2009-05-01

A importância da semântica

Ou a dificuldade de se lidar com o mundo global.

Esta gripe que nos está ameaçando, começou a ser chamada por “gripe suína” e ainda o vai sendo em muitos lugares.
Era suína porque teve origem em porcos e a lógica era indiscutível.
Mas coitados dos porcos e do negócio que está por trás deles, o perigo é que se deixasse de comer porco e até no Egipto, país maioritariamente islâmico, alguém se lembrou dos conselhos do profeta: Ele bem dizia que o porco era nocivo e agora a própria ciência o confirmava, pelo sim pelo não, matem-se todos os porcos que ainda se vão criando para os hereges.
Não podia então ser suína esta gripe.
Alguns, seguindo a velha tradição das gripes inflectem então para “gripe mexicana”, dada a sua origem, já não tinha havido a Espanhola, a Asiática, a de Hong Kong ?
Mas o México coitado, já não basta ter o azar de ser o foco inicial, perde o turismo, as pessoas ficam em casa sem produzirem, as crianças não vão à escola, já há quem preveja um significativo rombo no PIB. Será preciso o nome estar-nos a lembrar sempre que esta gripe é de lá?
A OMS ponderou tudo e decidiu: tem que ser um nome neutro, digamos “gripe A”.
E assim ficou decretado mas, primeiro, duvido que pegue um nome tão chalado, “gripe A” não tem jeito nenhum.
Depois A é a primeira letra do alfabeto latino, “gripe A” dá a ideia de primeira, de mais importante, aumentando o alarme. Não foi um nome feliz.
Eu, por mim, neutro por neutro, escolhia outro nome, talvez “gripe apito” “gripe XPTO”, “gripe Z”, ou porque não “gripe OMS”.
Enfim, isto da semântica tem muito que se lhe diga.

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