2008-09-26

NIRVANA

Ainda a propósito do massacre finlandês.

Os Nirvana foram um efémero incêndio criativo que lavrou de 1987 a 1994, ano em que morreu, com uma aura de mistério, Kurt Cobain, seu vocalista e criador.

Para mim, era um grupo notável, um pequeno oásis de qualidade num deserto de mediocridade.
Com um mínimo de interesse, por aquele tempo, de entre os grupos de rock, mediáticos, apenas me recordo dos The Cure e dos Simple Minds, certamente haveria outros que não me ocorrem.

Como já referi aqui, a minha noção de arte, tem a ver com a comunicação do indizível, o tentar despertar em nós sensações ou sentimentos que pertencem apenas ao nosso imaginário e não se explicam ou transmitem, só através da arte, se tivermos o necessário talento.

A música dos Nirvana transmite-me, faz-me sentir, aquele mal-estar de que falava duas crónicas abaixo, toda a música ou todas as músicas. Ironicamente sempre chamei a todas elas a música dos Nirvana, no singular, por me parecerem todas a mesma, neste contexto, independentemente das diferenças melódicas, rítmicas, de nomes e das letras, em todas elas, sempre aquele mal-estar, aquele absurdo, aquele incómodo, as repetições de palavras ou de frases curtas até à exaustão numa postura quase autista e alienada: stay away, stay away, stay away, stay away …

"In bloom", serve de exemplo como poderia ser qualquer outra, no vídeo torna-se tudo ainda mais aparente, a adesão dos ou das fans, exageradíssima, desproporcionada, idiota e sem sentido e em toda a performance, aquela misturada de ambientes com apelos a diferentes épocas e diferentes contextos, onde tudo está errado, toda aquela sensação de que as coisas não jogam independentemente de tudo funcionar, com um resultado, virtual, quase cómico se não anunciasse a tragédia, aligeirando-a assim, banalizando-a.




A letra é quase uma só ideia repetida várias vezes. Realcei os últimos versos que são todavia iguais a quase todos os outros versos mas a mensagem está lá, repetida, repetida sempre.

In Bloom

Sell the kids for food
Weather changes moods
Spring is here again
Pray for darker grounds

He's the one
He likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
And I say
He's the one
He likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
And I say yea

We can have some more
Nature is a whore
Who's is on a prude (?)
Tender age in bloom

He's the one
He likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
And I say
He's the one
He likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
And I say yea

He's the one
He likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
And I say
He's the one
He likes all our pretty songs
And he likes to sing along
And he likes to shoot his gun
But he don't know what it means
Don't know what it means
Don't know what it means
Don't know what it means
And I say Yea

2008-09-25

Declarações de Sócrates, ontem na assembleia

Sócrates afirmou ontem na assembleia que quer ver menos ganância dos especuladores financeiros.
Estas declarações, demonstraram a sua argúcia (ganância, quem diria ?) e têm a eficácia de quem diz ao leão que o ataca:
- Sr. Leão, por favor, tem que ser menos agressivo !

2008-09-24

A propósito da matança na Finlândia

Estes actos desesperados e criminosos de assassinatos aparentemente indiscriminados, praticados em escolas e que se vão repetindo, sobretudo nos EUA mas também já noutros países do dito 1º mundo, como agora na Finlândia, são um sinal evidente de um crescente mal-estar que esta civilização global e homgeneizadora vai produzindo.
Não sei se não será o tal mal-estar da civilização que Freud teorizou.
Mas o que é mais triste é constatar como esse sentimento de revolta, profundamente individual, arrasta estes jovens para liquidação, liminar e gratuita de muitos dos seus pares. Os outros.
É como se para esse "Eu", qualquer "Não Eu" se representa como um agente do mundo opressor cuja eliminação, ainda que simbólica, redime.
E é esta alienação total, "só eu existo", esta perda de irmandade com os outros que urge combater a todo os custo.
Deveria estar entranhado nos genes, que nunca, nunca, nunca se pode matar voluntariamente um nosso semelhante, salvo em situações extremas e raras, para evitar a morte de nós próprios ou de outros nossos semelhantes.
Mas como se entranha este valor quando vemos a leviandade com que os próprios Estados com o apoio da opinião pública, aceita essas barbaridades, indignas dos seres humanos racionais que somos e que se chamam “guerra” e “pena de morte”.
Não mais me esqueci de um desses jovens assassinos, ex-militar, declarar na altura da sua prisão.
“Já matei muita gente e fui aplaudido pela sociedade e condecoraram-me por isso, agora que matei pouca gente, condenam-me, porquê ?”
Eu, de facto, também não sei !

2008-09-17

Quando eu entrar em falência

O que espero mesmo é que alguém me dê também uma injecção financeira.

2008-09-16

Afinal a economia é uma ciência oculta

Tudo o que se aprende nas escolas a respeito de Economia é uma mera fachada da verdadeira ciência que só é do conhecimento de iniciados.
Esses iniciados são os administradores públicos e que por isso mesmo são regiamente pagos, e tem reformas chorudas ao fim de poucos anos.
Nós nem suspeitamos, da concentração, do esforço e do sacrifício que todos aqueles rituais iniciáticos comportam para lhes proporcionar o acesso à luz.
De vez em quando, porém, há uns que se descaem e revelam parte dos seus segredos.
Eu tive a sorte de presenciar um desses momentos de fraqueza de Ferreira de Oliveira, Presidente Executivo da GALP. Muito instado pelos ignorantes jornalistas que na sua pequenez pensavam que sendo a gasolina petróleo refinado, o preço deste iria condicionar o da gasolina.
Ferreira de Oliveira, muito enfadado com toda aquela ignorância nossa de comuns mortais, lá deixou descair parte do segredo revelado e explicou-nos:
Isto do preço do petróleo e o da gasolina não têm nada a ver um com o outro, só um néscio ignorante pode pensar uma coisa destas, é muito natural até que descendo o petróleo, como tem descido, já para baixo da barreira dos 100 Dólares/barril, a gasolina tenha de subir.
E nós que pensávamos que não era assim, temos que dar graças a Deus, de ter nestes lugares quem verdadeiramente sabe destas coisas.
Se calhar nós baixávamos a gasolina e o mundo ainda era capaz de desabar, safa!

2008-09-14

Sobre o conceito de valor 2


Na minha busca incessante pelo conceito de valor, estou a ler o livro de Brillac Savarin “A fisiologia do gosto”.
Savarin é um nome mítico na comunidade gastronómica, não obstante ter publicado este livro em 1826, há quem veja nele um percursor da ultra moderna cozinha molecular na qual pontua actualmente Ferran Adrià e, por todo o mundo muitos discípulos, entre os quais o nosso excelente Luís Baena, entre outros.
Nesse livro vem narrada uma pequena história que pode suscitar múltiplas reflexões sobre esta questão central: o conceito de valor.
Passo a transcrever, até porque é deliciosa:

“Um dia viajei com duas damas, acompanhando-as até Melun.
Não havíamos partido muito cedo, e chegámos a Montgeron com um apetite que ameaçava destruir tudo.
Vã ameaça: a estalagem onde parámos, embora de boa aparência, esgotara as provisões: três diligências e duas carruagens de correio tinham passado e, como os gafanhotos do Egipto, devorado tudo.
Isto foi o que disse o chef.
No entanto, vi a assar no fogo uma apetitosa perna de carneiro e à qual as senhoras, por hábito, lançavam olhares muito coquette.
Infelizmente, os seus olhares eram mal dirigidos. A perna de carneiro pertencia a três ingleses que a tinham trazido e esperavam sem impaciência que assasse enquanto bebiam champagne.
“Mas pelo menos”, disse eu num tom meio tristonho, meio suplicante, “o senhor podia misturar uns ovos com molho da carne desse carneiro. “Contentávamo-nos com esses ovos e uma chávena de café”. “Com certeza, não há problema” respondeu o chef , “o molho da carne é propriedade nossa por direito, e vou providenciar o que me pede”. E pôs-se logo a abrir os ovos com cuidado.
Quando o vi ocupado, aproximei-me do lume e, tirando do bolso uma faca de viagem, desferi na perna do carneiro proibido uma dúzia de profundos cortes, por onde o suco haveria de escoar até à última gota.
Tive então o cuidado de observar a cozedura dos ovos, para que nenhuma distracção nos viesse prejudicar. Quando estavam no ponto, peguei neles e levei-os para a mesa que nos haviam preparado.
E ali nos regalámos e rimos como loucos, pois na realidade devorámos o substancial da perna de carneiro, deixando aos nossos amigos ingleses apenas o trabalho de mastigar o resíduo.”


Savarin sabia onde estava o valor da perna de carneiro e roubo-o aos ingleses. A história não relata mas, provavelmente, os ingleses, depois de tanto champanhe nem se aperceberam que a perna já tinha perdido o seu valor.
Também nesta questão do bom e do mau existe um efeito de placebo.

2008-09-11

O conceito de valor

Se há problema sério que tenha ocupado o meu espírito desde a minha juventude, sem que ainda o tenha resolvido, é este problema do valor das coisas.
O que é bom ou muito bom, o que é ser sofrível, mau, péssimo, por aí fora e isto na arte, nos bens materiais, nas pessoas, em tudo. Como se dá valores as coisas? Será algo universal, haverá o perfeito absoluto? Ou será antes uma mera questão individual de cada um de nós?
“Gostos não se discutem”, diz o povo, certamente porque sabe bem que não há juiz neste domínio, todavia há coisas de que toda ou quase toda a gente gosta e, vice-versa coisas que quase todos desgostamos. Será então uma questão estatística?
Hoje mesmo ouvi Manuel de Oliveira dizer que nem na sua obra, nem em nenhuma filmografia existe essa coisa a que se poderá chamar o filme perfeito, logo a seguir ouvi um admirador de Madona que considera muito próximo da perfeição qualquer coisa que recorde essa mulher, nem que seja uma velha lata de refrigerante com a sua imagem, coisa que eu deitaria para o lixo sem pestanejar. Ainda um pouco depois ou um pouco antes, falaram de umas cuecas de Michael Jackson que vão a leilão por uns milhões de dólares, enfim!
Resolvi então ir à raiz do problema e fui reler o Génesis para ver bem que raio de fruto comeram Eva e Adão arruinando a humanidade daí para diante e com bem poucas contrapartidas, não obstante Deus ter dito que agora, depois de comerem o fruto, eles se tornaram um de nós (DEUS).
Mas conta a bíblia que foi o fruto da árvore da ciência do bem e do mal e mesmo isso nós homens não aprendemos muito bem.
E eu que tinha esperança que fosse da árvore da ciência do bom e do mau, teria resolvido esta minha questão.
Se calhar não havia essa árvore no paraíso!

2008-09-08

A desonestidade intelectual pode chegar ao ponto do ridículo

Rajendra Pachauri secretário do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, o famigerado IPCC, e que é vegetariano, segundo o público de hoje afirmou que o consumo de carne contribui seriamente para o aquecimento global.
E porquê ? (vou transcrever exactamente o que está na notícia porque as palavras contam) porque “para produzir 1 Kg de carne de vaca são precisos 9 kg de comida para alimentar o animal. Por isso, mudanças na nossa dieta podem ter um grande efeito na ocupação de terra e na criação de gado – ambos contribuintes importantes para as emissões de gases com efeito de estufa que estão a alterar a composição da atmosfera da terra”.
Compreenderam ?
Eu não, embora saiba que os seres vivos da terra, homens incluídos, são emissores de CO2, aliás se o mundo fosse um deserto sem vida, haveria muito menos ou nenhum CO2 e isto é uma verdade científica insofismável, deve ser o mundo sonhado pelo Sr Pachauri. Sobretudo extinguindo as vacas porque mesmo que nós as não comamos elas, para existirem, continuarão a comer os seus fatidicos 9Kg de comida para fazer um quilo do seu corpo.
Por esta óptica, um genocídio humano em larga escala também contribui para diminuir a emissão de gases com efeito de estufa.
Talvez o Sr. Karadzic possa usar este argumento em seu favor, no fundo no fundo, ainda se vai ver que foi tudo para o bem da humanidade.

2008-09-06

A cerimónia de abertura dos jogos Paraolímpicos

Foi excelente no seu conteúdo e péssima, como vem sendo habitual, nos comentários da tv.
Primeiro aquele seguidismo, bacoco e pacóvia, à língua inglesa:
Em Inglês os jogos são “Paralympics” mas em português são Paraolimpicos ou, quando muito, Parolímpicos, para quem achar complicado as 2 vogais seguidas.
Sacrifique-se o “a” do prefixo e nunca o “o” da palavra principal.
Depois o profundo significado simbólico de toda a cerimónia, demonstrando a tese dos próprios jogos, que a noção de deficiência é relativa, que todos temos deficiências e talentos e há situações em que esse pequeno talento pode ser vital e suprir todas as outras limitações.
A cerimónia da chama paraolímpica foi comovente, no seu simbolismo ao ser conduzida por portadores, com vários tipos de deficiência diferentes, até à apoteose da subida, a pulso, de chama e cadeira de rodas até à pira olímpica (e é irrelevante todos os tipos de ajuda e de segurança tecnológica que terão sido usados) a mensagem simbólica estava lá patente.
O comentador porém só viu nisto um momento de enfado, interminável!
É claramente um comentador deficiente, espero que tenha outros talentos.

2008-09-04

Uma conservadora prafrentex

A escolha de Sarah Palin para candidata à Vice-presidência de McCain, foi classificada por vários analistas como sendo a resposta de McCain à ala mais conservadora do partido republicano que via McCain já demasiado esquerdista.
Mas depois descreviam vários traços biográficos que não me pareciam nada coerentes com as de um conservador empedernido, vejamos.
Ganhou em jovem um concurso de beleza.
Confessou em público que experimentou marijuana
É casada com um Esquimó
Exercia a actividade de pescadora juntamente com o marido
Tem uma filha de 17 anos que se encontra grávida.
Depois os supostos fortes argumentos conservadores:
É contra o aborto, dado que até tem um filho com trissomia 21 e até quis que nascesse apesar de saber que iria nascer assim e parece que diz a toda a gente: “o meu filho não é deficiente só tem um cromossoma a mais.
Defende a liberalização das armas.
A minha questão é a seguinte: será que ser anti-aborto e defender a liberalização do uso de armas é ser conservador ?
Para mim, longe disso, não se podem confundir posições tácticas partidárias, ditadas pela luta política, com meras questões de consciência pessoal que atravessam todo o espectro político.
O que este perfil me sugere é um espirito muito liberal e pouco conservador.
Creio até que Sarah Palin tem a maior virtude de todas e, tão rara que confunde os analistas que não lhe perdoam, não é autómato, pensa pela sua própria cabeça.

2008-09-03

Os políticos deveriam ser responsabilizados por aquilo que dizem

1. Sócrates, em Portugal, a propósito dos professores que não foram colocados, disse que o tempo da facilidade já acabou.
Eu bem sei, e a culpa é muito dele. Ao menos tenha a decência de não se vangloriar disso.
Nós queremos facilidades, cada vez mais facilidades, para dificuldades já bastam as que não se podem evitar.

2. José Eduardo dos Santos em Angola, a propósito das eleições disse que não era necessária alternância de partidos, bastava mudar as políticas erradas e remover os políticos que pensam mais nos seus interesses do que nos do país.
Depreendo que se irá demitir para dar lugar aos outros que põem Angola à frente dos seus interesses, se os houver, é claro.