2003-10-14

Uma tentativa de metapost

Nelson Heitor, um reputado enófilo e enógrafo da nossa praça, disse-me um dia que se irritava sumamente quando algum seu convidado de jantar, ao ser-lhe proporcionado um excelente vinho branco, lhe demonstrava o prazer que lhe era proporcionado com este elogio bastante comum:
Está bom, está fresquinho !
De facto, para quem conhece profundamente um vinho e os segredos que ele desvenda, destacar como qualidade determinante o estar fresquinho é extremamente pobre.
Era tão bom que assim fosse, todos poderíamos extrair o profundo prazer de um vinho branco baixando a sua temperatura apenas.
Hoje e a propósito, meditei também num comentário que ouvi a uma lindíssima “top model” que, depois de pensar um pouco, resumiu a qualidade do vestido que envergava como sendo:
Muito feminino !
Ao ver aquela inequívoca mulher lindíssima questionei-me:
Porquê procurar apenas ou determinantemente num traje a confirmação da sua já óbvia feminilidade ?
Será que na riqueza e complexidade de um ser humano o relevante mesmo é esse estado, meramente aleatório que nos impõe um género ?
Mas é assim: uns contentam-se em beber um vinho fresquinho, outras em ser suficientemente femininas.
São estas situações que me recordam permanentemente aqueles 3 versos determinantes de Almada Negreiros que já transcrevi num post abaixo:

Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça
A boiar à tona d`água, à mercê dos ventos
Sem nunca saber que fundo que é o Mar

Eu, também como disse Almada, quero mais, eu quero sempre muito mais !

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