2007-11-28

Mas onde é que eu já vi isto ?

“Depressa fiquei com a sensação de que ele, tal como o recordava, estava a penetrar em toda a parte, a infectar com a sua presença a maneira de pensar e a vida quotidiana de todas as pessoas, de tal forma que a sua mediocridade, o seu tédio, os hábitos cinzentos se tornavam a própria vida do meu país. E finalmente a lei por ele estabelecida – a implacável força da maioria, o incessante sacrifício ao ídolo da maioria – perdeu todo o significado sociológico, pois a maioria era ele.”

Vladimir Nabokov “Tiranos derrubados” in Contos completos

2007-11-21

Uma tarde no parque

Voltei ao parque infantil do Alvito, com os meus netos, 50 anos depois de lá ter estado eu próprio, várias vezes, de bibe e pião.
Trepar por umas gaiolas de ferro, que já não existem (certamente a UE deu-se conta de que elas matavam e baniu-as), era a minha brincadeira favorita, agora é o “barco dos piratas”, em madeira e cordas, que mais atrai as crianças.
Na popa do “barco dos piratas”, com vento de feição, viajava eu enquanto Pedro corria de uma ponta a outra do “barco”; “é ágil o meu neto”, pensava, quando senti o telemóvel vibrar-me no bolso. Quem seria àquela hora ?
Era o Adriano, meu filho e companheiro de blogue, onde já não escreve porque perdeu a “password”, e que me diz assim:
- Pai, ouve esta quadra !
A ligação estava péssima.
- Que quadra?
- Está no livro do Luiz Pacheco.
- É uma quadra do Luiz Pacheco ?
- Não, vem citada no livro dele mas é do Fernando Pessoa, ouve só
Pareceu-me ouvir o seguinte:

Sento-me frente a frente
E sei quem sou
Sou louco, obviamente
Mas que louco sou ?


Já procurei, em vão, se será mesmo de Fernando Pessoa e se será assim como a ouvi.
É que o meu filho acha que ela tem muito que ver comigo e eu, por acaso, também não deixo de achar.

2007-11-19

Eles dizem que foram enganados


Mas eu estou desconfiado de que o que querem é enganar-nos outra vez

2007-11-16

O Desbaste pelo alto, sempre ele

No Ministério da agricultura há pouquíssimos Directores Gerais dignos dessa função.
Digo pouquíssimos para não dizer 2 porque há um ou outro que não conheço e não quero cometer uma injustiça.
Hoje passou a haver pouquíssimos menos 1.
Parece que o Sr. Director Geral das Florestas não tinha a confiança do Sr. Ministro.
Presumo que confiará nos outros !

É minha intenção

Restringir o acesso a este blogue.
Só a minha falta de domínio informático e de HTML me tem travado mas eu vou lá chegar um dia, faço assim:
Ao acederem à página vão encontrar a seguinte mensagem:

Este blogue pode fazer mal a espíritos menos esclarecidos.
Para sua protecção e para que não perca o seu precioso tempo inutilmente peço-lhe que opte por uma das 5 respostas às seguintes 3 questões.
Se as suas respostas não coincidirem com as que nós entendemos como correctas a leitura deste blogue não lhe trará nenhum benefício, por favor regresse ao seu trabalho para merecer o salário que ganha.


As questões colocadas serão as seguintes:

A palavra Kafka associa-a a quê ?

1. Jogador do Bayern de Munich que marcou, com um pontapé de bicicleta um golo imortal que deu a este clube o título de Campeão Europeu de 1984.

2. Cientista sueco, prémio Nobel da medicina em 1942 que descobriu os mecanismos de propagação da herpes.

3, Escritor checo-eslovaco do século XX que escreveu entre outras obras os seguintes romances: “O processo” e “A metamorfose”.

4. Nada disto.

5. Tudo isto.


Unabomber será ?

1. Nome dado pelos americanos à bomba atómica lançada sobre Hiroshima no final da segunda Guerra Mundial. ?

2. Uma conhecida marca de bombas para encher pneus de bicicleta. ?

3. O nome porque ficou conhecido Theodor Kaczinski depois de matar 3 pessoas e tentar matar diversas outras através de dispositivos explosivos enviados pelo correio, a fim de denunciar e chamar a atenção pública para o que Almada Negreiros chamou, entre muitos outros, a “intrujice da civilização” ?

4. Nome porque ficou conhecida Linda Bart após ganhar o título de Miss Universo em 1987 ?

5. Uma marca de comida para bebés altamente saudável e energética ?


Osama Bin Laden é:

1. Uma expressão hebraica que significa “Os cães ladram mas a caravana passa” ?

2. Uma expressão árabe significando “Nem tudo o que luz é ouro” ?

3. Juramento maçónico, utilizado na Grande Loja do Oriente Lusitano ?

4. Fundador da “AL Qaeda” ?

5. Aventureiro, originário da Arábia Saudita, que colaborou com a CIA na libertação da ocupação soviética do Afeganistão.

Vão-se pois treinando

2007-11-15

Os fantasmas da história

O que me surpreende (ou não se pensarmos bem sobre o assunto) é que não obstante o mundo globalizado, o estonteante desenvolvimento tecnológico, as dicas e as tricas de cada dia que absorvem a nossa atenção e movem as nossas paixões, há um lastro de história, de cultura, de qualquer coisa, que se mantem presente, contamina a nossa racionalidade (ou dá-nos uma mais ampla racionalidade) e continua a condicionar as nossas opções e comportamentos mais simples.
Vi isto no Quebeque:
- « S`il vous plait, on va parler en français »
Vi isto na Bélgica flamenga:
- “I can speak French but please let’s talk in English”
Vi isto na Polónia, na Silésia, que até há poucas dezenas de anos era Alemã, vi-o no sorriso artificial dos empregados de hotel polacos para os hóspedes alemães que se transformava num temporário esgar depreciativo quando se voltavam para nós (não alemães) e comentavam “niemęc” (alemão) esboçando então um sorriso genuíno.
Vi isto na Hungria numa manifestação anti-judeus, que, segundo os organizadores, estão paulatinamente a recuperar o seu poder perdido na Hungria e vi também, por exemplo num mapa em pedra numa pequena aldeia húngara onde se desenhava a Hungria que somos, incluindo a vasta Tasmânia (hoje Romena) e outras áreas em mãos estrangeiras e, a Hungria que nos obrigam a ser com os limites oficiais actuais.
Vi isto em Israel onde parece que Moisés ainda os está guiando para a terra prometida.
Vi isto no meu amigo Bernard Ehrwein, francês de origem alsaciana que me dizia:
- Não suporto quando tiram o H ao meu nome.
E em Portugal, apesar dos seus 900 anos de fronteiras estáveis, vejo como chegou até nós o eco da humilhação nacional do mapa cor-de-rosa e mais recentemente, onde eu estive também, no espantoso grito por Timor que o mundo ouviu e respeitou.
O nosso Império foi construído sobre um monte de ignomínia, dizia lucidamente Eça de Queiroz mas a verdade é que foi o nosso império, feito por nós e é isso que conta.
E é assim que eu vejo o recente episódio do “Por qué no te callas” do Rei de Espanha:
Para a maioria dos espanhóis e dos portugueses, porque nisto somos irmãos do espanhóis, foi a resposta à altura dum grande da Europa, a um arrogante, malcriado e balofo índio mascarado de Presidente mas a quem falta a patine, muita corte e muito chá.
Para os muitos Venzuelanos afectos a Chavez (e deste nome Chavez e da língua que fala já não se liberta) foi mais uma prova da intolerável arrogância dos ex‑conquistadores, dos ex‑patrões para um valoroso Índio que tenta redimir a sua terra mãe de todas as humilhações passadas.
Não parece mas têm todos razão, as idiossincrasias é que são diferentes ! e ainda bem.

2007-11-10

Morreu um homem lúcido

Há quem diga que eu não gosto de americanos, não é verdade, do que não gosto é da América e do que ela hoje significa. Dos americanos apenas lastimo esse seu “handicap” natural que torna mais difícil o seu crescimento.
Manter a lucidez sendo nado e criado nos EUA é um facto notável, Norman Mailer, que hoje morreu, pertencia a essa categoria escassa embora também, felizmente, inesgotável.

Dilema

Hoje, durante o almoço, conversávamos sobre aquela agressão violenta e absurda de um jovem a uma, ainda mais jovem, passageira de um metro que há alguns dias se passou.
Foi em Espanha mas com a ajuda dos vídeos de vigilância e a multiplicação pelos media passou-se de facto em todo o lado onde foi notícia.
Do que falávamos, foi da passividade dos outros passageiros, que assistiram a tudo “in loco” sem que tenham tido um gesto para neutralizar o acto bárbaro como vai sendo corrente em situações similares.
Está alguma coisa podre no reino da Dinamarca, sem dúvida, o que será isto ? esta total insensibilidade ? esta ausência de sentido de justiça e de solidariedade ?
Será que por qualquer acaso se juntaram naquele dia, naquele momento, naquela carruagem do metro, uma série de homens e mulheres, todos, sem o mínimo caracter ?
Foi essa a conclusão que aparentemente extraímos dos factos durante o almoço.
Mais tarde tornou-se-me evidente que não, a razão tem que ser forçosamente outra.
Pensei mesmo no que faria eu se lá estivesse e sinceramente não sei o que faria, actuaria talvez ou talvez desculpasse a minha inércia fazendo-me pensar que acto tão insólito poderia ser qualquer iniciativa do espectáculo, qualquer “apanhados” enfim qualquer situação que não me dizia respeito e onde não teria o direito de intervir.
Era uma realidade feia de mais e este mundo aliena-nos tanto !

2007-11-04

2 histórias (reais ?)

História 1 – A Mãe Assassina
Na Madeira, há uma rapariga, egoísta, preguiçosa, que não quer trabalhar mas apenas cuida do seu prazer.
A sua vida dissoluta e a sua irresponsabilidade, (a pílula, toda a gente conhece) deu-lhe uma filha que não podia cuidar.
Ela, espertalhona, bem tentou sacar subsídios e apoios do Estado, que vendo bem a sua irresponsabilidade e muito bem, lhe recusou tudo, sem descurar todavia o problema da menina.
Ela (a mãe), que se lixasse, que continuasse o seu caminho para a perdição ou então que trabalhasse porque tinha um bom corpinho, assim ela o quisesse, mas a pobre menina teria que ser poupada aos maus tratos dessa mãe irresponsável, seria acudida pela sociedade numa instituição.
Incrivelmente a valdevina, raivosa foi à instituição e, sobre o pretexto de lhe dar uma laranjada, envenenou cruelmente a sua própria filha, que morreu, assassinada pela própria mãe (se é que se pode dar esse nome a esta criminosa).
Vendo que não tinha saída com a justiça, nem com a sua vida, em boa hora a mãe bebeu também do mesmo veneno e só não morreu (porque todos os diabos têm sorte) ou porque a sociedade a acudiu prontamente, mas há-de pagá-las mais tarde, se Deus quiser.

História 2 – A Desamparada
Na Madeira, ao Deus dará, vivia uma menina que, como todo o ser humano, lutava pela vida.
Todas as portas se lhe fechavam, e o único bálsamo para a sua vida só o encontrava entre os amigos e companheiros de infortúnio, até que um dia nasceu-lhe uma criança.
Então sentiu que nesse bebé estaria o seu tesouro, e todo o sentido para a sua vida.
Pediu ajuda, sabia que a sociedade podia ajudar em situações como esta, até tinha uma filha para criar (não há até o rendimento mínimo ou lá o que é ?) mas não, não era para ela, afinal era só para outros.
Não podia sobreviver nem dar à sua filha o futuro que merecia, diferente do dela.
Incrivelmente, a única resposta da sociedade foi tirar-lhe a criança, a sua própria vida.
Desesperada, sentindo que já nada fazia sentido, tomou a única decisão possível:
- Se a vida não nos quer, saímos nós !
Dirigiu-se à instituição onde estava a sua filha e ambas partilharam uma laranjada envenenada.
A sua filha morreu logo, ela, infelizmente, sobreviveu, até aí falhou !

Estas histórias, misturadas, ouvia-as na comunicação social, a história verdadeira, receio bem que nunca a saberemos.

Referendo

A participação, por vezes, permite melhorar a qualidade das decisões a tomar mas pode ter também uma função na legitimação das decisões tomadas.
Digamos que há uma razão honesta para apelar para um referendo mas também uma razão manipulativa.
É exclusivamente esta versão interesseira que tem guiado os “opinion makers” no debate sobre a oportunidade do referendo ao tratado Europeu.
Até ao momento não vi ninguém, mesmo ninguém, que demostrasse uma genuína vontade em conhecer o que pensam realmente os portugueses sobre o assunto.
Assim não preciso de referendo nenhum.

Adjectivos certeiros

A escolha das palavras certas nem sempre é tarefa fácil.
Por isso admirei Bagão Félix pelo seu acerto ao classificar a proposta de orçamento do Governo:
É um orçamento manhoso, disse.
Também António Lobo Antunes numa das entrevistas abaixo citadas, resumiu certeiramente a condição do povo português:
Desamparados referiu, os portugueses vivem desamparados.
Acho que é de facto assim que nos sentimos.