2005-08-22

A corrida eleitoral

Há livros fabulosos (poucos) que, de uma maneira simples conseguem transmitir simultaneamente muitas mensagens para diferentes leitores.
As histórias de Alice, no país das maravilhas e por trás do espelho, são dois desses livros, para todas as idades.
Para ilustrar esta minha opinião e pelo prazer que proporciona lê-lo, deixo aqui um pequeno trecho sobre a “corrida eleitoral” que os personagens fantásticos decidiram fazer para se secarem de um banho forçado nas lágrimas de Alice.
Escolhi este por me ter parecido muito adequado ao momento que começamos a viver agora em Portugal no ano de 2005.

- O que eu ia dizer – disse Dodó, ofendido, - era que a melhor coisa para nos secar seria uma Corrida Eleitoral.
- O que é uma Corrida Eleitoral ? – inquiriu Alice, não tanto por querer saber, mas porque Dodó se calara como se pensasse que alguém devia falar, e mais ninguém parecia disposto a dizer fosse o que fosse.
- Ora, a melhor maneira de explicar é fazê-la – respondeu o Dodó. (E como vocês poderão querer experimentá-la, num dia invernoso, vou contar-vos como procedeu.)
Primeiro, desenhou uma pista de corridas, numa espécie de circunferência (“não interessa a forma exacta”, disse ele), e depois colocou cada um deles num ponto da pista. Não havia nenhum “um, dois, três, já”, mas principiava-se a correr quando se queria, e desistia-se também quando apetecia, de maneira que não era fácil de perceber quando terminava a corrida. Todavia, após terem corrido cerca de meia hora. E estarem de novo secos, o Dodó gritou de repente:
- Acabou a corrida !
E todos o rodearam, ofegantes, a perguntar: - Mas quem é que ganhou ?
O Dodó só pôde responder a esta questão depois de pensar longamente, e permaneceu durante muito tempo com um dedo apoiado na testa (a posição em que se costuma ver Shakespeare, nos retratos), enquanto os outros aguardavam em silêncio. Por fim, disse:
- Ganhámos todos e todos devemos receber prémios.

Lewis Carrol – “As aventuras de Alice no País das Maravilhas”

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