2004-12-29

Susan Sontag

Morreu hoje.
Um espírito muito lúcido e corajoso no triste contexto da actual intelectualidade Americana.
Felizmente a sua obra continua viva.

Nem de propósito

Para reforçar com factos o que procurei dizer no poste abaixo, atentem nesta notícia que acabo de deparar no "Portugal Diário", com o título: "Milhares de Turistas Estrangeiros Mortos"
Eis a lista dos "milhares" de mortos já confirmados referidos nessa notícia:
Itália - 13 mortos
Suécia - 6 mortos
Noruega - 13 mortos
Áustria - 4 mortos
Reino Unido - 15 mortos
França - 22 mortos
Dinamarca - 3 mortos
Bélgica - 2 mortos
Alemanha - 4 mortos
Polónia - 1 morto (provável)
Finlândia - 1 morto
Brasil - 2 mortos
Estados Unidos - 13 mortos
Canadá - 3 mortos
África do Sul - 2 mortos
Austrália - 6 mortos
Nova Zelândia - 1 morto
Filipinas - 8 mortos
Coreia do Sul - 3 mortos
Se não me enganei nas contas, tudo somado dá 130. É este o número que nos demonstra a realidade dos "milhares" de turistas mortos.
Centenas, milhares. é tudo a mesma coisa, Who Cares ?

Os números da tragédia

A ligeireza com que se manipulam números nos média é uma constante, milhares ou milhões é, mais ou menos, a mesma coisa.
Não falo da cólera e outras epidemias, já anunciadas, que aí vêm e que irão matar ainda mais gente do que os tsunamis, ou seja, para cima de mais 70 000 pessoas, cá ficamos à sua espera.
Falo mais da informação que no dia da catástrofe ouvi incrédulo em diversas rádios e televisões: mais de um terço das vítimas eram turistas em férias !
Como estão já registados cerca de 70 000 mortos, e o número de turistas parece ainda não atingir os mil, somos levados a pensar que, para a comunicação social, um turista, como nós, vale, pelo menos, por 25 "macacos" asiáticos.

A lama e o atasqueiro

Assim como no mundo futebolístico o "sistema" é um fantasma translúcido e sem cabeça que mina subtilmente, uniformizando e manietando tudo e todos, tornando inútil qualquer gesto ou acção de boa vontade, anulando com a sua peçonha paralisadora a acção do mais correcto, bem intencionado e competente dirigente; no sistema partidário em que vivemos também existe um fantasma semelhante:
Não se chama o "sistema", chama-se a "máquina" mas a sua acção é em tudo parecida e ninguém a sabe regular.
Independentemente da maior ou menor qualidade dos candidatos que se perfilam para assumir o comando do país, continuamos a não ter opção real.
Só há duas escolhas: a lama ou o atasqueiro.

2004-12-27

Época de Natal

O período natalício que vivemos de "febre" consumista, ruas enfeitadas, pais natais da coca cola trepando varandas, cânticos de natal entoados por milhares de telefonias, o mesmo espírito presente aparentemente em todo o mundo, trouxe-me à memória uma entrevista que em tempos ouvi a um jovem escritor brasileiro, cujo nome não retive e que como bolseiro, penso que da Fundação Oriente, percorreu durante um ano a China profunda, procurando inspiração para escrever um livro.
Nessa entrevista em que jovem autor exprimiu algumas das suas impressões de viagem, retive dois dos aspectos, para ele mais marcantes:
A desilusão que lhe causou a verificação da prática do budismo, que tinha no seu imaginário como uma religião sábia, "pura" e tolerante mas que viu na prática ser hierárquica e prepotente como as outras mais nossas conhecidas. mostrando a constância da condição humana sempre presente em todos os caldos culturais.
A ilusão da universalidade, dizia ele: já imaginaram uma sociedade onde valores e referências para nós fundamentais e sempre presentes, ainda que subconscientemente, são totalmente irrelevantes e ignoradas, onde nomes como Bach, Beethoven, Jesus Cristo, Maomé, Da Vinci, Platão, Sócrates, não significam nada, absolutamente nada ? No entanto essa é a realidade na vastíssima China rural, mostrando como a globalização parece não ser ainda, tão global assim.

2004-12-15

Prepara-se o ritual

Como sempre, os "opinion makers" começam já, e continuarão a fazê-lo, a apelar para a elevação no debate, a exposição das diferentes ideias, a apresentação de intenções e propostas de governo.
Como sempre, os partidos vão ignorar tudo isto, vão uns criticar e outros defender o que foi e não foi feito, vão insultar-se elegantemente e, por vezes mesmo, menos elegantemente, para gáudio dos jornalistas que venderão mais jornais, expondo a sua superior postura e comentando o "ao que isto chegou".
Como sempre, de todos os debates e independentemente do que lá se passe, todos os comentadores irão dizer que se ficou pelos aspectos comezinhos, que não se debateram ideias que no entanto, um ou outro, candidato gaguejou menos ou mais, foi mais ou menos brilhante, nas suas "piadas", que teve boa ou má apresentação e correrão rios de tinta em acesas discussões sobre estes aspectos e sobre quem ganhou o debate.
Como sempre, o povo assistirá divertido a este espectáculo e no dia 20 de Fevereiro, se não chover muito, irá votar em quem já sabe hoje, em A ou B, porque é um gajo porreiro e nunca em A ou B porque é um malandro que só quer "poleiro".

2004-12-13

MAD TV

Conhecia a revista desde a minha juventude e sempre que, raramente, encontrava uma “MAD” nalgum quiosque, juntava os meus parcos escudos de estudante para a comprar, ler e reler.
Agora durante os meus “zapping” apanhava vagamente alguns pedaços de “sketches” que me pareciam meio destrambelhados e longe da ironia fina da velha revista.
Foi nas 24 horas de MAD TV que a SIC comédia nos ofereceu no feriado de quarta-feira que prestei mais atenção a esta versão televisiva. Tenho de reconhecer que o humor corrosivo, acutilante e politicamente incorrecto da velha revista está lá, ainda hoje.
Não se deixe mal impressionar pelo aparente humor fácil de “pastelão na cara” que é sugerido numa visão menos atenta, veja um ou dois episódios completos e verá então que tudo tem um sentido.
A partir daí é um “must”.

2004-12-09

Notícias do dia

Ouvido na SIC Notícias:
1. O CDS-PP, diz que ouviu o Presidente com muita atenção mas continua a não perceber nada.
2. Santana. Lopes tinha já a intenção de se demitir só que o Presidente antecipou-se.

2004-12-04

Um vector não é uma seta

Dizia-nos solenemente o velho Professor nas longínquas aulas de cálculo vectorial.
- As setas são apenas representações gráficas de um vector e não o vector, ele mesmo.
Esta insólita afirmação solene do óbvio, parecia-me, no momento, descabida.
Com o tempo e a experiência, porém, o reconhecimento da importância da precisão da conceitos, de não confundir alhos com bugalhos, começou a assumir em mim a dimensão de uma cruzada necessária.
Assistimos diariamente, a todos os níveis, a inflamados debates de surdos e não admira que se não consigam consensos quando as premissas originais são tão diversas.
Vem isto a propósito da actual situação, onde ouço constantemente debater a “destituição do Governo” decidida por Sampaio, extraindo-se consequências e atribuindo-se as intenções mais diversas.
Como o meu velho professor eu tenho que dizer:
- Não obstante o Governo ir, a curto prazo, sair, a realidade é que Sampaio não decidiu a sua destituição.
O que está em discussão é apenas e só a dissolução da Assembleia da República, a concretizar nos termos constitucionais e, naturalmente, as respectivas consequências.

2004-12-01

A nódoa

Há já vários dias o Solistência recordou, com grande oportunidade, a actualidade profética de Eça de Queirós, expressa nesta citação do mestre:
"Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa."Eça de Queirós
E aqui está o que se passou, a nódoa do governo Lopes está prestes a desaparecer, tem sido difícil mas está quase a sair. Só que parece que desta vez não foi com benzina, no século XXI temos já outros recursos poderosos.
Os produtos utilizados foram diversos:
Primeiro, Marcelo bioactivo com glutões cor de rosa.
A seguir, decisivo, Cavaco fórmula extra, de dupla acção.
Finalmente, Henrique Chaves de acesso de profundidade que remove a sujidade oculta e não deixa auréolas.
O resultado é garantido, a nódoa vai definitivamente sair, apenas ainda se receia que o tecido tenha sido irremediavelmente afectado.
Esperemos que não.