2009-05-17

A caça ao tesouro

Já não tinha alheiras.
Retido em Lisboa, essa falta era difícil de colmatar.
Sim, eu poderia comprar em qualquer supermercado, alguns rolos de enchidos que respondem por esse nome, mas eu queria alheiras, as autênticas, as genuínas, que eu sabia que existiam.
O acaso proporcionou-me a ocasião.
Estava previsto, para ontem um encontro da Confraria de Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-montes, em Lisboa.
Mobilizei todos os recursos, pedi a uma confrade, que mas comprasse e trouxesse.
E assim foi.
No almoço da confraria, no restaurante Bica-do-Sapato, para vosso conhecimento, pertencente aos sócios: John Malchovit e a Catherine Deneuve, certamente entre outros, chegou-me a notícia: as alheiras pedidas lá estavam, na caixa de um carro a centenas de metros de distância.
O almoço em si foi banal, não mereceu os 60 €/pessoa que paguei mas lá estavam as alheiras, na caixa de um carro.
Fui buscá-las escoltado por um oficial da Força Aérea, transladei-as para a caixa do meu carro e aí permaneceram esquecidas de ontem para hoje, tantas foram as cargas que tivemos para subir, a pé, os 3 andares da minha casa.
Hoje, levantei-me tarde e as alheiras, vieram-me logo à memória.
Passaram a noite desacompanhadas mas confortavelmente com o fresco da noite mas agora de dia, já o sol raiava alto e batia na caixa do carro, as alheiras sofriam.
Depois do almoço montámos a operação:
Havia 3 missões a cumprir: despejar o lixo no contentor, beber uma bica e comprar cigarros, resgatar as alheiras do seu cativeiro.
Um problema porém:
Não me estava a apetecer, e beber outra bica logo a seguir ao almoço era demais, pensei, "vou esperar pela fresquinha".
Mas a segurança das alheiras com o sol a aquecer a caixa, davam-me um sentimento de mal-estar: coitadinhas das alheiras, não tinham culpa de nada.
Enchi-me de coragem e planeei a operação: levo o lixo, compro os cigarros sem tomar bica e resgato as alheiras, o tesouro.
E assim fiz, com alguns contratempos.
Com o lixo foi tudo bem mas não tomar bica no café do Sr. Martinho é quase impossível, ainda vou a metros de distância já o Sr. Martinho se chega à máquina para me dar o café.
É impossível recusar diante de tanta amabilidade e consideração.
Bebi pois mais uma bica e trouxe as alheiras.
Ao abrir o saco a minha mulher, referiu:
- Não são de Rebordelo, como eu tinha pedido, são da Topiteu!
O significado disto, só os iniciados em alheiras compreendem, significa:
“Podem ser jóias falsas!”.
Eu continuo a confiar na minha confrade (ou será comadre?).
No prato haveremos de ver se o tesouro é falso ou verdadeiro.

2 comentários:

Eduardo Jordão disse...

Fico ansiosamente à espera do veredicto final. Adorei o texto.

Nuno Jordão disse...

Eduardo
Hoje já comi as alheiras.
Não eram as verdadeiras mas cumpriam bem, melhor que qualquer umas que eu compre por aí.
Comias com deve ser:
Grelhadas e acompanhadas com grelos passados em azeite e alho.
Nuno Jordão