2009-03-28

Cartas de Pristina –1

A Viagem e chegada

A ideia de chegar antes do fim de semana, para me ambientar tutorado pelo meu amigo Bernard, que já cá vive há dois anos, ficou gorada antes da partida: nasceu um neto a Bernard e a sua mãe entrou subitamente num estado terminal, voltou a casa por uns dias.
Todavia tudo estava arranjado e tive de prosseguir mesmo assim.
A viagem foi normal, avião, aeroportos, mais avião mais aeroportos, corridas até um canto onde se possa fumar desconfortavelmente um cigarro, olhar desinteressadamente as lojas de aeroporto, todas iguais em todos os aeroportos, olhar letreiros caminhar quilómetros até aos “gates” correctos e estar atento, não vá mudar o “gate” à última hora.
Fiz a viagem assim: de Lisboa para Munique, de Munique para Viena e de Viena a Pristina.
Estive no mesmo dia em 4 capitais europeias embora, pelo que vi, fossem todas iguais.
É isto o viajar de avião!
Em Pristina, como já temia, a minha mala não estava, quando encerrou o tapete, mas quando me encontro já no ”lost and found” para participar, eis que me chamam: a mala tinha aparecido, aparentemente caída do céu ou trazida por anjos.
À minha espera estava um motorista do projecto, que diz umas coisas em inglês.
O ambiente era estranho, bom tempo primaveril mas campos cobertos de neve.
O motorista entregou-me um telefone do projecto, referindo que era local e para uso interno, no fundo mais para me contactarem do que para contactar.
Mostrou-me onde podia comprar géneros e coisas e depois de muitas voltas trouxe-me até ao meu apartamento .
Estava ansioso por o conhecer e ficar um momento só, talvez dormir um pouco, dado que tinha saído de casa às 4h da matina.
O dono do apartamento, que só fala albanês e é amputado de um braço, mostrou-me tudo.
A primeira impressão foi agradável.
Tem um quarto, um “hall” com cozinha e um mínimo de utensílios, de electrodomésticos, e de louça, uma sala de estar com tv cabo e acesso à internet, uma casa de banho e um pequeno quarto com máquina de lavar roupa e uma tábua e ferro de passar.
Fiquei feliz.
Quando me vi sozinho, escrevi um SMS para dar notícias à minha mulher mas a mensagem não seguia, lutei com o telemóvel para mudar de rede mas não encontrava outra rede, vou para a internet, para o mensager ou o skipe, mas não tinha internet, lutei com o pc e nada, nada de internet.
Tentei ligar com o meu telemóvel directamente e ele recusava-se a fazer a chamada.
Fiquei só e incomunicável. Desesperadamente.
Por fim mandei um sms do telefone que me tinham dado, quebrando as regras,
O telemóvel diz-me que seguiu a mensagem mas não tive, não posso ter nenhum “feedback”.
Ligo a televisão, que funciona mas o telecomando não, e resolvi sair para as compras essenciais.
Foi-me impossível encontrar o local que me tinham indicado, apenas um pequeno supermercado onde comprei, conforme via tudo o que precisava mais.
Foi pouco, deu para fazer um jantar de ovos mexidos com arroz e uma salsicha, acompanhado de água da torneira, e sem café e depois, lavar a loiça? Eu tinha comprado detergente mas nada, nem um paninho para a esfregar. Ficou no lava louças.
Leio um pouco e, com a noite, o frio começa a chegar, apesar de ter trazido maços de cigarros mais do que suficientes para a estadia os meus dois isqueiros resolvem falhar os dois, o fogão é eléctrico e não há um fósforo em casa, encontro um cobertor para pôr sobre a cama, e deito-me quase a tiritar de frio até que lá consegui aquecer um pouco.
Dormi como um anjo.

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