2008-07-31

Sócrates errou a vocação

Ao ver Sócrates ontem apresentando os “Magalhães”, transpirando optimismo e com grande entusiasmo e convicção, bem atento às significativas vantagens daquelas máquinas nos seus mais ínfimos pormenores, percebi como falhou a sua verdadeira vocação.
Ganhamos um mau Primeiro Ministro e perdemos um excelente vendedor.

2008-07-29

O teatro do absurdo

Ionesco foi um dos grandes dramaturgos do teatro do absurdo, com diversas obras notáveis como a “Cantora Careca”, o “Rinoceronte” ou “As cadeiras”.
Na altura, anos 50 e 60 do século passado, fizeram furor pela sua originalidade, o seu arrojo e aquela dúvida que nos deixava sempre “será isto arte ? ou estarão a gozar comigo e eu a deixar ?”.
Passou o tempo e o teatro do absurdo saiu do “main stream”, mas ao ler hoje o seguinte esclarecimento do Jornal Público, foi de Ionesco que me lembrei:
“Na primeira página de ontem, escreveu-se, por lapso, e no âmbito do trabalho que comparou a nova tabela de preços do registo predial com a situação anterior, que "o custo dos notários para a compra e venda de casa com recurso ao crédito bancário é dos que baixaram menos". Como se compreende, não foi o custo dos notários que sofreu alterações, mas sim o preço dos registos, que são efectuados não nos notários, mas nas conservatórias. Pelo lapso pedimos desculpa aos visados e aos leitores.”
Será que alguém compreende do que é que o Público está a pedir desculpas ?
De ter dito que os custos dos notários é que baixaram menos quando afinal eles nem se alteraram (será que poderá baixar menos do que zero ?)
E o que é que se compreende ? e se se compreende (talvez lendo o artigo) porque é que nos querem explicar outra vez ?
Terão sido então os custos das conservatórias que baixaram menos e não os dos notários que afinal não se alteraram ? e então como é que os custos subiram ? (que era o tema da notícia).
Bom, seja o que for, o Público, por mim, está desculpado.

2008-07-28

Eles sabem-na toda

Na esteira de Sócrates que sabe tudo, o PS também diz que não precisa de lições de corrupção de Cravinho.
Pudera, eles são especialistas no tema.

2008-07-26

A geração rasca

Quando em 1994, Vicente Jorge Silva intitulou de geração rasca aquela camada etária que então frequentava a Universidade, certamente não imaginou o tremendo impacto que a sua designação iria ter e que, passados 14 anos, continua a suscitar debates e análises em Universidades e nos cafés.
Acertou em cheio. Rasca é uma expressão suficientemente rica e difusa na sua negatividade, par poder ser, ofensiva para uns e ostentada orgulhosamente por outros, como os que fazem este excelente blog e que em vez de a rebater, a interiorizaram e ostentam como quem afirma ao mundo “se nós somos os rascas olhem então para vocês, quão abaixo de rasca são!”
É a geração da minha filha Joana, é a geração dos filhos da revolução, geração que nasceu e cresceu sem os valores decrépitos do outro regime e sem ter ainda nenhuns novos para os substituir, daí a sua desorientação, mas são também eles que os estão a construir.
Como em todas as gerações há de tudo, do mais baixo e desprezível, infelizmente muitos como sempre, mas também alguns de génio que nos irão salvar.
Veio esta crónica a propósito da referência que ouvi no último programa de “Alma Nostra”, diálogos entre Amaral dias e Carlos Magno que se podem ouvir na RDP1 em “podcast" visto que passa a horas inconvenientes, como quase todos os programas que merecem ser acompanhados, diziam eles que é essa geração rascas que está agora a chegar ao poder.
È bem verdade, é gente que está hoje entre os 33 e os 39 anos, são já os quadros intermédios da administração e de muitas empresas, em breve estarão no topo.
Sejam bem vindos e devolvam-nos o bom senso, se possível.

2008-07-23

Radovan Karadzic

Eu tenho “mixed feelings” sobre estes Tribunais Internacionais que procuram num tempo de ordem e paz, com toda a calma e conforto, julgar factos que se passaram noutros tempos e noutros mundos, sem lei nem regras, como são todas as guerras
Não sei se isto é justiça !
A generalidade dos homens, penso até que todos, são capazes, em momentos e circunstancias diferentes dos actos da maior nobreza mas também dos da maior ignomínia e crueldade.
A história está repleta de exemplos. Muitos ou praticamente todos os nossos venerandos heróis cometeram actos de barbárie, a começar no Rei fundador e a passar pelos grandes descobridores e até Jesus Cristo que era o mais pacífico e tolerante dos homens, teve iras, chamadas justas.
Jubiabá, personagem do romance de Jorge Amado, falava num olho da crueldade e num olho da piedade que todos teríamos à nascensa, embora alguns tenham o olho da piedade vazado, dizia.
“A Condição Humana” de André Malraux aborda tudo isto magistralmente.
De qualquer forma Karadzic, de facto, excedeu-se muito em, pelo menos, tolerar actos de crueldade extrema, tortura, assassinatos e violações, terríveis.
Nenhum de nós faria isso, sentimos, mas nenhum de nós viveu aquelas circunstâncias também.
Eu, por mim, sigo o preceito cristão: “não julgues, para não seres julgado”
Seguramente estou convencido que naquelas circunstâncias nunca permitiria tais atrocidades, do mesmo modo e pela mesma exacta razão que nunca aceitaria ser Juiz neste Tribunal.

2008-07-22

O novo acordo ortográfico

Cavaco Silva já promulgou, perdão, ratificou (aprendi, entretanto isto com Vital Moreira) o dispositivo legal que rege as novas normas ortográficas, parece que em breve vai entrar mesmo em vigor.
Eu apoio, mas tenho um receio: será que Sócrates vai inventar uma coima ou alguma pena de prisão para punir quem não cumpra o acordo ?
Longe vá o agouro!

2008-07-21

Freud deveria explicar

Hoje no final do almoço vivemos numa interacção sem tempo e sem lógica, onde todos interviemos respondendo apenas a estímulos, palavras que suscitam outras palavras recolhidas em arcas de experiências que conservamos em nós.
Na sequência do ponto em que a conversa nos levou e que abordava as férias, o prazer e a liberdade das férias e o bom ar que alguém tinha por regressar de férias e após um pequeno passo para alusões sexuais como é comum nestas situações, sobretudo em grupos mistos, alguém disse assim: “sim, porque se pode fazer amor sem sexo e fazer sexo sem amor” mas logo se arrependeu, “não, não queria dizer isso, fazer amor sem sexo não faz sentido”.
Mas a acha já estava na fogueira, “não faz sentido porquê?” mas para ele, fazer amor ou fazer sexo tinha um elemento estruturante fundamental que conseguiu exprimir assim: “tudo passa por meter para dentro...”.
Esta alusão picante alimentou a sequência da conversa durante alguns minutos mais, mas eu desliguei-me nesse momento, firmei-me no postulado inicial (amor sem sexo), ocorreram à minha memória experiências passadas que ilustravam ou desmentiam o ponto e, entre elas, voltou, muito nítida, uma experiência singular e insólita que vivi um dia, há vários anos:
Dançava numa discoteca, sozinho entre outros sós, num fim de noite, como me era habitual. A música era de Doors, que tem o condão de descarregar em mim fluxos de seratonina ou de qualquer endorfina de prazer, o álcool também era quanto baste.
O meu olhar cruzou-se com o de uma outra dançarina solitária, que parecia sentir a música tal como eu, dançamos sempre sós olhando um para o outro intensamente, sentindo exactamente o mesmo, movendo os corpos em sintonia, em simpatia, até que no clímax da música se desencadeou, para mim, talvez para ela também, um orgasmo puramente cerebral.
Não nos tocámos, não trocámos palavra, desaparecemos, cada um para o seu lugar, para o seu grupo, mas para sempre eu sei que fiz amor sem sexo com aquela rapariga, ou terá sido sexo sem amor ou o quê?
Afinal só me ocorre a velha expressão de Hamlet:
“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio do que as sonhadas pela tua filosofia”

2008-07-20

Leonard Cohen

Eu, que não sou nada festivaleiro e dizia para comigo “só vou quando vier o Bob Dylan”, afinal ele veio e eu também não fui!
Mas ontem fui ver Leonard Cohen, nos seus 74 anos cheios de força e talento, que fizeram esquecer o desconforto de estar de pé, 3 horas, sem ter sequer uma parede para me encostar.
A música já a conhecia, sublime, a poesia linda, os músicos que o acompanharam, todos de alto nível e ele em grande forma.
Todo o concerto foi notável com um ponto fortíssimo: a interpretação de Hallelujah, como nunca a tinha ouvido, apesar de conhecer excelentes interpretações (disponíveis muitas no you tube) como as do próprio Cohen, de Jeff Bucley, de KD Lang, de John Cale e de Allison Crow. A de ontem superou todas.
Para que fique um cheirinho do que se passou ontem deixo aqui o poema de “Bird on the Wire” que ouvi ontem e, em baixo, em vídeo, uma interpretação de “Partisan” que não ouvi ontem mas cujo o tempo e o modo estão mais próximos do concerto de ontem.

“Bird on the Wire”

Like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Like a worm on a hook,
Like a knight from some old fashioned book
I have saved all my ribbons for thee.

If i, if I have been unkind,
I hope that you can just let it go by.
If i, if I have been untrue
I hope you know it was never to you.
Like a baby, stillborn,
Like a beast with his horn
I have torn everyone
who reached out for me.
But I swear by this song
And by all that I have done wrong
I will make it all up to thee.

I saw a beggar leaning on his wooden crutch,
He said to me, you must not ask for so much.
And a pretty woman leaning in her darkened door,
She cried to me, hey, why not ask for more?

Oh like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
have tried in my way to be free.

2008-07-17

O discurso de Manuela Ferreira Leite

Do que eu me apercebi dos breves trechos do discurso que me deram a conhecer via rádio a mensagem essencial foi a seguinte:
1. Este governo só faz merda.
2. Quando eu for governo vou fazer igual !?
Como Manuela parece ser uma pessoa sensata, presumo que será também merda mas de alta qualidade.

2008-07-16

Brincando com palavras

Eu, com o meu par, pari, Paris.
Onde plúmbeos pombos pontuam,
Cenário onde o Sena encena a cena,
E a torre torra ao sol.
Paris, Paris, paraíso para isto, para ir

2008-07-15

O canto da sereia

Fale-me de milhões, doutor
Afague a minha pele com um canto doce
Que me adormeça.
E não precisa atar-me ao mastro,
O canto dessa sereia
Não me desperta o desejo,
Apenas me adormece.
Fale-me de milhões doutor
Transporte-me para a dimensão da fantasia
Porque eu nem sei contar
Estou apenas nesse quotidiano morno
Navegando águas serenas de tédio.

Ouvindo o seu embalo.

Nuno Jordão

2008-07-13

Parafraseando Fernando Pessoa

Ao ler o poste abaixo, senti a tentação de me comentar a mim próprio, usando palavras que Fernando Pessoa dirigiu à condição de Major Reformado, no Livro do Desassossego.
Assim eu diria:
“Ser Deputado Europeu parece-me uma coisa ideal. É pena não se poder ter sido eternamente apenas Deputado Europeu.”

2008-07-11

Insensatez

Os Senhores Deputados Europeus, são naturalmente pessoas que viajam muito por toda a Europa, de país para país, seja de avião, seja de carro e naturalmente é nesse viajar que eles sentem um poucochinho dos problemas que o cidadão comum enfrenta em muitos domínios.
Falam muito ao telemóvel de uns para os outros e aperceberam-se que se paga couro e cabelo por chamadas em roaming, daí foram lestos em tomar medidas para que esses custos baixassem e fizeram bem, embora a nós esse problema só nos afectasse de tempos a tempos quando podíamos passear como eles.
Também as tarifas de avião lhes doem e também por isso já se mexeram para tentar baixar as tarifas dentro da Europa e eu também apoio embora pouco me toque.
Mas o creio que um Sr. Deputado exagerou bastante:
Queria ele estabelecer um imposto de 5 cêntimos/Km para todos os pesados que circulam em auto-estrada, não disse mas eu suspeito que esse senhor deputado se sente incomodado quando viaja no seu bólide pelas auto-estradas da Europa com tanto camião a empatar-lhe o caminho e propõe logo tirá-los do caminho, mandá-los para as estrada secundárias, sem se incomodar com os danos económicos que a sua medida provocaria.
Mas nós bem vimos recentemente como o transporte terrestre é actualmente o sangue vital que sustenta a Europa, “se você tem, um camião o trouxe” dizia verdadeiramente um cartaz que há tempos se via nas auto-estradas de França.
Se os pusermos a andar a 20Km/hora, uns atrás dos outros por essa Europa fora, o Sr. Deputado maneja melhor o seu bólide mas a Europa é capaz de morrer de trombose.

2008-07-07

O Conselho de Justiça da FPF

Ou, "a brincadeira de crianças"

7 meninos vão jogar à bola mas, por uma questão de amizades, 5 jogam de um lado contra os outros 2 da outra equipa.
Só que um desses 2 é o dono da bola.
Começa o jogo e os 5 dominam de forma avassaladora.
Que fazer ? pensa o dono da bola, “pelo menos um dos cinco não pode jogar” e assim determina que saia um, os outros opõem-se e gera-se a confusão.
Não vendo saída o dono da bola decide, “a bola é minha e não há jogo para ninguém” e sai com o seu colega de equipe levando a bola.
Os que ficam , raivosos, fazem uma bola de trapos, jogam e ganham sem qualquer oposição..
“Assim não vale” diz o dono da bola, “Vale sim senhor” respondem os outros.
E nós vamos pensando de que meninos gostamos mais e, assim opinamos se valeu ou não.
Para mim valeu.

2008-07-04

O jogo

Ontem nos telejornais, tanto na SIC como na TVI e não sei se mais, falou-se e debateu-se o jogo da bolha ou da roda e que mais não é do que uma das milhentas variantes do jogo dos postais.
Em resumo trata-se da formação de uma cadeia contínua em que os novos jogadores vão pagando aos que já lá estão na expectativa de virem a receber dos que entrarem depois.
Este sistema resulta sempre na medida em que haja novos entrantes mas como a população humana é finita, mesmo teoricamente, o sistema nunca pode ser sustentável e haverá sempre um momento em que não haverá novos entrantes e os que entrarem próximo deste final, presumivelmente muitos dado que o crescimento é em progressão geométrica, apenas pagam e não recebem nada.
O único risco está na previsão deste final, deste rebentar da bolha, até lá é lucro garantido.
As regras são portanto conhecidas, o risco calculado e não pode afectar senão a quem jogar.
Todavia, por qualquer razão estranha, quem costuma acabar com o jogo antes que ele desenvolva todo o seu potencial é geralmente a polícia.
Porquê ? não faço ideia, mas eles lá arranjam maneira de considerar isto ilegal, embora não tenha qualquer diferença de qualquer outro investimento especulativo, como os que se fazem na bolsa de valores e nos mercados de futuros, e costumam sempre estragar a festa antes do seu fim, tornando-se assim os maiores especuladores e os mais desonestos, porque têm a capacidade de determinar o fim que é o único elemento de incerteza a ser gerido.
Foi assim com a D. Branca. Eu ganhei com a D. Branca porque tive informações fidedignas sobre o final que se adivinhava pela introdução da polícia e me fez tomar a decisão perfeita de retirar o investimento no momento exacto, o mesmo já se não passou na bolsa de valores onde foi só perder.
Hoje não ligo a estes jogos de risco.
A minha questão é apenas uma: "Perigoso é, sem dúvida mas ilegal porquê ?"

2008-07-02

Breve reflexão sobre o poder na sociedade global

Ao procurar um equivalente em português para a expressão “empowerment”, actualmente corrente na problemática do desenvolvimento, o meu pensamento divagou sobre a noção de poder e as suas estruturas na sociedade contemporânea.
Depois reparei que havia alguma inovação na minha divagação e resolvi então resumir os seus aspectos essenciais e publicá-los aqui.

A sociedade humana sempre se organizou em relações de poder, entendendo-se por poder a capacidade de condicionar o comportamento de terceiros.
Quando convido alguém para jantar comigo e esse alguém aceita, posso dizer que tive poder sobre ele porque provoquei a alteração do seu comportamento e este tipo de relações é geralmente útil e desejável por todos dado que muitas vezes até procuramos que esse poder se exerça sobre nós, quando vamos, por exemplo, a um médico precisamente para que ele nos condicione fazendo-nos tomar medicamentos, fazer exames e até alterar rotinas de vida.
Neste tipo de relações todos nós temos momentos de poder sobre terceiros e outros momentos em que somos sujeitos ao poder de terceiros e é assim que vivemos em sociedade.
O problema surge apenas quando esse poder é exercido, sendo guiado exclusivamente pelos interesses do poderoso e contra os interesses do sujeito ao poder e quando se começa a estruturar, de forma, mais ou menos organizadas, em estruturas de poder.
Na sociedade actual há 4 estruturas dominantes de poder, a ver:
O 1º Poder é espiritual, transcendente, metafísico, apoia-se nas nossas crenças e temores, é apropriado por todas as igrejas seitas e religiões.
O 2º Poder provem da força é o do Estado e de todas as suas instituições, e aparelhos repressivos, inclui aquilo a que se chamam os poderes executivo, o legislativo e o judicial, que já foram considerados como poderes autónomos mas que não são mais do que articulações de um mesmo único poder, o poder dos Estados.
O 3º Poder provem do dinheiro e da capacidade económica e do controlo dos recursos, é o poder económico, cada vez mais prevalecente e dominador.
O 4º Poder fundamenta-se no domínio da informação, na formulação das agendas, é o poder dos “media”.
Todos eles têm as suas armas próprias, todos eles se degladiam ou cooperam, às vezes em alianças tácticas e estratégicas, procurando sempre, cada um deles, a hegemonia que quase alcançam por momentos em algumas zonas do mundo:
O 1º Poder é dominante em algumas sociedades, sobretudo islâmicas, o 2º Poder é hegemónico em algumas ditaduras militares, é o 3º poder que tende a controlar o mundo mas que sendo mais “low profile” exerce-se indirectamente, geralmente controlando os restantes poderes e, por último, o 4º poder sempre estrategicamente aliado ao terceiro mas com alguns momentos de independência e de afirmação própria.
A generalidade de nós está ao serviço de alguma destas estruturas de poder mas depois, temos uma vasta massa de deserdados sem poder algum, joguetes nas mãos dos diferentes poderes, utilizados por uns e por outros e por uns contra outros sem que eles próprios possam ter um mínimo de controlo das suas próprias vidas.
E é precisamente para estes que se inventou o tal ”empowerment”, termo muito em voga nas modernas correntes filosóficas do desenvolvimento e que até já tem uma tradução em português, já dicionarizada, pelo menos num dicionário, embora seja ainda ignorada pela maioria: ”empoderamento”.
Consiste afinal no ideal de proporcionar poder aos que não têm poder algum, de forma a permitir-lhes defenderem-se dos restantes poderes e serem assim mais senhores do seu próprio destino.
È uma ideia nobre e generosa, sem dúvida, mas parece apenas retórica, dado que ninguém empondera ninguém de livre vontade, excepto em situações pontuais e efémeras. Apenas em “zonas temporariamente autónomas”, os TAZ, teorizados por Akim Bay.
Por mim, resta-me esperar por um vácuo de poder porque também os há, ás vezes.