2003-10-22

Responsabilidade

Na construção da organização civilizacional, é normal atribuir-se àqueles homens e mulheres que assumem uma posição de direcção, de comando, uma capacidade de orientar o devir num determinado sentido, a uma determinada escala, a designação genérica de “responsáveis”.
É um princípio facilmente aceite e compreendido: Quem tem o privilégio de determinar ou influenciar resultados específicos, deverá igualmente responder pela qualidade dos seus actos e pelo facto de estes servirem mais ou menos a comunidade em geral.
A responsabilidade é assim o reverso da medalha da chefia ou direcção e encarado, pela generalidade das pessoas, como a contrapartida ou o ónus que recai sobre quem exerce e funções de chefia e como contrapartida de eventuais benefícios associados a essa função.
Porém, o que se assiste, cada vez mais, é a procura do melhor dos dois mundos, chegando-se, no nível organizacional moderno, a constatar que os responsáveis muito raramente respondem por coisa alguma.
As tácticas são duas: “sacudir a água do capote” se algo acontece de mal ou, melhor ainda, fazer o menos possível para que nada ou pouco aconteça.
Veio-me esta velha constatação à memória com as recentes notícias sobre o famigerado caso da fuga de informação no processo da Casa Pia e o relatório sobre o acidente da passagem de piões do IC19.
É tão natural esta desresponsabilização que a generalidade das pessoas já equacionou o termo responsável exclusivamente à função de direcção, despindo-a do seu significado real.
Daí aquela frase sábia e desesperada que vi, já há alguns anos, num cartaz em Sines, reclamando umas obras inadiáveis: “Já que os responsáveis se mostram incapazes, apelamos para os irresponsáveis”.

Sem comentários: