2005-08-21

Crónica do quotidiano

Termino o meu almoço de Domingo, só eu e a Fátima, com as notícias da SIC como pano de fundo.
O almoço esteve óptimo, frango de tomatada com batatas fritas às rodelas, batatas pequenas, velhas, que tinham de se comer antes de que se estragassem e o frango, que estava divinal, de tomatada, para o que contribuío o “tomate frito”; não sabem o que é ? é natural, nunca o vi à venda em Portugal, apesar de ser um produto de consumo de massas, não chegou ainda cá, faz parte das minhas compras, em quantidades industriais, sempre que dou um salto a Espanha.
Imagino que seja como os nossos vulgares tremoços. Em Portugal há-os por todo o lado e até são baratos mas nunca os vi em mais parte nenhuma do mundo, tirando alguns PALOP. Pobre de algum Sueco que seja amante de tremoços, deve sofrer...
Tive, aliás, um amigo inglês na minha juventude, o David, o seu pai era da marinha e ensinou-lhe o que Lisboa significava para si nas suas passagens por este porto: sardinhas e tremoços, isso tornou-se numa obsessão para David em Lisboa.
Enquanto vagueio o pensamento ouço na SIC que morreu o tal golfinho de que falei no último poste, isto apesar da competência e zelo do Zoo Marine que até já salvou uma tartaruga que nada agora feliz nas Caraíbas ou sítio parecido, dizem-nos.
Espero que o golfinho descanse em paz e nós também.
Recosto-me, saboreando aquele bem estar; um bom almoço também é psico-activo. Ensombra-me apenas a perspectiva de ter de me levantar, participar no arrumo da mesa.
Olho a televisão e falam-me de incêndios, gente desesperada correndo de um lado para o outro, impotentes para conter aquele castigo terrível que lhes destrui as vidas, apelando para tudo e para todos.
São as notícias que estou a ver e ouvir, o país real. Onde estarei eu então ? gozando o meu conforto ? num país irreal ? Que posso eu fazer por essa gente ?
Esta dicotomia incomoda-me, não tenho o direito a estar feliz quando me mostram aquele sofrimento e aquela realidade e, se não ma mostrassem, será que ela deixava de existir ?
Recordo-me que também eu já vivi situações em que os meus apelos desesperados são apenas escutados por gente mais preocupada em digerir bem o seu almoço e isso revoltou-me e fez-me pensar como as pessoas podem ser tão cegas à realidade.
Agora, estou eu deste lado, cego à realidade. Será ? ou será, pelo contrário que estou muito atento, à realidade, à minha realidade, à única realidade verdadeira para mim.
Pensando nisto, preparo-me para me levantar da mesa, quando me pergunta a Fátima:
- Então, não tomas o teu café ?
Esta questão trouxe-me verdadeira e definitivamente à realidade.

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