2006-08-31

Natasha e os Media

Impressiono-me sempre quando dramas profundamente individuais como, salvo as devidas proporções, os que todos vivemos e ultrapassamos sós, são apropriadas pelos media e se tornam públicos, devassados, infligindo maior dor a quem já a tem insuportável.
Foi assim com Gisberta, é assim com Natasha.
Para os media é tudo um circo de horrores, de “freaks” tratado com uma curiosidade mórbida aqui no nosso quentinho “ e ainda gostava do seu agressor a miúda !”, dizem.
Para se perceber Natasha não é lendo os media que se consegue é lendo Kafka, Dickens, Victor Hugo, Freud, tantos outros.
Que ideia têm os media da condição humana, para sugerir que não compreendem Natasha ? (é o sídroma de Estocolmo, dizem sossegando, está doente e até tem nome essa doença !) no entanto, a reacção de Natasha não é mais que o mais comuns dos comportamentos humanos que nos permite, aliás, sobreviver nesta selva em que nos encontramos, mas eles nunca perceberão isto.
Natasha já pediu, sem sucesso, “deixem-me em paz”, o que os media estão a fazer é satisfazer os seus interesses privados à custa de uma adolescente indefesa é exactamente o mesmo que fez o agressor de Natasha.

2006-08-28

Excelência 2

Um outro problema que uma meditação sobre a excelência poderá sugerir, poderá resumir-se nestas duas questões:
Haverá uma excelência absoluta, universal, reconhecida por todos, uma excelência para o mundo ? ou apenas uma excelência para cada um de nós ?
Haverá uma excelência permanente, impregnada em certas pessoas que determina todos os seus comportamentos, ainda que no exercício de uma actividade específica ? ou apenas comportamentos excelentes ?
Homens como Shakespear, Camões, Bach, Fernando Pessoa, Galileu, Sócrates, pertencem a uma lista interminável de personalidades excelentes para o mundo e excelentes em toda a sua obra, Shakespear, por exemplo, não escreveu uma única linha que não fosse excelente, que digo eu ? nem uma única palavra sem excelência; apesar disso, se considerarmos o universo de curiosos e estudiosos que conhecem as suas obras certamente haverá alguns que não deixarão de descortinar algumas nódoas, verdadeiras ou imaginárias ou ainda as daquele tipo que só se vêm de determinados ângulos, menos habituais.
Por outro lado haverá também muitos homens do mesmo estatuto daqueles mas que poucos conhecem e, pelo contrário, existem também os “anti-midas”, perfeitamente incapazes da excelência, e finalmente a generalidade dos homens com alguns momentos de excelência, que surgem como ilhas num mar de mediocridade.
Vejamos ainda um outro caso mais concreto:
George Steiner é, sem dúvida, um dos grandes pensadores do século XX, que perdura ainda e que pode facilmente ser colocado no domínio da excelência., seja por mim apenas, seja pela generalidade das pessoas que o conhecem e ainda por quem o não conhece mas que aceitará como bom este juízo generalizado.
Quanto a mim, já aqui falei do seu excelente ensaio “A ideia da Europa” mas podia referir ainda variadíssimos textos de uma obra vastíssima, traduzida em muitas línguas e divulgada por todo o mundo.
George Steiner é também uma figura mediática, reconhecida num vasto meio cultural para além do académico, constantemente solicitado para expor o seu pensamento em diversos contextos.
Para mim tem, além disso, algum interesse particular.
Partilho com ele algumas preocupações que não serão tão comuns e por isso reforçam essa aproximação, como o reconhecimento da importância da memória na aprendizagem e no conhecimento, essa memória que a minha geração tanto desprezou em favor da razão e a que chamava maldosamente “empinanço” e que quase baniu do ensino, assim que teve poder para isso, com os péssimos resultados que se vêem.
Manifesta também uma fascinação pela língua dos homens e o pelo seu mistério, fascinação que também me toca.
Na sua obra “Os Logocratas”, numa entrevista a Ronald Sharp aí reproduzida, Steiner afirma o seguinte:

“Todos os meus adversários, todos os meus críticos lhe dirão a mesma coisa: sou um generalista demasiado superficial num tempo em que isso deixou de ser possível, num tempo em que todo o conhecimento responsável só poderá ser especializado. Quando saiu a primeira edição de “Depois de Babel”, um linguista eminente, um homem já de idade, e que continua vivo, alguém que muito respeito – o grande sacerdote dos mandarins – assinou uma recensão que começava assim:
“Depois de Babel é um livro muito mau, mas, infelizmente, é um clássico.” Escrevi então, ao professor e disse-lhe que nunca uma recensão me honrara tanto, tendo em conta, o infelizmente que lhe tinha arrancado. O bastante para me contentar. Ele escreveu-me a seguir uma coisa extremamente interessante. Explicou-me que tínhamos chegado a uma fase em que homem nenhum podia cobrir todo o campo da linguística e da poética da tradução. ...”

Esta passagem, para além da questão vertente do conhecimento generalista versus conhecimento especializado, que releva de uma. angústia, muito presente em Steiner e que também partilho: a impossibilidade do homem sonhar sequer vira a ser um dia um especialista de tudo, a verdadeira excelência ? coloca-me ainda uma interrogação:
Depois de Babel é um livro excelente (dizem-me, ainda não o li), é um clássico, como refere o Professor citado por Steiner, todavia esse professor de excelência, nalgum aspecto superior a Steiner, como ele próprio reconhece, considera-o um mau livro ! Haverá assim uma excelência da excelência ?
E quem será esse Professor que presumivelmente só alguns privilegiados conhecerão e que Steiner se recusa a nomear ? porquê ?
Voltando à “vaca fria” das minhas questões iniciais talvez, no fundo, as respostas tenham que ser sempre “sim”, a todas elas.

2006-08-25

A Liga Bwin e a ONU

Do caso Mateus e da embrulhada que deu, penso que todos já se deram conta, é a mediocridade e a incompetência no seu melhor.
Primeiro uma disposição desportiva absurda de que um amador tem que passar por um qualquer limbo antes de ser profissional, isto mesmo sem se saber bem o que é isso de um profissional ou de um amador no desporto.
Os Jovens que o Sporting vai trazendo de Alcochete como outros de outros lugares são já profissionais ? Se calhar são.
Depois a decisão, tarde e a más horas: pune-se o Gil Vicente que ganhou porque prevaricou e vai-se buscar o Belenenses que perdeu (porque se chama Belenenses evidentemente), um mínimo de bom senso exigiria que mesmo punindo o Gil Vicente este deveria ser substituido pelo Leixões (próximo a subir), julgo eu de que..
Mas bom senso é coisa que vai faltando e a grande confusão está aí.
Nós espectadores anónimos temos tendência a dizer: “isto só em Portugal !”
Mas podemos descansar, a ONU parece estar contaminada pela mesma lógica de desenrasca mal: Decide reforçar a sua força que se interpõe entre o Líbano e Israel e para ultrapassar as politiquices põe no comando, agora a França e depois a Itália, não digo um francês e depois um italiano, digo primeiro a França e depois a Itália, foi assim que ouvi.
Quer dizer que a França e depois a Itália é que vão mandar nas forças da ONU, que são de todo o mundo.
A mim, espectador anónimo, só me ocorre um comentário: “isto só no resto do mundo!”

2006-08-23

Mais uma prova de que o tabaco mata

Os conhecidos desenhos animados "Tom e Jerry" apareceram a fumar e foram imediatamente eliminados para não corromperem as criancinhas.

2006-08-18

Gunter Grass

Visto por uns e por outros

Para uns (como Luís Delgado) Gunter Grass é um “filho da puta” que dedicou a sua vida a tentar lixar o mundo:
Logo aos 17 anos, pensa e vê claramente que são as “Waffen-SS” que causam mais danos, adere, obviamente.
Depois, o mundo muda, as SS são agora mal vistas e Gunter Grass procura outras formas de chatear o mundo, estragar as nossas vidinhas, torna-se de “esquerda”, pois então, e escreve, escreve que se farta, engana até esses palermas do Nobel que lhe dão um prémio.
Mas a verdade vem sempre ao decima e agora já se sabe toda a verdade, vai-se finalmente lixar.

Para outros (eu, por exemplo) Gunter Grass é um homem que procura o sentido da vida e reflecte sobre as suas opções.
Aos 17 anos deixa-se fascinar pelas tropas de elite que ainda dominavam o mundo.
Quando a Alemanha perde a guerra todo aquele mundo se desmorona, vê claramente como estava enganado, reinicia a sua busca e envergonha-se das suas opções passadas embora tenha também vergonha dessa vergonha.
Perto dos 80 anos procura estar em paz com sigo próprio e mostra-se nu, tal como é, um Homem.

Para outros ainda (Lech Wałęsa, por exemplo) este filho da mâe alemão (niemęc, dito com o “nie” bem arrastado e com um esgar de boca) nascido em Danzig, cidade supostamente alemã que nós (ele) ensinámos ao mundo que se chamava, de facto, Gdansk.
Fizemo-lo cidadão honorário desta cidade porque ganhou um prémio Nobel mas mostrou agora a sua verdadeira natureza de alemão: tire-se-lhe o título já.

Para outros mais (como alguns blogues) Grass é um chico-esperto que tem levado a vida a enganar todo o mundo.
Quer estar sempre na mó de cima e, para ganhar mais uns cobres, até revela agora (quando isso já não o afecta) que se inscreveu voluntariamente nas Waffen SS.
Dito agora até parece “chic” e a venda do próximo livro vai “bombar”.

Para muitos outros: Gunter Grass ? Quem ? mas afinal quem é esse gajo ?

No fundo todos nos projectamos na imagem que fazemos dele enquanto Gunter Grass será apenas ele próprio, provavelmente tudo isto e nada disto.

2006-08-17

Afinal, foi o ovo ou a galinha ?

Biologicamente parece não haver dúvidas, foi mesmo o ovo, é só aí que estaria o património genético capaz de conferir o estatuto de galinha, mas subindo a um nível mais filosófico a questão persiste:
O pre-galo e a pre-galinha que produziram esse ovo, ao terem esse potencial e ao transmitirem essa capacidade não seriam já uma espécie de galo e galinha, a ser ?

Vem esta, eterna, questão a propósito de uma justa crítica que o leitor do público, Rui Marques, faz às paupérrimas novelas televisivas de grande audiência chamadas “Floribela” e “Morangos com Açúcar”.
A que se deve o seu sucesso ?
Tratarão essas nódoas televisivas de um mundo fictício, pobre e irreal que as televisões manipulam de forma a suscitar emoções gratuitas numa juventude desprevenida ? Como Rui Marques parece acreditar.
Ou será que é essa juventude que as idolatra que é já tão pobre de ideias e de valores que se limita a contempla-las como quem se contempla num espelho ?
Toda a esperança num mundo melhor passa por uma resposta a esta questão.

2006-08-10

A Excelência

À medida em que a globalização e o pensamento único procuram homogeneizar tudo e todos, tentam também resolver a sua própria contradição, desenvolvendo mecanismos que permitam alguma diferenciação no caldo morno e homogéneo que geram.
Procuram obstinadamente a excelência.
Mas onde estará ela ?
Afortunadamente a excelência ainda abunda, como sempre, o que está é camuflada na massa amorfa. Não é fácil vê-la. Não grita nem muda de cor para ser vista.
Há dias assisti a uma rápida entrevista de Mário Crespo ao Professor Alexandre Quintanilha a propósito do mau desempenho dos nossos alunos nas provas nacionais, sobretudo de física e matemática.
O Professor resumia assim de forma simples mas lúcida a sua visão do sistema de ensino:
Para grande parte das pessoas, que apenas a isto aspiram, tem que se lhes dar aqueles conhecimentos básicos que lhes permitem ser bem sucedidos na sociedade e exemplificava:
domínio da matemática elementar, saber fazer contas, domínio da sua língua, saber falar bem, e também a prática razoável do Inglês como língua universal, que todos precisamos de conhecer além do conhecimento geral das letras e da ciència que permitam ter um código mínimo de referencias.
Para outros, profissionais de vários ofícios, tem que se lhes fornecer tudo aquilo que já se sabe nos respectivos domínios de conhecimento de forma a se tornarem profissionais esclarecidos e competentes.
Para outros ainda, é importante dar-lhes a capacidade para irem mais longe no conhecimento, para produzirem novos conhecimentos para o mundo.
Isto é uma pirâmide, dizia ele.
Para Mário Crespo era a ponta dessa pirâmide que se deveria alargar, todos deveriam poder estar nesta ponta, na "ponta da excelência", pensava ele.
- Todos os que querem devem poder lá estar, sem dúvida, respondia o Professor, mas nem todos querem, a pirâmide traduz apenas a realidade, nem todos querem ser investigadores nem seria desejável que todos o fossem.
- Então e a excelência ? perguntava Crespo, como poderemos assim ter um ensino de excelência ou para a excelência ?
- A excelência, respondeu-lhe Alexandre Quintanilha, está em todos os níveis da pirâmide, pode haver excelência num calceteiro, num canalizador, num jornalista, num estivador, num cozinheiro, e também não a haver mesmo no topo da pirâmide, num investigador.
Não sei se Mário Crespo interiorizou este conceito, receio bem que não.

2006-08-05

A morte solitária de Gisberta

Sobre este caso não basta escrever um poste, era preciso um tratado que não sei escrever:
Revolta-me a barbárie daquele crime gratuito, cruel, maldoso, continuado, gratuito, inumano.
Revoltam-me os comentários viscerais sobre a brandura da sentença, como se a enormidade do crime se apagasse, com a lógica de uma punição violenta daqueles miúdos atarantados, sós, enganados, estúpidos, perdidos, despidos de valores e referências, embriagados de hormonas, abandonados por todos.
Revolta-me a apropriação mediática, da Gisberta pelo “lobby gay” como se o estatuto sexual de Gisberta tivesse alguma relevância para o peso e o significado da barbaridade cometida.
Revolta-me a postura dos Padres que tutelavam a formação daqueles miúdos criminosos pela tentativa patética de branquear a sua própria inoperância e falência.
Eu apenas choro por Gisberta, “minha irmã” ou “meu irmão”, pouco importa, que maltratada pela vida,. nem na rua, no seu canto, foi deixada em paz.
Deixo-lhe em homenagem o poema de uma canção de Bob Dylan, que ouço desde os meus anos de juventude e que certamente aqueles rapazes nunca ouviram e que embora se refira a uma situação totalmente diferente, não deixa de ser a mesma situação.

The lonesome death of Hattie Caroll.

William Zanzinger killed poor Hattie Carroll
With a cane that he twirled around his diamond ring finger
At a Baltimore hotel society gath'rin'.
And the cops were called in and his weapon took from him
As they rode him in custody down to the station
And booked William Zanzinger for first-degree murder.

But you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face.
Now ain't the time for your tears.

William Zanzinger, who at twenty-four years
Owns a tobacco farm of six hundred acres
With rich wealthy parents who provide and protect him
And high office relations in the politics of Maryland,
Reacted to his deed with a shrug of his shoulders
And swear words and sneering, and his tongue it was snarling,
In a matter of minutes on bail was out walking.

But you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face.
Now ain't the time for your tears.

Hattie Carroll was a maid of the kitchen.
She was fifty-one years old and gave birth to ten children
Who carried the dishes and took out the garbage
And never sat once at the head of the table
And didn't even talk to the people at the table
Who just cleaned up all the food from the table
And emptied the ashtrays on a whole other level,
Got killed by a blow, lay slain by a cane
That sailed through the air and came down through the room,
Doomed and determined to destroy all the gentle.
And she never done nothing to William Zanzinger.

But you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Take the rag away from your face.
Now ain't the time for your tears.

In the courtroom of honor, the judge pounded his gavel
To show that all's equal and that the courts are on the level
And that the strings in the books ain't pulled and persuaded
And that even the nobles get properly handled
Once that the cops have chased after and caught 'em
And that the ladder of law has no top and no bottom,
Stared at the person who killed for no reason
Who just happened to be feelin' that way without warnin'.
And he spoke through his cloak, most deep and distinguished,
And handed out strongly, for penalty and repentance,
William Zanzinger with a six-month sentence.

Oh, but you who philosophize disgrace and criticize all fears,
Bury the rag deep in your face
For now's the time for your tears.

2006-08-03

Os juros estão a subir

Dizem-nos os “media” com aquela mesquinha satisfação de todos os profetas da desgraça.
- Agora a sua prestaçãozinha da casa vai subir, você está lixado, já reparou ?
E fazem todas as contas: quantos euros vamos pagar a mais. Entrevistam gente que se queixa da vida, mas que remédio, é a economia !
Eu vou pensando “pois bem, também a remuneração do nosso dinheiro investido vai ser superior” mas logo me desenganam, a notícia seguinte é que os juros dos certificados de aforro vão descer !?
E esta hem ? Quem é que me explica isto de maneira que se entenda ?
O que disseram foi que foi modificado o processo de cálculo dos juros dos certificados de aforro. !?
Quer dizer que temos que esquecer tudo o que aprendemos sobre matemática financeira, afinal há muitas maneiras de fazer contas. Até há umas que permitem remunerar menos juros quando as taxas de juro sobem !
Bom, se é assim, a minha proposta é a seguinte: alterem a forma de cálculo dos juros para compra de habitação de forma a que as prestações baixem quando as taxas de juro sobem, basta perguntar como aos que fizeram as contas para os certificados de aforro.

2006-08-02

Um Conto Exemplar

(Inspirado numa curta metragem que vi algures)

ANA e EVA

Ana e Eva eram duas irmãs de uma família humilde, criadas numa barraca, viveram uma infância simultaneamente triste e alegre, triste pelas privações materiais mas rica de amigos e de brincadeiras.

A história de Ana
Crescendo Ana, conseguiu um emprego de operária numa fábrica de confecções, com salário modestíssimo e trabalho intenso.
Conheceu aí um rapaz, operário como ela, de quem se engraçou, com quem casou e de quem teve 3 filhos.
Toda a sua vida reproduziu a vida dos seus pais. Um sacrifício imenso para criar os filhos e cuidar do marido, a quem foi fidelíssima toda a vida, até porque nem tinha tempo nem oportunidade para o trair.
Chegou a velhice, os filhos partiram para o mundo, o marido morreu alcoólico e Ana contraiu diversas maleitas que tornaram muito penosos os últimos anos da sua vida.
Um certo dia, ou melhor, uma certa noite a morte bateu-lhe à porta.
Mas Deus, que tudo vê, tinha acompanhado o sacrifício de Ana, ordenou que fosse levada, por Anjos, para o Céu, onde até agora está, gozando da sua justa recompensa e onde permanecerá para toda a eternidade.

A história de Eva
Eva conseguiu um emprego como a irmã, na mesma fábrica, mas não se conformava com aquela vida miserável.
Certo dia apareceu-lhe o Diabo, ele mesmo, sob a forma de um garboso e sedutor mancebo, que lhe propôs um contrato do tipo daqueles que o Diabo sempre propõe:
O Diabo satisfazia-lhe qualquer vontade, teria dinheiro e poder, mas ela deveria entregar-lhe a alma na hora da morte.
Eva não hesitou um segundo, perguntou logo “onde é que assino ?”.
O Diabo também assinou, entregou-lhe uma cópia e desapareceu..
A vida de Eva alterou-se num instante, no dia seguinte ganhou uma fortuna na lotaria onde nem mesmo tinha jogado. Comprou a fábrica onde havia trabalhado e ainda trabalhava a irmã e, depois desta, muitas outras fábricas e outras empresas.
Não casou mas teve imensos amantes, vivia em vários palácios em vários cantos do mundo e viveu todos os prazeres que a vida pode proporcionar.
Há até quem diga que foi feliz.
Mas a velhice chegou e com elas todas as doenças que ela foi debelando nos melhores hospitais e com os melhores médicos do mundo.
Mas a morte não a ignorou, bateu-lhe à porta também.
Foi nesse mesmo momento que Eva caiu em si.
Viu como toda a sua vida dissoluta tinha sido vazia e sem sentido e como tinha sido sempre má e mesquinha já que nem a sua pobre família tinha ajudado, nem a sua irmã e sobrinhos tinham sido aliviados do seu sofrimento, e como teria sido fácil para ela, mas havia-os esquecido, no turbilhão dos dias.
Sabia que dentro de breves instantes o Diabo iria reclamar a sua alma e para quê ? tudo tinha sido em vão.
Foi então que chorou profundamente e o seu coração se encheu do mais sincero arrependimento.
Como ela então desejava poder reverter o tempo para fazer tudo de novo e tudo diferente.
Porém Deus, que assistiu àquela contrição sincera, na Sua infinita misericórdia, olhou para as suas lágrimas e ordenou que fosse levada, por Anjos, para o Céu, onde até agora está, gozando a recompensa do seu arrependimento e onde permanecerá para toda a eternidade.

Parece é que o Diabo ficou bem furioso com a história mas foi muito bem feito para não andar por cá a desencaminhar as almas.