2003-12-21

Christmas sucks

Canta Tom Waits com Peter Murphy:
“This Holiday season is all the more reason to die”
Porque será que esta época, supostamente de amor e alegria, desperta em tanta, tanta gente esta espécie de melancolia mórbida ?
Enquanto não tenho a resposta, aqui vão os meus desejos de boas festas para os milhões de visitantes desta página.

2003-12-20

O pacto leonino

Manuela Leite decidiu vender uma quantidade enorme de impostos incobravéis ao City Bank. Parece que o valor acordado para a transação é de cerca de 1/6 do valor total dos incobráveis.
Considerando que essas dívidas já se arrastam há vários anos, que muitos dos credores já morreram ou as firmas se desfizeram que o Estado com toda a sua máquina já desesperava de ver daí um tostão, pensei que a recuperação de pelo menos 1/6 era já um evento de elevado risco para o City Bank.
Curiosamente, os jornalistas acharam pouquíssimo esse valor e anteviam uma grande negociata para o City Bank.
Mas o Governo já esclareceu os jornalista, se o City Bank conseguir cobrar mais, essa mais valia também vai para o Estado. Ou seja o Estado ganha sempre e tem todos os direitos, o City Bank tem todo o esforço e todas as obrigações e se tinha em mira algum proveito pode tirar o cavalinho da chuva.
Este tipo de contrato tem um nome: Pacto Leonino e é considerado nulo pela nossa lei.
Os jornalistas ficaram felizes.
Eu, pelo contrário, comecei a ficar preocupado, esta versão da história parece-me muito mal contada.

2003-12-19

Burqah



A polémica que percorre a Europa sobre o direito ao uso do véu, ou burqah, por estudantes islâmicas em escolas públicas europeias e que tem suscitado algumas crónicas em blogues como o abrupto e o Aviz, entre muitos outros, não é de facto uma polémica é uma aberração absurda, anacrónica, tonta, hipócrita e inadmissível. Tão absurdo como proibir que se leve um crucifixo pendurado de um cordão.
Polémico é que se admita discutir tal questão, na Europa, em 2003.
Parece afinal que os bárbaros, iconoclastas, não são só os Talibans.

2003-12-18

A Caravana

Entrei na Caravana, para um rápido repasto de febras.
À minha frente uma mesa de 6 operários da auto (qualquer coisa) Laranjeiro, debatiam-se com um cozido a portuguesa..
Disse operários mas não é verdade, havia operários sim, mas também um com aparência de administrativo e outro com aparência de capataz.
Todos iguais e todos diferentes nas suas individualidades, confraternizando em volta do cozido e de jarros de vinho da casa.
Corriam as histórias profissionais, os comentários à vida, um murmúrio permanente, entrecortado de gargalhadas.
No canto da mesa um “administrativo”, sempre calado, mas muito atento.
Fazia-me imaginar M. Stirner em tertúlia com Marx e Proudon.
Ao fundo da mesa um operário de bigode, forte e aloirado, dominava o ambiente geral.
Aqui e além o empregado, solícito, da Caravana perguntava se tudo estava bem, respondiam-lhe com leves acenos quase enfastiados para quem lhes perturbava o prazer do momento.
No fim, as inevitáveis bicas e uma garrafa esguia, cheia de ervas misteriosas e de um líquido dourado pálido, que era repartido por todos com evidente satisfação.
Senti inveja daquele bem estar, perguntei ao empregado pela tal bebida.... É a nossa bagaceira especial, diz-me.
Pedi-a também fui saboreando-a com o meu café.
Nisto, uns e outros olham automaticamente para os relógios e começam a levantar-se. Os semblantes mudam um pouco.
Seguem-se as contas amigáveis e sem problemas, mas desconfortáveis naquele fim de refeição: pegar em dinheiro agora, que mau gosto!
O silencioso, M. Stirner, faz o interface para a realidade comercial.
E todos saem, uns atrás dos outros, para mais meia jornada de trabalho.
A sua boa disposição passou para mim, bem hajam.

Debate no Parlamento

A oposição diz:
Raz traz paz ponga bonga catrapum zaz catrapaz
Responde o Governo:
Miau perlim pom pom tiu piu.
Nós... ficamos esclarecidos.

2003-12-15

Sadam



Dois factos me surpreendem nesta história da prisão de Sadam:

1. Já viram as barbas do homem ? Conseguir uma tal dimensão de barbas em apenas 7 ou 8 meses é um feito notável. Qualquer homem normal precisaria de pelo menos um ano. Isto digo eu, que percebo de barbas.

2. Pois então o teimoso obstinado insiste em dizer que não tem armas de destruição maciça. Coisa que todo o mundo sabe que tem e que até fundamentou a invasão do Iraque com elevadíssimo número de mortos e feridos de ambos os lados. É preciso ser atrevido.

2003-12-14

Constituição

Lá voltei de Varsóvia e, não obstante o meu polaco ser ainda muito elementar, lá me fui apercebendo que a carta constitucional europeia caiu num impasse porque a Espanha e a Polónia não se entenderam com a França e Alemanha no processo de distribuição de poder na futura União Europeia.
Não consegui perceber o que é que os outros Estados, como Portugal, por exemplo, pensavam sobre este assunto menor.
E fiquei também sem saber como ficou, se é que ficou algo definido, sobre aquela questão maior que condiciona o futuro de todos nós e sobre a qual tem havido um grande debate e grande preocupação em Portugal: Vai ou não haver menção à herança cristã na cultura europeia.
Questão tão importante assim meia esquecida e o pessoal, todo, distraído com os detalhes do processo de decisão interno.

2003-12-10

Varsóvia

Regresso, dentro de horas a Varsóvia.
Pela primeira vez ao serviço do Estado português, que tudo corra pelo melhor, espero.
Entretanto não sei se durante a minha estada, até Domingo, terei acesso à web para postar sobre os encantos da “stare miasto”, do palácio do governo ou o da cultura, ou qualquer coisa assim.
Não falharei, sem dúvida, um saboroso “żurek” seguido de um tão varsoviano pato com maçãs.
Isto me basta, por agora.

Notícias do dia

As forças dos EUA no Afganistão mataram 6 crianças, isto na sequência de outras 9 morta no Sábado mas foi tudo justificado porque foi uma operação para neutralizar um perigosíssimo terrorista.
Infelizmente, morreu também um americano o que põe em causa todo o processo de democratização e pacificação do país.
Se o perigosíssimo terrorista foi neutralizado, ainda não nos disseram.
Também, José Mourinho, a seguir ao empate com o Real Madrid disse que o dedicava este resultado a Pinto da Costa porque no seu vastíssimo currículo faltava-lhe ainda o não perder no Barnabéu.
Agora que Pinto da Costa já dorme descansado por não ter perdido no Barnabéu espero que deixe ao Sporting a proeza, mais comezinha, de ganhar a super liga nacional. O que é que isso interessa ao FC Porto agora que já não perdeu no Barnabéu ?
Entretanto começou a dança dos abutres sobre a carniça Iraquiana:
O lombo é para os EUA só, pois claro.
O resto para 63 países amigos que ajudaram, como Portugal, pois então.
Os malandros que se opuseram, a França, a Alemanha e a Rússia, podem só debicar o que cair das bocas dos outros.
Haja justiça.

2003-12-08

As Audiências

Nos anos 60 como agora:
“Sempre que um dono e senhor da Massicultura é censurado pela baixa qualidade da sua produção, responde automaticamente: “Mas é o que o público quer ! Que posso eu fazer ?” Trata-se, à primeira vista, de uma defesa simples e conclusiva. Mas, vendo bem, ela revela que: 1) na medida em que o público “o quer”, o próprio público fica dentro de certos limites pelo menos, condicionado pela referida produção, e 2) os esforços do dono e senhor da Massicultura tomaram essa direcção porque a) também ele o quer (não se deve nunca subestimar a ignorância e a vulgaridade de editores, produtores cinematográficos, dirigentes de rádio e televisão e outros arquitectos da Massicultura) e b) a tecnologia da produção de “divertimentos” de massa (e também neste caso as citações são prudentes) impõem um esquema simplista, repetidor, de modo a que seja mais fácil dizer que é o público a querê-lo do que dizer a verdade, isto é, que o público o vê oferecer-se-lhe e, por isso, o quer.
A Lebre Marçalina explica a Alice que: “Agrada-me aquilo que tenho” não é a mesma coisa que “tenho aquilo que me agrada”, mas a Lebre Marçalina nunca mais foi bem vista na Madison Avenue.”
Dwigth MacDonald - Masscult & Midcult

2003-12-07

Mitos modernos

Há vários mitos modernos interessantes de analisar, entre eles figuram o mito da ciência e o mito da formação.
Qualquer deles dava para escrever vários livros, além dos muitos que já foram escritos, mas neste “medium” bloguista, que impõe teses em “pastilhas”, limitar-me-ei, por agora, a falar um pouco do mito da formação.
A formação assume-se hoje com uma panaceia universal, é o que faz falta, proporciona a passagem do amador ao profissional (outro mito moderno), concede os conhecimentos e as qualidades necessárias para nos podermos afirmar. Quem tem formação tem tudo, quem não tem é um zero à esquerda, não tem nada.
Mas como o que faz, de facto, falta é avisar a malta, como dizia o poeta, aqui fica o meu aviso.
Há formação e formação e a generalidade da que se produz agora é a da pior qualidade.
Paulo Freire e Piaget, entre outros, já explicaram tudo o que se deveria saber sobre o assunto: formar não é despejar conceitos, noções e práticas sobre sujeitos passivos, moldando-os numa forma homogeneizada, produzindo réplicas de uma mesma coisa e anulando os dons, as experiências, a criatividade que cada um vai estruturando dentro de si. Deverá ser antes um processo de construção interna onde se equilibra nova informação numa parede já em construção.
Os programas “ídolos”, da SIC, e “a operação triunfo”, da RTP, são um exemplo claro e elucidativo destes aspectos.
Nos “ídolos” escolheram-se potenciais talentos onde se incorporaram algumas técnicas que permitiram ultrapassar as principais deficiências: Os resultados estão há vista.
Na “operação triunfo” procura-se fazer tábua rasa de tudo, criando monstros homogeneizados, replicantes , todos iguais uns aos outros, sem graça e sem chama (até porque nem os deixam bulir a chama de uma vela).
É uma autentica fábrica castradora de talentos.
O que se assiste aí é a uma verdadeira feira de vaidades de pseudo-formadores medíocres e frustrados.

2003-12-04

Nassíria

Porque insistem os jornalistas e políticos portugueses em chamar Nassíria à obscura cidade iraquiana onde se encontram os nossos GNR, quando ouvimos os próprios locais, assim como os italianos aliás, chamarem-lhe Nasaría.
É para mim estranho, tanto mais que, não obstante não saber um mínimo de árabe ou talvez por isso mesmo, ao ouvir Nasaría nunca deixo de me lembrar sempre da bíblica assim como da tão portuguesa Nazaré.

2003-12-03

Silêncio

Como já não há deus, nem bem nem mal, como já não há ideologias, nem sonhos em que acreditar, como já não há senão ruínas duma riqueza longínqua, já que esta estrela é feia e já que estou só; se os seres não me podem ajudar.
Eu rezo
Damien Saez (tradução minha)