2009-03-29

Carta de Pristina – 2

Segundo dia e primeiras impressões

Acordei descansado, cerca das 8h 30 e aos poucos fui realizando tudo o que tinha de fazer para melhorar a minha estada.
Arranjei-me e saí de casa a explorar a cidade.
Desta vez segui outro caminho e consegui encontrar o tal “centro” que na véspera me tinham mostrado.
Entrei então num supermercado de maior dimensão, e aí tinha tudo o que precisava, como isqueiros, muito papel de todas as qualidades e até cerveja e vinho que os mais pequenos não vendem. Levei tudo para casa e voltei a sair mais animado.
Voltei ao “centro” e entrei num pequeno café; antes de entrar apaguei o cigarro que fumava, e já lá dentro, pedi um expresso. Foi com espanto que vi que com o expresso trouxeram um cinzeiro.
Acendi um cigarro e bebi calmamente o expresso que, não sendo uma bica, não era mau.
Pois é, ao kosovo ainda não chegou a fúria anti-tabagista, senti um prazer que me estava vedado há tempos, tomar um café fumando um cigarro, num café público.
Mas nem tudo são rosas, se o tabaco é livre, o álcool é muito limitado, ao almoço, agora num pequeno restaurante, nem cerveja havia, só a cocacola e os sumos reinavam.
São marcas do islamismo, o Kosovo é um país islâmico mitigado.

Pristina é uma cidade suja mas de facto jovem, vêm-se crianças por todo o lado, brincando nas ruas e jovens em toda a parte como já se não vê por essa Europa fora.
Jovens raparigas lindíssimas, algumas, muito poucas, com o tradicional lenço islâmico mas a grande maioria vestindo como as suas pares de qualquer país europeu.
O trânsito não é grande mas é caótico, os carros também sujos e muitos a pedir reforma, estacionam onde há um espaço, em cima de qualquer passeio. Andar a pé em Pristina é um constante ziguezaguear.
O povo é bastante simpático mas pouco atencioso. Já no avião tinha notado que o meu parceiro de lugar invadia com as pernas o meu espaço sem a mínima preocupação e vão-se vendo muitos exemplos desse tipo.
Creio que são efeitos da sua experiência traumática, de guerra e massacres Agora querem apenas viver e, desesperadamente, serem europeus como os que vêm na televisão mas são mais pobres e procuram justamente lutar para largar esse estatuto, embora passando por cima do que for preciso como sempre viram fazer.
Todavia não há uma criminalidade notável, como seria de esperar, talvez devido ainda ao seu islamismo mitigado.
Com tantas jovens lindíssimas e ansiando viver melhor, seria também de esperar prostituição intensa mas não se consegue vê-la às claras como em muitos outros lugares.
O povo de Pristina lembra-me o povo de Lisboa dos anos 50, da minha infância, a prosódia da língua é incrivelmente igual à do português europeu. Por várias vezes virei a cabeça pensando serem portugueses a falar, mas não, falavam o albanês do Kosovo.
A vida é incrivelmente barata. Produtos de multinacionais iguais aos que encontro em Lisboa estão aqui por metade do preço, o que faz reflectir sobre a questão do valor das coisas, como já procurei fazer, neste blogue, noutras ocasiões, os preços parecem ser os necessário para que as pessoas apenas comprem e não lhes sobre nada. A propósito o meu almoço custou 2€ e 15 c, foram uns bifes.
Durante a tarde, através de um café-internet, todavia sem café, consegui fazer 2 coisas das que precisava muito: telefonar para casa e publicar aqui a primeira carta de Pristina., custou-me tudo 1€ e 50c.

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