Foram apreendidos, em Portugal uma série de DVD piratas oriundos, parece, da Malásia.
Em Varsóvia, como alguns conhecem, existe o chamado mercado russo.
Uma espécie de feira de Carcavelos ou semelhante, mas em grande, em muito grande escala, que domina um estádio, quase no centro da cidade, e que consta de todos os guias turísticos, onde grande parte dos turistas vão, e onde os táxis ultrapassam qualquer barreira linguística e nos conduzem prontamente a partir de qualquer expressão, mesmo mal pronunciada de “Russian market”, “marché russe” e, creio, ainda que não tenha experimentado, “mercado russo”, ou “Rynek russky” ou algo semelhante. Não se pode falhar.
Comprei aí, muito em conta, alem de outras coisas, diversos DVD e CD pirata.
Ao longo de vários meses deste ano vivi várias situações relativas à atitude da polícia naquele mercado.
Primeiro, em Fevereiro, comprei abertamente: quando a polícia, sempre presente, passava, os tendeiros cobriam com decoro o escaparate que logo reabriam quando os guardas ultrapassavam os 2 metros de distância.
Meses passados, após o referendo de adesão à UE, voltei a comprar mas já como, suponho, se compra droga ou algo assim: falando ao ouvido, entrando em meandros esconsos, por baixo de balcões.
Um pouco mais tarde, depois de assistir a aparentes prisões públicas, pela minha timidez, já não consegui comprar nada do tipo.
Alguns dizem: é a Polónia a entrar na legalidade, na perspectiva da adesão à UE.
A minha reflexão foi um pouco diferente:
O que vi naquele mercado, a princípio, foi o capitalismo liberal em acção, “laisser faire laisser passer”, com o tempo e a evolução descrita e a intervenção da polícia, do Estado, verifiquei “Isto é o capitalismo global em luta contra o capitalismo local”.
Extrapolando para os DVD apreendidos em Portugal questiono-me: A quem está a proteger de facto a polícia com esta apreensão ?
A mim e ao comum dos cidadãos não é de certeza porque me impede o acesso à livre concorrência e a beneficiar dos mesmos bens a muito melhor preço.
Dizem-me, que não estou a ver bem, que é para salvaguardar os direitos de autor e impedir que outros usufruam do trabalho árduo dos verdadeiros criadores.
Reconheço que a questão é muito complexa mas quando vejo a opulência dos referidos criadores e das distribuidoras globais, penso que todos já foram regiamente pagos pelo seu trabalho e quando imagino os desgraçados malaios que copiaram com engenho e arte aqueles DVD para mo proporcionarem a preços acessíveis, julgo que são mais merecedores do meu dinheiro, embora tenha também consciência que uns e outros são pedras de um mesmo sistema e veja, com clareza, que quem vai beneficiar mais, mesmo da compra dos DVD piratas, não são os pobres malaios mas será sempre o mesmo capital.
Fico a aguardar pela aldeia de macacos onde deveríamos viver e onde esta complexidade se simplifica de modo mais simples, em dimensão humana e onde uma maior equidade poderia reinar.
2003-10-02
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