2004-07-20

A minha Pátria é a Língua Portuguesa

Vou-lhes contar uma pequena história passada em Szczecin, no Noroeste da Polónia, mais precisamente na chamada Pomerânia.
Para um ou outro leitor menos familiarizado com o polaco adiantaria que o SZ se pronuncia mais ou menos como X em português, o CZ como TX (ou o CH transmontano) e o C como TS. Com estes pequenos rudimentos de informação penso que se torna pronunciável aquele arrazoado de consoantes que denomina a cidade de Szczecin.
Acabado de fazer o meu “check in” num hotel de Szczecin, telefono à minha mulher para lhe dar conta de que estava vivo e bem e, quando termino esta chamada, sou surpreendido pela simpática e bonita recepcionista que me pergunta com toada brasileira:
Fala português ?
Logo lhe disse que sim, naturalmente, dado que até era português como constava no passaporte que ele tinha acabado de consultar. O surpreendente mesmo é que ela o falasse com fluência, sendo polaca.
Logo me contou a história da sua vida, vivida parcialmente no Brasil, história essa que não obstante o seu interesse é totalmente irrelevante para o que quero dizer aqui.
O que importa é que desse momento em diante passei a ser VIP naquele hotel e era um imenso prazer, no meio dos franceses e polacos que me acompanhavam, poder ter aqueles momentos de privacidade no meio do público.
Mais do que a comunicação privilegiada que pude estabelecer o mais importante, para mim, foi a comunicação que se deixou de estabelecer com os meus companheiros, permitindo-me, pela primeira vez, estabelecer uns momentos de comunicação exclusiva, reservada e íntima.
Nestas férias que acabei de passar, durante o EURO, o local transbordava de estrangeiros das mais diferentes origens e muitas vezes tentei adivinhar curioso que comentários teceriam aqueles Suecos, Dinamarqueses ou Noruegueses, dado que nem esse pequeno segredo consegui desvendar ao certo.
Por outro lado o inglês que se ouvia por todo lado era transparente incapaz de esconder qualquer segredo, nunca aqueles anglófonos poderão sentir aquele pequeno prazer que eu senti em Szczecin.
Foi então que se me tornou mais clara a expressão de Pessoa que coloquei em título, a língua é de facto muito mais do que um código de comunicação está mesmo na essência da nossa identidade.
Tive então alguma pena dos ingleses, americanos etc pelo enorme esforço que fazem para dar a sua língua a todo o mundo mas, ao fazê-lo, é um pouco da sua identidade que oferecem também e que vão perdendo para si.

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