
O Banco central Europeu determina a taxa de juros de referência ou seja a taxa de juros que cobra à banca pelos empréstimos que faz.
Os Bancos naturalmente não se financiam todos e sempre no Banco Central, até porque há limites ao crédito que este fornece, mas antes uns com os outros a taxas negociadas entre si mas que, como é evidente, se forem muito acima das do Banco Central , lhes permite sempre dizer: “a essa taxa exagerada não quero vou antes ao Banco Central à taxa de referência” É assim como eu que tomo uma bica a 55 cêntimos no café à frente de casa mas não a tomaria se me cobrassem 1Euro porque dando mais uns passos a encontraria a 50 cêntimos.
A partir da média das taxas utilizadas em empréstimos interbancários, através de um algoritmo de cálculo, determinam-se as taxas Euribor que são a base utilizada pelos Bancos nos empréstimos aos seus clientes. Euribor mais um pouco, naturalmente, a que se chama “spread"
Esta é a lógica do sistema, naturalmente a Euribor deve ser ligeiramente superior à taxa de referência do Banco Central e a taxa real que nós clientes pagamos ligeiramente superior à Euribor.
Mas não é nada disto que se está a passar. Por falta de confiança dizem.
Ora uma gestão “chico-esperta” dos bancos o que é que pensa ?
“O melhor é eu financiar-me a uma taxa de referência, baixa, e emprestar a uma Euribor alta e mais “spread”, assim é que eu ganho bem”
Como se pode fazer isto ?
Financiando-me no Banco Central à taxa de referência (que é o que os analistas dizem que se está a passar dominantemente) e fazendo uns empréstimos “fantoches” entre bancos a uma taxa elevada para manipular o tal algoritmo de cálculo e fazer subir a taxa Euribor.
Não sei se é isto que se passa mas suspeito bem que sim, tanto mais que o Banco Central (certamente porque também desconfia que isto se está a passar) baixou os juros de referência e retirou ontem todos os limites que tinha aos créditos que concede, facilitando ainda mais o acesso dos Bancos, mas mesmo assim a Euribor subiu !
Falta de confiança dizem especialistas, a mim parece-me é que é confiança a mais.

2008-10-08

A crise financeira

Uma história exemplar

Há dias que dormia com dificuldade, devia 1000 Euros ao meu vizinho Baptista, que todos os dias me interpelava na escada:
“Então vizinho quando me paga os mil Euros? Sabe que eu também tenho os meus compromissos, preciso desse dinheiro para pagar ao meu primo Valdemar os mil Euros que ele me emprestou.”
Eu respondia-lhe já com a convicção de ser uma desculpa esfarrapada:
“Desculpe-me lá vizinho Baptista, o que tenho mal dá para viver mas não tarda nada a minha amiga Adelaide vai-me pagar 1000 Euros que me está devendo e assim que os receber vão logo para si”
Era isto, só que Adelaide se queixava do Valdemar que lhe devia 1000 Euros há um rôr de tempo e assim como é que ela me pagava ?
E assim fomos vivendo em sobressalto com discussões diárias, desculpas sem nexo e noites mal dormidas.
E quando ia assim, pensando nos meus problemas, sem saber como os resolver, a providência interveio.
Ali no chão, à minha frente, encontro uma carteira esquecida, apanho-a e vejo lá dentro, para além dos cartões do dono, 10 notas de 100 Euros, precisamente os mil Euros que eu precisava para pagar ao Baptista.
No dia seguinte quando encontrei o Baptista foi a primeira coisa que fiz: “Sr. Baptista, como vê sou uma pessoa de palavra, tome lá os 1000 Euros que eu lhe devo”, “Muito obrigado caro amigo agora já posso pagar ao Valdemar”, respondeu-me ele.
No outro dia quando estou com a Adelaide diz-me ela: “O Valdemar finalmente pagou-me o que me devia, toma lá os teus 1000 Euros.”
Agradeci, peguei nos 1000 Euros e voltei a metê-los na carteira achada, telefonei ao dono (o contacto estava escrito num cartão de visita que também constava da carteira).
O dono ficou radiante, já tinha perdido a esperança de encontrar a carteira, ainda por cima com o dinheiro dentro, quis-me dar alvíssaras mas eu disse-lhe logo:
“Não se preocupe, o Sr. nem imagina o problema que me resolveu”, daí a bocado batia à minha porta para levar a carteira que prontamente lhe entreguei.
Daí para a frente, nunca mais dormi mal.

2008-10-07

É isto Portugal

É ali, na Alta de Lisboa que está o cruzamento da vergonha.
É um ponto onde desembocam 5 vias e há carros de todas elas que querem ir para todas elas.
Se quiserem podem ver o filme abaixo que dá uma ideia de como tudo se passa nas horas de maior movimento, vai-se fluindo assim: “com licença, com licença, desculpe lá !”



Nas horas de menor trânsito o problema é ainda maior, o cuidado é menos, a velocidade é mais e ninguém controla simultaneamente todas as 5 vias.
Quando passo próximo dou voltas complicadas apenas para não me arriscar ali.
E isto é conhecido há anos, há estudos feitos, há propostas, há reclamações permanentes, só não há acção, estão certamente à espera que alguém morra, porque é muito mais excitante.
No outro dia, um grupo de cidadãos, pela calada da noite, construíu a rotunda que se impunha e a ordem chegou ao lugar.
Há estudos que a recomendavam mas nem era preciso haver, a vantagem é óbvia, entra pelos olhos dentro, como se pode ver no outro filme que regista a curta vida desta rotunda popular.




O que se passou então: A Sra. Câmara, da inacção, da inércia, do empurra para a frente, do amanhã talvez, teve um surto de actividade, actuou, deu cabo da obra ao fim de 2 dias para dizer quem manda: “rotunda sim mas só quando eu quiser!”.
É por estas e por outras que eu também não voto, só quando me apetecer.

2008-10-04

Acabou o tempo

É tudo o que vejo e ouço na média.
- Acabou o tempo da facilidade, diz o nosso Sócrates
- Acabou o tempo do emprego para a vida, diz Ferreira Leite
- Acabou o tempo de se poder financiar apenas uma grande ideia, diz Daniel Beça.
- Acabou o tempo de … diz toda a gente.
E dizem tudo isto com um sorriso nos lábios, com a satisfação de quem sabe mais do que os outros, sem se envergonharem do seu próprio fracasso.
Eu espero o dia., que está para breve, em que poderemos dizer: “acabou o tempo de V. Exas !”.

2008-10-03

O estado do Estado

Depois de uns dias nas “ilhas esquecidas”, no meio do Atlântico, os Açores, volto a casa e vejo isto.
Na questão do casamento homossexual, o PS não dá liberdade de voto aos seus deputados e exige o “não” por falta de oportunidade.
A questão está bem, percebem, só que agora não é oportuno, talvez mais pela tardinha.
Como dizia Eça de Queirós, sobre a reforma da carta constitucional, ainda vamos ver no Borda de Àgua: dizer qualquer coisa como isto: em Outubro planta o repolho mas não aproves o casamento homosexual, espera pelas chuvas de Inverno e por uma noite de lua cheia”.
E, para estas razões tão sérias é claro que não pode haver liberdade de voto, não vá o diabo tecê-las, embora, se a disciplina de voto é a regra, como parece, e se compreende (quem quer ver aquelas luminárias a pensar pela própria cabeça ? e que perigos daí poderiam vir?) o que não se percebe é para quê elegermos tantos deputados, bastava um com um número de votos proporcional à votação, seria muito mais barato e transparente.