Recebi, recentemente, por herança, um velho relógio pendular de sala.
Imagino-me um membro de uma comunidade de bactérias, mais ou menos, inteligentes, com um horizonte de vida de 5 minutos e que vivem no meu relógio.
Uma vez em cada geração o meu povo vai assistir a um fenómeno raro, vai ver o ponteiro de minutos cruzar sobre o traço que está assinalado no mostrador.
Há gerações infelizes que não vêm esse espectáculo, porque nasceram exactamente depois de um cruzamento e morreram exactamente antes do próximo. São gerações raras e notáveis mas vão lamentar essa peculiaridade.
E, dizem os sábios bacterianos que de 6 em 6 gerações alguns afortunados vão assistir a um espectáculo magnifico, uns trânsitos especiais onde se pode ouvir nesse exacto momento uma ou mais intensas badaladas, entre uma e doze dizem, eu não sei bem mas os cientistas do meu povo têm tudo registado.
Há registos históricos de bactérias afortunadas que ouviram 12 badaladas Isto só acontece de 144 em 144 gerações.
E ao longo do caminho do ponteiro dos minutos há vários riscos e pontos de desgaste no relógio (é um relógio já bastante antigo dos avós da minha mulher) que o ponteiro vai percorrer e que as bactérias se apreçam a ver se puderem e se estiverem no lugar certo do relógio.
Eu, neste relógio cósmico, não sendo astrónomo e não me preocupando com a medida da unidade astronómica que ainda tem um erro de cerca de 30 Km que talvez se anule agora, não quero saber do trânsito de Vénus, sei que para o ano, todos os anos, vão haver outros momentos raros, na verdade todos os momentos são raros e únicos porque nunca se repetem mais.
Ainda por cima o trânsito de Vénus nem sequer toca badaladas.
2004-06-08
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