2006-04-28

Eu sou um senhor responsável

O Irão é que não.
Eu tive uma licença de porte de arma de defesa, porque sou responsável.
O Irão é que não.
Eu sou português, portanto pertenço a um país responsável com 900 anos..
O Irão é que não. Parece que já foi um império mas já ninguém se lembra, nem quer saber.
Portugal começa timidamente o caminho para utilizar a energia nuclear, está muito bem, Portugal é um país responsável.
O Irão, não pode, não é responsável, o que ele quer é a bomba, toda a gente sabe.
A bomba é só para países responsáveis.
O Irão não é um país responsável.
A bomba é só para a Europa, Israel, a Índia, enfim, os responsáveis que não a vão utilizar à doida. Era só o que faltava!.
Os EUA, que são os mais responsáveis de todos também podem ter a bomba, porque a não vão utilizar nos países responsáveis, só o fizeram no Japão quando ele não era responsável, agora já não vão deitar bombas no Japão, nem pensar!, agora e só se for preciso, só se deitam bombas no Irão !
E é bem feita, para ver se fica mais responsável.

2006-04-27

Reflexões privadas sobre Chernobil

Foi há 20 anos, a notícia chegou-me como as de todas as grandes catástrofes, tocou-me a razão e um pouco também o coração mas à distância, vivido na segurança de quem está longe, ainda que alguns profetas da desgraça não se cansassem de nos dizer que nem sequer aqui estávamos seguros.
Foi só há 2 anos na Polónia que senti Chernobil. Aí estava ainda na memória de todos: medos reais, restrições reais, 18 anos depois ainda estava bem presente o seu fantasma.
Mas foi aí também que senti outra catástrofe, a segunda guerra mundial, por todo o lado ainda, em muitos edifícios, em muitos rostos, sempre tão presente fazendo-me ganhar a consciência da fragilidade da Europa e, por outro lado, a da nossa singularidade.
Não sei se é Nossa Senhora de Fátima que nos protege, como se disse quando mudou o vento que fez devolver à Galiza o derrame do “Prestige” que os espanhóis tanto quiseram empurrar para nós, mas que temos sido um “ditoso reino” já não tenho qualquer dúvida.

2006-04-25

O terrorismo

De novo um atentado terrorista no Egipto.
A notícia dramática é dada em segundo plano, relativamente às comemorações do 25 de Abril, e ao aniversário de Chernobil, não admira, parece que, desta vez, só morreram egípcios!
Olhando retrospectivamente para este novo tipo de terrorismo, recordo-me da passagem de Mateus, referindo-se aos falsos profetas “pelos seus frutos, pois os conhecereis” (Mateus 7, 20).
Os frutos desta árvore são manifestamente maus, não tenho dúvidas, só me resta uma questão de fundo:
Que interesses estão a servir ?

2006-04-21

Os que estão a preparar o nosso futuro

Exigem e advogam a transparência mas fogem da luz do dia como o Diabo da cruz.
Têm uma fé inabalável no sector privado quando a luz incide de um lado mas não conseguem ver senão horrores quando o seu angulo muda um pouco.
Não encontram solução para nada que não passe pelo reforço da sua própria presença.
Pensam que os seu pensamento é puro como o de Sir Galaad e que por isso tem a força de mil, mas os seus pés são de palha e abanam com o vento.
Defendem as análises profundas mas não conseguem ver mais do que as superfícies
Idolatram a abordagem científica mas praticam o pensamento mágico.
Exigem a maturidade mas comportam-se como crianças imberbes.

Começa a ser difícil suportar tanta incompetência.

2006-04-18

O que eu queria perguntar á Sra. Ministra da Cultura

Hoje, tive oportunidade de ver, penso que na SIC, algumas crianças a fazer perguntas à Sra. Ministra da Cultura.
Aquelas que televisão mostrou fizeram-lhe uma pergunta muito simples e pertinente:
- O que é que faz uma Ministra da Cultura.?
A Senhora foi lesta a responder que era muito trabalho, muitas horas por dia, definindo o que se devia e não devia fazer para bem da cultura, em resumo, muita dedicação em prol da cultura.
As crianças ficaram satisfeitas com a resposta mas eu, que já sou crescido, apeteceu-me perguntar-lhe logo a seguir:
- Então porque é que a Sra. Ministra não faz isso que diz ?

2006-04-15

A segmentação

Cada um de nós é diferente, único, é “cada doido com a sua mania”, como diz o povo.
Esta é a grande questão que se coloca à produção à escala global: maximizar o uso do meu produto.
Há duas vias para este caminho:
1 - homogeneizar a sociedade procurando anular todas as diferenças individuais, tornando-as socialmente indesejáveis ou reprováveis: “esquisitices”, “caretices” “maluquices” ou qualquer outro adjectivo antipático,
2- Procurar lidar com essa realidade e, é aqui que surge essa questão básica no domínio do “marketing” moderno: a segmentação:
Já que não posso chegar a cada um individualmente, vou, pelo menos, chegar a grupos mas ou menos homogéneos que apreciem o meu produto.
Numa sociedade de biliões, o mais pequeno segmento. ou nicho de mercado, pode ser suficientemente grande para sustentar o meu produto.
Se bem que as duas vias estejam permanentemente presentes no mundo e nas estratégias empresariais, refiro-me agora apenas à segunda, por ser mais humana e honesta.
Os segmentos definem-se de acordo com os produtos, podem ser físicos, etários, baseados no género, geofráficos e outras características objectivas, mas também podem e devem ser fundamentada em aspectos psicográficos e em “estilos de vida”, recobrindo todos os aspectos que caiem mais naquilo a que chamamos “interesses” específicos.
Como se trata de vender ou não vender milhões, estou bem seguro de que as grandes multinacionais conhecem os seus segmentos ou, pelo menos a sua superfície, bem melhor do que qualquer universidade de sociologia ou psicologia.
Por isto me entristeço com alguma publicidade como aquela de que aqui já dei conta, em que uma jovem rapariga preteria um candidato esforçado que lhe oferecia uma flor verdadeira colhida com esforço, em favor de um “chico esperto” que lhe enviava uma fotografia de uma flor igual enviada por MMS, apenas porque chegava mais depressa.
Náo me entristece o anúncio que pretende apenas fomentar o uso dos seus telemóveis, entristece-me o facto de haver um largo grupo de jovens, o segmento, sensíveis a essa mensagem.
Também outros mais recentes como o daquela jovem, supostamente livre e independente, que se liberta do seu suposto namorado, indolente, só que esse seu namorado, que passa o tempo frente à televisão bebendo cerveja e fumando caharutos, é um sapo !, direi mesmo o sapo, o mesmo do "http://www.sapo.pt/" que se humaniza na pior forma.
Para mim qualquer sapo humanizado que se preze não deveria ser nunca menos do que um “príncipe encantado”.
Mas, pelo contrário, para vos dar uma ideia do que considero uma excelente segmentação, vou-vos contar esta anúncio de uma página que folheei numa revista da Swiss airlines:
Uma fotografia de fundo com a beleza dos Alpes na Primavera ou Verão onde se inseria em grande plano um jovem alpino forte e bonito. O título rezava isto:
“Girls, why not escape the summer’s world cup to a country where men spend less time on football. And more time with you.”
Não traduzo para que se não perca o sabor original. Perfeita identificação de um segmento, tocando um botão ultra sensível desse segmento. Brilhante !

2006-04-13

Os meus agradecimentos

A todos os senhores deputados que faltaram hoje ao Parlamento e não permitiram a votação em não sei que leis que iriam certamente empatar as nossas vidas.
A minha censura às débeis justificações apresentadas pelos grupos parlamentares para as ausências dos seus membros. Foram patéticas.
O CDS disse mesmo: “ausências que todos os portugueses compreendem, fulano de tal porque foi pai !”
Ser pai é uma das coisas mais importantes do mundo, não há qualquer dúvida, faltar por essa razão é mais do que justificado por qualquer português que vive a sua vida e que não a quis sacrificar aos altos interesses da Nação, mas um senhor deputado escolheu o “sacerdócio”, o País à frente de tudo, foi para isso que votámos nele e aceitamos alguns privilégios que têm. Para estes o povo português não compreende, lembra-se da cena daquele filme em que Antony Hopkins faz de mordomo e serve impecavelmente um jantar para o seu patrão, enquanto o seu próprio pai agonia no leito de morte nos aposentos dos criados.
O comum dos mortais nunca faria isto, apenas alguns escolhidos, pensava eu, talvez os senhores deputados.
Sejamos honestos, meus senhores, os senhores deputados faltaram hoje porque, em Portugal, o dia não é para trabalhar.
A culpa é de quem agenda trabalho, supostamente, importante para hoje.
Haja juízo.

2006-04-10

Os comentários ao meu poste sobre a regionalização

Tive 2 comentários a esse poste um dos quais, num impulso inquisitorial, eu bani inexoravelmente. Apresentava um “link” e dizia qualquer coisa como isto: “quer ver pornografia gratuita?”.
Passada essa primeira reacção, a minha veia mais liberal veio ao de cima e comecei a imaginar uma sessão solene cheia de VIP a dissertarem sobre a regionalização e a ver alguém da audiência pedir a palavra e dizer qualquer coisa como isto:
“Em vez de V. Exas perderem tempo com esta transcendente questão da regionalização, não seria melhor irem ver alguma pornografia gratuita ?”
Imagino a reacção, era, sem dúvida, um criativo acto de terrorismo poético.
Se bem que os autores desse comentário no meu poste não tenham, certamente, sido movidos por essa nobre intenção, aqui lhes apresento as minhas desculpas por esse meu irreflectido acto de censura.
O outro comentário, da Joana. era porém bem mais inteligente, dizia o seguinte:
“Por essa ordem de ideias se tiveres uma única região - Portugal - dos 100 tens 95 para Lisboa e Porto e 5 para o resto da região, a parte mais fraca.”
E a resposta é aparentemente simples: “E então, não é isso que vemos ?”
Mas, de facto, a minha argumentação apenas se insere num contexto: a regionalização.
Na ausência de regionalização o poder está na mão de homens independentes, vindos de qualquer lado, quem sabe donde são os Ministros ?, onde a fidelidade a uma região se mitiga, porque não é pela região que lhes veio o poder.
O mesmo se passa aliás dentro de verdadeiras regiões com uniformidade cultural e interesses semelhantes.
O problema coloca-se quando o poder vem da chamada região mas essa região insere em si mais do que uma região de facto mais do que um sistema com factores de coesão e ligações dentro de si mais frequentes e fortes do que as inter-sistémicas.
O Minho e Trás os Montes são duas realidades identificáveis e distintas, só os Minhotos se dizem do Norte nunca os Transmontanos.
Aliás os nomes consolidados por várias gerações e que dividem o país em Minho Trás-os-Montes, Beira Litoral Beira Interior, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo e Algarve, se não me esqueço de nada, à parte pequenos eventuais ajustes forjados pela história são os que ainda melhor definem o esboço de uma regionalização portuguesa, onde mesmo as duas Beiras e os dois Alentejos, traduzem duas realidades diferentes mas mais próximas do que as que têm nome totalmente diferente.
O povo é geralmente mais sábio do que os que o governam.

2006-04-08

E o direito dos fumadores passivos ?

Quando na realidade todos deveríamos ter direito a tudo, discutir a legislação sobre o tabagismo em termo de direitos de fumadores e de não fumadores não pode nunca passar de uma conversa de surdos, do tipo: “o meu (direito) é maior que o teu !”
Ora não é não senhor, nenhum direito é maior que o outro, nenhum se pode impor ao outro, o problema que se coloca é apenas, como em tantos casos, o de obter um razoável equilíbrio para uma sã convivência, o que não é tarefa fácil se não houver um mínimo de espírito de tolerância, como parece não haver. A alternativa será sempre a da lei do mais forte e o da opressão de um grupo sobre o outro.
Reconheço que agora, em Portugal, a vida está mais difícil para os que não suportam o fumo do tabaco mas, pelo menos, estes não sentirão o sofrimento da dependência orgânica e do síndroma de carência de um fumador.
Impeça-se sim o fumo em locais onde não fumadores têm necessidade de estar, mas prevejam-se espaços onde eles não sejam obrigados a estar e um fumador possa usufruir do seu prazer ou “matar” o seu vício, com um mínimo de conforto.
E num gabinete onde estou só sem nenhum não fumador a incomodar-se, não consigo ver qualquer razão para me quartarem esse prazer, a não ser o da pura maldade.
Mas se se quer colocar a questão em termos de direitos deixem-me trazer aqui mais um à liça, o mais ignorado de todos: o direito do fumador passivo a ser isso mesmo, um fumador passivo
Direito bem complexo este que para ser satisfeito exige determinado comportamento de terceiros.
Foi há poucos dias, na Grécia, que o ouvi reivindicar.
A Grécia, ao contrário da Irlanda, é um paraíso para os fumadores, pode-se fumar em quase todo o lado, até no aeroporto de Atenas apenas se não pode fumar em lugares específicos para não fumadores.
Nas reuniões em que participei, quando ao fim de algumas horas de abstinência aproveitei uma pequena pausa para perguntar timidamente se haveria algum local onde pudesse fumar um cigarro, vi muitos olhos brilharem de prazer e muitos maços de cigarro a saírem dos bolsos com um ar de alívio, para me dizerem assim: “mas pode fumar aqui mesmo e a qualquer momento”. Afinal a abstinência generalizada tinha sido feita apenas em minha homenagem.
Conversando sobre este tema com Iorgos Petrides, que nunca fumou na sua vida, vim a saber que esta não era ainda uma questão na ordem do dia grego. Falei-lhe então do que se passava em Portugal onde se espera uma mudança rápida para, receio bem, um fundamentalismo anti-tabagista e falei-lhe na Irlanda, onde esse fundamentalismo já se exercia.
Iorgos estava atónito e procurava confirmar “mas então na Irlanda não se fuma já nos bares e discotecas ?”, “só em espaços abertos que vão procurando manter ou construir” respondi-lhe eu, e foi então que Iorgos explicitou a sua reivindicação a fumador passivo:
“Eu não fumo nem nunca fumei na minha vida, mas entrar num bar onde não haja um ambiente de fumo, parece-me que não tem graça nenhuma, é como se proibissem aí também a cerveja e outras bebidas alcoólicas, para mim não faz sentido, não é o ambiente que eu gosto !”
E pronto aqui está um ponto de vista que ainda nunca tinha ouvido.

2006-04-06

Roaming

Na minha experiência, as contas de telemóvel em “roaming” podem ser qualquer coisa sempre inesperada, ora valores exorbitantes que nos deixam de queixo caído, as mais das vezes, ora agradáveis surpresas, raramente.
A verdade é que nunca sabemos o que nos espera, não escolhemos nada, caímos na rede estrangeira que o Sr, telemóvel deseja, ignoramos tarifas, campanhas, promoções que eventualmente existam e aguardamos a sentença final que geralmente é muito severa.
É claro que eu sei que teoricamente podemos obter toda a informação necessária e podemos mesmo forçar a escolha desta ou daquela rede estrangeira, por vezes com sucesso, mas isso exige de nós uma dedicação exclusiva e uma disponibilidade que eu de facto não tenho, nem quero ter.
Acordei assim numa estratégia com os da casa: em “roaming” confio na providência, pago o que me pedirem mas, á parte qualquer emergência, só uso mensagens SMS, que são sempre muito mais em conta.
Foi assim que parti para a Grécia: Saí ligado à Vodafone Portugal, cheguei a Zurique, onde fiz escala, e o telemóvel ligou-se à Vodafone Suiça, segui para Atenas e o móvel optou pela Vodafone, neste caso, Grega, tudo muito variado, como vêem, estivesse onde estivesse a conta seguia para os diferentes bolsos do mesmo Sr. Vodafone.
A caminho do hotel, não sei porque artes, o meu telemóvel rebelou-se, fartou-se da Vodafone e ligou-se espontaneamente a já não sei que operadora Grega.
É claro que eu sei tudo isto que se passa no mundo dos telemóveis por pequenos toques acusando a entrada de mensagens das diferentes redes que me querem dar sempre as suas boas-vindas e oferecer-me um série de ajudas.
Eu, fiquei feliz por aquele acto de insubordinação do meu telemóvel, “chega de Vodafone”, terá pensado a máquina, “deixem-me conhecer a Grécia no seu todo”.
Foi todavia sol de pouca dura, chegado ao hotel e ao querer mandar um SMS, o ecrã entrou em colapso, empalideceu, e o telemóvel desligou-se inexplicavelmente. Quando o voltei a ligar, lá estava de novo a , toda poderosa, Vodafone,
E assim, queira ou não queira, eu tenho de pagar exclusivamente ao Sr. Vodafone, metendo dinheiro no seu bolso português, suíço e grego., por vezes ao mesmo tempo.
Foi assim que aplaudi aquela manifestação da Comissão Europeia, que lá vi na Euronews mas que, já me disseram, que também cá teve destaque: “acabem com o roaming na UE, já”
Então isto é um mercado comum só para o que lhes convém ou quê ?

2006-04-05

Crónica de Atenas

È o meu primeiro contacto com Atenas, cara a cara,
De nome já a conhecia muito bem, desde há muitos anos, a simples menção do seu nome manda-me milhares de mensagens reconhecíveis, fala-me de filósofos, poetas, dramaturgos, traz-me sol, um mar azul e quente e toda a sabedoria do mediterrâneo e também uma língua moribunda e outra viva e estranha.
Depois é o eterno confronto na “liga dos últimos”, ora Nós, ora a Grécia, lá vamos andando a ver que está mais atrás
Pois embora tenha ouvido dizer que todos os indicadores económicos já nos deixaram muito atrás da Grécia, este encontro mais íntimo que agora se me proporcionou mostra-me um pouco que, infelizmente, não será bem assim.
Não sei dos números da economia, mas vendo o pulsar da cidade de Atenas, a sua velocidade, o modo como a sua gente se veste, os carros que guiam, o estado de conservação dos seus edifícios, o facto muito significativo de que ainda não vi nenhum polícia, entre os muitos que já vi, que usasse esses tão “globais” óculos escuros, que já são regra em Portugal, dá-me indicações claras: na escalada para o progresso a Grécia ainda vai feliz atrás de nós, ainda conserva um certo ar misturado de Turco e Magrebino, articulado com o “bárbaro” eslavo que espreita a Norte logo ali tão perto.
Não. Diga o que disser a economia, na “liga dos últimos”, a Grécia ainda nos bate aos pontos.