2004-03-29

Livro FERTAGUS 4

Não sei se ando distraído ou se há muitos pouca gente a escrever sobre um período determinante da nossa história, que muitos de nós viveram intensamente.
Refiro-me ao que tem sido chamado como PREC, mas não a Otelos, nem a Conselhos de Revolução, Governos Provisórios, campanhas do MFA e aspectos, como estes, da superestrutura e das elites e vanguardas do PREC, não, sobre isto ainda se tem escrito alguma coisa, ao que eu me refiro é à vivência de gente anónima, das suas esperanças e desilusões e dos seus pequenos papéis na vivência de um período histórico singular e único.
Mesmo entre gente da mesma geração, que viveu tudo isto, pouco se fala e se recorda, é como se fosse um sonho sonhado dentro de um sono colectivo do qual já acordámos e de que não nos lembramos ou não nos queremos lembrar. Muitos de nós mesmo já não nos reconhecemos nesse sonho. Conheço imensos pequenos casos de “amnésia” e todos conhecemos, casos públicos como o do nosso actual Primeiro Ministro, que já ninguém consegue, sequer, imaginar a roubar a mobília da Faculdade de Direito.
Vem isto a propósito do livro “Crónicas Portuguesas” de John Reeve.
O autor, luso-francês, nado e criado no nosso país, viveu tudo isto. Residindo agora lá fora, tem talvez a distância necessária para analisar vários aspectos da nossa evolução pos-PREC, relacionando os anos 90 nacionais, data das crónicas, com as vivências desses gloriosos anos 70.
Trata-se de um excelente e muito interessante livro, sobretudo para os da minha geração.

2004-03-28

Castigo

Norah Jones não canta mal, não obstante um timbre de voz que Deus ou alguns genes lhe deram e que tem algo que me é desagradável, compõe e interpreta melodias bonitas, mais interessantes que a generalidade da música que nos vem pelas playing lists das nossas rádio.
Mas a sua presença constante que nos é imposta pelos media, em entrevistas, clips, presenças nas rádios, começam a tornar-se insuportáveis.
Já não a posso ouvir, é de mais, basta, têm conseguido destruir uma promessa que podia ser interessante no panorama da música popular, actual.
Deixem a rapariga em paz.

2004-03-27

Excomunhão

Numa entrevista, que vi, a Norman Mailer, um notável escritor e jornalista americano, ouvi-o dizer o seguinte:
“Neste país, os EUA, ainda não matamos pessoas por delitos de opinião, mas somos capazes de as arruinar e de as impedir de ganhar a vida seja onde for.”
É, de facto, esta a grande arma da civilização ocidental, não mata de facto fisicamente os seus filhos, como fazem os bárbaros, porque é feio e suja tudo de sangue, mas acaba com as suas vidas lentamente, excluindo-as do sistema e impedindo-as de viver, tudo isto sem o menor remorso ou comoção.

A Case Study

O Inglês fica hoje muito bem nos nossos blogues, muitos o usam a torto e a direito e quem sou eu para destoar, aqui fica assim um título em Inglês.
Mas do que queria falar agora era de um processo em curso que merece ser analisado como um estudo de caso, refiro-me ao caso Villas-Boas.
O Reputado Psicólogo, Villas-Boas, Director do Refúgio Aboim Ascensão, entre outras ocupações de destaque, conquistou uma imagem mediática notável. Quem não se lembra de um recém-nascido abandonado no aeroporto de Faro por uma turista inglesa, que foi acolhido pelo Refúgio, não obstante uma guerra com a justiça britânica que foi ganha em favor do bom senso e dos prestimosos cuidados que aí tinha, salvando-a de uma mãe instável e potencialmente iníqua.
Acontece que, ciente do seu estatuto, o reputado psicólogo tem, certo dia, um deslize e comete um crime de lesa espectáculo, ao atacar a adopção de crianças por casais homossexuais.
Crime dos crimes, como foi possível afrontar esse esteio do poder actual e sobreviver incólume como figura mediática e reconhecida.
Na realidade sobreviveu, inteligente, como é, conseguiu passar por todas as provações, como aqui já me referi noutra crónica, conseguindo encontrar mesmo alguns aplausos tímidos de alguns sectores resistentes que encontraram folgo para vir ao de cima .
Mas, não sejamos ingénuos, será que sobreviveu mesmo ?
Os “masters” estão atentos e o crime foi demasiado grave, procuraram, espiolharam e encontraram outro crime hediondo: Não é que o Refugio não aceita agora crianças deficientes, porque não tem estruturas para cuidar delas dignamente, diz, mas isso que importa, com capacidade ou não essa restrição é intolerável.
Julgo que o caso vai continuar e só acabará com o completo ostracismo de Villas- Boas. Vou seguir este caso atentamente.

2004-03-25

Não restam dúvidas

Saltou no debate de hoje na assembleia aquilo que eu já temia: só há uma ideia para a luta contra o terrorismo, consiste em não fazer o que os terroristas querem..
Foi assim que Durão justificou a não retirada dos GNR do Iraque: Se o fizéssemos os terroristas iam pular de contentes, não o podemos fazer agora.
E fica por aqui o génio humano, reduzido a um comportamento reactivo e de sentido contrário, tu puxa daí que eu puxo daqui e vamos ver quem tem mais força.
O fundamental é não fazer o que os terroristas querem. Creio que está assim explicado o recrudescer do conflito Israelo-Palestiniano, já estou a ouvir Durão e companhia: A paz na palestina é o que os terroristas querem, com a nossa ajuda nem pensar nisso.
Parece-me que assim não vamos lá e vozes lúcidas como a de Mário Soares há poucos dias, apelando há compreensão profunda do fenómeno, são arrasadas pela direita e pela esquerda.
Agora, quero ir comprar o “Ensaio sobre a Lucidez”, de Saramago mas tenho receio que seja isso que os terroristas querem.

2004-03-23

Livros Fertagus 3

"Os conquistadores" de Andre Malraux.

O meu encanto com a "Condição Humana" e o facto de ter encontrado "Os Conquistadores", numa estante a que tive acesso, despertou a minha curiosidade por mais esta outra obra de Malraux..
A mesma temática, a revolução chinesa no início do século XX, sem atingir no entanto o mesmo nível no seu conteúdo humano. Lido mais recentemente, já quase não retenho nada dele, para além dos aspectos gerais, enquanto que da Condição Humana me recordo ainda de ínfimos detalhes e creio que não esquecerei nunca a descrição das duas tentativas falhadas de atentados a Chag Kay Check.

2004-03-20

O Furacão

Lembro-me de “Hurricane”, uma canção de Bob Dylan, da minha juventude, que nem sequer era uma das minhas preferidas.
A letra, começa assim:

Pistol shots ring out in the barroom night
Enter Patty Valentine from the upper hall
She sees the bartender in a pool of blood,
Cries out, "My God, they killed them all!"
Here comes the story of the Hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin' that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.


Está em negrito o que ficou gravado no meu cérebro.
Muitos anos depois vejo o filme, “The hurricane”, julgo que em português se chama “O Furacão” e que me conta a história cantada por Bob Dylan, que já não recordo em detalhe, com excepção de um pequeno aspecto da filosofia do “Furacão” sobre a resistência ao seu martírio:
Tantos anos na prisão, fizeram-me compreender que o poder das autoridades deriva da chantagem sobre as coisas desejáveis pela maioria dos presos: tempo livre no parque da prisão, horas de convívio com outros presos, alguns privilégios. A única forma de luta a que me dediquei foi a de aprender a desprezar todas essas coisas.
Para desespero dos seus guardiões, o “Furacão” começou a dormir de dia e a viver na sua cela, sozinho, acordado à noite dedicado aos seus prazeres pessoais.
Foi assim que bateu o sistema.
Eu, aprendi muito deste elemento de lucidez do "Furacão"
Mutatis mutandis, julgo que isto é uma lição de sobrevivência no nosso quotidiano.

2004-03-18

Basta

Não queria escrever mais sobre isto mas os minutos finais do telejornal da TVI de hoje fizeram-me saltar a tampa.
A TVI anda entretida em deixar sacos em aeroportos para dizer que ninguém os encontra, a TVI trás bombas fingidas na mala de carros e insurge-se de não ser vistoriada em parques de estacionamento e, oh crime dos crimes, nem na fronteira portuguesa de Vila real, que o ministro disse que ia ser reforçada.
A TVI faz campanha por um Estado Policial.
A TVI quer destruir o longo caminhar até Shenguen, numa só penada.
A TVI faz esforços desesperados para provar coisas que todos nós sabemos. Quem não saberá que pode levar uma bomba na mala do seu carro e numa mochila e rebentar com ela onde quizer ? É precisamente por isso que há terrorismo, capice ?
A TVI anda distrair os meios de segurança. Imagino os telefonemas nervosos de ministros tipo Arnault .

Finalmente, a TVI muda de tema e mostra meninos e meninas modelos e este final de declaração de uma menina de 11 ou 12 anos:
Menina: E vi um homem a olhar intensamente para mim.
Jornalista: E o que é que sentistes ?
Menina: Que a fama estava perto !!!!!!!!!!
Será que estamos todos loucos ou serei só eu ?

O que querem os terroristas

Leio na imprensa declarações do tipo "eu não deixo de andar de comboio porque isso é o que os terroristas queriam". Será que é isso que os terroristas querem que as pessoas não andem de combóio ?
Já no 11 de Setembro se fazia o mesmo raciocínio relativamente ao avião.
Também, para muitos, o voto dos espanhóis foi o que os terroristas queriam, até ouvi, na TSF, um deputado espanhol, que presumivelmente vê o tacho a fugir, dizer que não sabe quem vai mandar em Espanha se Zapatero ou Bin Laden !
Seria isto que os terrorista queriam, que ganhasse o PSOE ?
Eu penso que se estão nas tintas para tudo isto, mas isso não vem à questão agora, o que quero dizer é que procuro fazer o que quero e penso que me convém, sem me importar se é ou não é o que os terroristas querem.

2004-03-16

Os piões

Parei, nos meus zappings televisivos, num debate na 2 sobre a segurança rodoviária em Lisboa.
Falava um eminente convidado, fardado de GNR, apontando as devidas culpas aos piões, dado que a nossa atenção só se preocupa com os automobilistas mas os piões também são culpados (como se houvesse 2 raças, de piões e de automobilistas e não fossemos todos os mesmos).
Dizia ele, mais ou menos isto: Os piões habituados a atravessar a estrada em determinado sítio, que lhes é mais favorável, não se dão ao trabalho de procurar a passadeira que estará a 10 ou 20 metros e se vão para a passadeira atiram-se de qualquer maneira como se tivessem totalmente seguros.
Pobres piões, ninguém lhes faz as passadeiras nos sítios que lhe são mais convenientes tem de arriscar a vida em corridas e gincanas absurdas, todavia se prefere dar-se ao incómodo de procurar a passadeira para garantir a segurança, desiluda-se porque tem de passar na passadeira com os mesmíssimos cuidados.
Foi ele que disse e não eu, só não se questionou sobre os seus argumentos para atacar os piões e que afinal apenas os justificam.
Passeando por ruas de Paris, já me parei a meditar nesta coisa simples, afinal é possível fazer passadeiras no enfiamento dos passeios. Isto, que parece óbvio, é totalmente desconhecido em Lisboa, a cada quarteirão, para se seguir em frente, tem que se fazer uma chicane, todas as passadeiras estão deslocadas 1 ou 2 metros para dentro da rua que se atravessa, Porquê ? Vale-nos afinal o bom senso porque lá vamos seguindo em frente, fora da passadeira e, graças a Deus, escapando à multa.

2004-03-14

O uso dos adjectivos

Sobre o 11 de Março em Madrid a única contribuição, que li, que transcende os lugares comuns habituais destas ocasiões é o excelente poste da renascida Formiga de Langton denominado “Lógicas estranhamente "Booleanas"”, sigam o link.
O meu comentário de hoje vai apenas para o ror de vezes que vi adjectivar este acto terrorista, como aliás já antes, o de 11 de Setembro, e os seus autores, como covarde (“tímido e medroso”, segundo o dicionário Houaiss).
De facto, é dos poucos atributos negativos que julgo não lhes podemos imputar.
Chamemo-lhes assim: cruéis, desumanos, assassinos ou ainda, o mais apropriado de todos que foi, aliás, o que o povo espanhol, na sua sabedoria, mais utilizou: “Hijos de puta”.

2004-03-13

Livro Fertagus 2

Já aqui dei conta de uma recomendação de Eduardo Prado Coelho que me ficou a buzinar ao ouvido. Tratava-se do livro “Vivermos e pensarmos como porcos” de Chatelier.
O que li na crónica de Eduardo PC referia a excelência académica do autor, um notável e muito lúcido matemático, todavia bruto e desajeitado, que se deixou enredar pelo seu editor num título e capa ultra kitch que poderia distrair os potenciais leitores levando-os a comprar não gato por lebre, mas antes lebre por gato.
Seria assim um ouro que parceria falso.
Se não fossem estas dicas nunca compraria, de facto, este livro, tudo me fazia lembrar um qualquer artigo tipo “Readers Digest”, produzido por um académico daqueles que quando tem uma ideia escreve um artigo e quando tem duas ideias já escreve um livro.
Li-o e considero-o realmente um “livro marco” embora reconheça que não é para todos, é um livro difícil, muito próprio de uma certa cultura intelectual francesa, para o compreender tem que se ser já iniciado na lucidez.
Para mim tornou-se uma daquelas obras de referência, importante para compreender o mundo em que vivemos hoje, ao nível de outras que cito às vezes, como o admirável “Admirável Mundo Novo” de Huxley, o “1984” de Orwell, o ensaio sobre a cultura de Dwight MacDonalds, a poesia de Fernando Pessoa e também alguma de Almada Negreiros, a obra de Akim Bey, além de muitas outras que não descobri ainda.

2004-03-11

O maior cego é o que não quer ver

Quando a 25 de Setembro do passado ano escrevi sobre os mortos na estrada (os mais curiosos poderão pesquisar no arquivo ) e sobre a hipocrisia e consequente inutilidade das campanhas pela segurança rodoviária que elegem sistematicamente para combate os “moinhos de vento” do álcool e do excesso de velocidade, não fazia ideia deste estudo, agora publicado e referido neste artigo do público, que aponta, como eu disse então, o sono, como uma das principais causas de acidente.
Não obstante o título deste artigo, que releva do estudo, ser “sono ao volante mata mais do que o álcool” a notícia que vi na TV referenciando este mesmo estudo dizia: fica assim demonstrando que o sono ao volante, depois do álcool e do excesso de velocidade é a terceira causa de acidentes de viação.
É caso para repetir que o maior cego é mesmo o que não quer ver

O título deste blogue

Macacos-Deuses, não é, como alguns pensarão, uma dicotomia elegante que fica bem em qualquer reunião social, não, nada disso o que eu quero dizer com este título é simplesmente que todos nós, todos nós, todos nós, todos nós, quero dizer todos nós, eu, tu que me lês, mas também todos os notáveis e os miseráveis e os sem abrigo, Bach, da Vinci, Bush, Hitler, Dutroux, o Sr. Videira jardineiro, o Sr. Bin Laden, todos, todos, todos, somos:
Macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, macacos e Deuses, quero dizer macacos e também Deuses.
Hoje, em Espanha, morreram mais de uma centena de macacos, o que é triste, mas também, mais de uma centena de Deuses, o que é gravíssimo.
Aos Deuses que os mataram é preciso dizer, gritar um milhão de vezes, que se enganaram e não mataram macacos, mataram sim outros Deuses como eles.

2004-03-08

Opiniões

Charlotte prefere Julio Sosa a cantar “Cambalache”.
Ouvi com atenção esta versão que é, sem dúvida, também uma excelente interpretação, mas entre estas duas o meu coração não balança, prefiro Adriana Varela, de longe.

2004-03-07

Primeiro livro Fertagus

Referi abaixo que uma das maiores vantagens de viajar em combóio é a do tempo que se ganha para a leitura e disse também que aqui iria dar breve conta de algumas dessas leituras, a que chamarei livros Fertagus.
O primeiro livro de que vos dou conta é “A condição Humana” de André Malraux.
Confesso que foi a primeira vez que o li e foi mesmo a primeira obra de Malraux que passou sob os meus olhos. Foi-me recomendado por um amigo, cujo gosto e interesses literários preso muito e não me decepcionou, pelo contrário.
Diz o prefácio, de Jorge de Sena, que é um daqueles livros que não se poderá ler permanecendo indiferente, penso que é verdade.
O que me tocou neste livro é a forma brilhante como Malraux descreve, ao fazer-nos acompanhar a vida de diversos personagens actuantes no seio de um período histórico de grande importância, a revolução Chinesa no princípio do século XX, nos revela como é a condição humana, grandezas e misérias de homens e mulheres muito concretos que determinam de facto a sociedade e as transformações sociais.
Releva para a eterna questão: indivíduo vs. Sociedade.
Para quem ainda o não leu fica a minha recomendação veemente.

2004-03-06

Hoje

A minha homenagem a Charlotte e ao excelente “link” que nos proporciona e que, com sua licença, reproduzo aqui.
O poema “Cambalache”, de Enrique Santos Discépolo, foi escrito para mim, ainda que ele talvez não saiba e a interpretação de Adriana Varela está ao seu, sempre grande, nível.
Obrigado.

2004-03-03

O combóio da Fertagus

Troquei as longas bichas, enervantes, as sucessivas e programadas infracções, próprias de um velho “connaisseur” dos “podes e não podes” fazer em hora de ponta, que me concediam minutos preciosos naquela procissão diária, proporcionando-me um vão prazer, troquei tudo isto, pela calma destressada do combóio da ponte.
Foi uma decisão fácil para mim e tão óbvia, que continuo incrédulo ao ver diariamente as longas bichas que permanecem na estrada, logo ali em Corroios, junto à estação da Fertagus onde inicio a minha viagem diária de combóio. São loucos, penso diariamente.
As vantagens deste meio de transporte de que todos falam estão expressas num estudo de avaliação efectuado pela empresa e cujos os principais resultados constam de painéis espalhados pelas estações, o que lá não consta, porque não foi previsto, é o seu contributo para a cultura.
Sim senhor, é uma das maiores vantagens: o tempo para ler. Nunca li tanto, tão seguido, como agora e descobri que afinal a única razão para não ler suficientemente era mesmo a falta de tempo.
Em poucos meses superei largamente a média nacional de leitura e, dos livros que li nos últimos 2 meses, vou dar-vos conta em próximas crónicas.

2004-03-01

Espectacularmente correcto

A preocupação de se manter no "mainstream", mesmo em águas tumultuosas, agarrando-se firmemente com uma mão à tábua de salvação e procurando com gestos desesperados da outra segurar o seu prestígio, o da sua ciência, o dos seus colegas de forma a que nada se perca e que ninguém se magoe demasiado, fizeram o nosso "sexólogo" de serviço, Júlio Machado Vaz, proceder a cambalhotas retóricas, que roçam o hilariante, no ataque moderado que tem, por dever do ofício do espectáculo, que fazer ao seu colega Villas Boas pelas suas polémicas, desalinhadas e arrojadas declarações que muitos blogues têm arrasado impiedosamente e sem qualquer vergonha.
Os exemplos são muitos, das suas diversas intervenções radiofónicas e televisivas mas o mais brilhante, para mim, foi o que lhe ouvi dizer ontem na rádio e que foi, quase exactamente, isto: Antes do mais, é importante que se saiba que factores sociais adquiridos têm um papel importante na determinação da orientação sexual mas a prova de que isto não é assim é que, a ser, deveria haver muito menos homossexuais do que os que existem na realidade, dado que a grande maioria das pessoas são educadas por casais heterossexuais que transmitem assim educacionalmente esta tendência.
Isto é:
É verdade a coisa mas também o seu contrário.