2009-03-16

O valor do dinheiro

Hoje, no programa “sociedade Civil”, de que eu já falei aqui bastas vezes, mostraram um projecto de formação de crianças de 4 e 5 anos, que alguma instituição está a implementar, procurando educar essas crianças sobre a gestão do dinheiro.
E lá estavam as crianças jogando uma espécie de monopólio, com euros falsos, para aprenderem o valor do dinheiro.
Eu considero este programa obsceno, não são coisas que se ensinem às crianças, tal como o sexo, elas irão aprender tudo isso, mal ou bem, ainda que não se faça nada, o valor do dinheiro entra-lhes pela cabeça até pelos desenhos animados do Panda, deixem as crianças viver esses primeiros anos de vida sem ter que enfrentar esse problema de adultos, nessa doce ilusão de que o dinheiro é algo que terão quando crescerem para satisfazer as suas vontades.
Fiz “zapping” nessa altura para não ver essa obscenidade, que todavia todos apoiavam, até porque ensinava matemática às criancinhas.

Enquanto estou em “zapping” vou-lhes contar uma história que se passou comigo e com o meu neto Pedro.
Vindo nós dois da praia para o carro, vimos uma bonita auto-caravana estacionada ao lado do meu carro, não resisti e disse ao meu neto.
- Sabes Pedro, isto é que eu gostava de ter mas é muito caro!
Ao que ele, nos seus 4 anos, logo retorquiu para me animar
- Deixa lá avô, quando eu ganhar dinheiro dou-te uma.
- Obrigado Pedro cá fico à espera.
Desde aí, de tempos a tempos eu ia questionando-o sobre essa promessa
- Então Pedro a minha auto-caravana, quando vem?
Pedro, que nunca se esqueceu do prometido, desculpava-se sempre, ainda não era o tempo.
Certo dia, como a minha insistência era muita, acabou por me dizer:
- Pois é avô, eu prometi, deixa lá que vou falar com o meu pai.
Aí assustei-me, não cria conflitos com o meu genro que não me prometeu nada e encerrei a questão dizendo:
- Não precisas Pedro, eu espero que tu ganhes o teu dinheiro.
E nunca mais lhe toquei no assunto.

Acabado este “zapping” voltei ao programa, estava já na fase, de explicarem que era preciso ensinar as crianças desde pequeninas porque nem a maioria dos adultos sabe gerir o seu dinheiro, e deram-nos conselhos úteis:

1. Quando se pede um empréstimo tem que se ter em conta, não só a nossa situação financeira no momento mas também a futura situação ao longo do período de pagamento, e diziam que os portugueses não têm isto em atenção.
Fiquei curioso, mas nunca chegaram a explicar, o que para mim, era o mais importante, como é que vamos saber essa situação financeira futura. Indo à bruxa? Consultando um analista financeiro reputado tipo Madock? Fazendo algumas rezas? Consultando uma bola de cristal? Enfim era o que eu mais queria saber e não me disseram.

2. Quando se faz um investimento tem que se ter em conta se ele é bom ou mau, isto é fundamental, porque os bons investimento até podem render muito mas os maus podem levar-nos à ruína, é verdade pensei eu, até conheço vários exemplos, mas nunca chegaram a dizer como é que à partida se distinguem os bons dos maus e isto é que eu queria aprender, será pelo cheiro? Pela cor?

Fiquei na mesma.

1 comentário:

Ana disse...

já andava com saudades de cá vir ler umas coisas.
Pois é, muita gente acredita que temos que moldar os meninos aos três anos para aos 30 serem bons pagadores de impostos.
Que sorte tive eu de nascer numa família com muitas irmãs, com uma mãe que trabalhava e que portanto me deixava à solta para correr atrás das galinhas, de panhar morangos e brincar no jardim até o sol se ir embora.
talvez gostasse de ver isto
http://www.ted.com/index.php/talks/stuart_brown_says_play_is_more_than_fun_it_s_vital.html