2008-07-04

O jogo

Ontem nos telejornais, tanto na SIC como na TVI e não sei se mais, falou-se e debateu-se o jogo da bolha ou da roda e que mais não é do que uma das milhentas variantes do jogo dos postais.
Em resumo trata-se da formação de uma cadeia contínua em que os novos jogadores vão pagando aos que já lá estão na expectativa de virem a receber dos que entrarem depois.
Este sistema resulta sempre na medida em que haja novos entrantes mas como a população humana é finita, mesmo teoricamente, o sistema nunca pode ser sustentável e haverá sempre um momento em que não haverá novos entrantes e os que entrarem próximo deste final, presumivelmente muitos dado que o crescimento é em progressão geométrica, apenas pagam e não recebem nada.
O único risco está na previsão deste final, deste rebentar da bolha, até lá é lucro garantido.
As regras são portanto conhecidas, o risco calculado e não pode afectar senão a quem jogar.
Todavia, por qualquer razão estranha, quem costuma acabar com o jogo antes que ele desenvolva todo o seu potencial é geralmente a polícia.
Porquê ? não faço ideia, mas eles lá arranjam maneira de considerar isto ilegal, embora não tenha qualquer diferença de qualquer outro investimento especulativo, como os que se fazem na bolsa de valores e nos mercados de futuros, e costumam sempre estragar a festa antes do seu fim, tornando-se assim os maiores especuladores e os mais desonestos, porque têm a capacidade de determinar o fim que é o único elemento de incerteza a ser gerido.
Foi assim com a D. Branca. Eu ganhei com a D. Branca porque tive informações fidedignas sobre o final que se adivinhava pela introdução da polícia e me fez tomar a decisão perfeita de retirar o investimento no momento exacto, o mesmo já se não passou na bolsa de valores onde foi só perder.
Hoje não ligo a estes jogos de risco.
A minha questão é apenas uma: "Perigoso é, sem dúvida mas ilegal porquê ?"

2 comentários:

Anónimo disse...

Tendo lido com atenção o extracto sobre o famoso jogo da roda, ou todos os pseudo -nominativos que se lhe queiram atribuir, e tendo terminado com a frase:
"A minha questão é apenas uma: "Perigoso é, sem dúvida mas ilegal porquê "
Talvez pudesse de alguma forma contribuir , de forma sintética para explanar sobre a ilegalidade nesta forma de jogo:
Trata-se de um esquema em pirâmide onde são dadas aos futuros intervenientes expectativas de virem a ganhar muito dinheiro, na pratica 8 vezes mais do que investiram.
O que na realidade se passa é que apenas uma pequena parte delas (as primeiras que aderiram ao esquema) têm hipótese de virem a lucrar de facto com o esquema.
Últimos não ganharão.
O site do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público transcreve um texto de Fernanda Palma. Professora catedrática de Direito Penal, a propósito do “Jogo da Roda” escreve: “De tempos a tempos surgem jogos sociais cujo `Leitmotiv’ é todos poderem ganhar dinheiro a partir de uma modesta contribuição inicial. Para que o esquema resulte são necessários novos jogadores, que multiplicarão as contribuições, garantindo o lucro dos mais antigos. Mas os últimos já não poderão ganhar, pois os recursos estarão esgotados. Será então que a bolha explodirá.
Mas passando para a possibilidade de este tipo de esquemas serem ilícitos ou não, é claro que , não tem patente apenas um ilícito criminal , mas poderá ter subjacente vários, ou seja; podemos estar perante uma burla; bem como dos eventuais crimes fiscais inerentes a esta pratica.
Estes jogos de ‘bola de neve’ são, em princípio, burlas. E são burlas mesmo que alguns dos prejudicados possam ter previsto o risco. Trata se, na realidade, de uma lógica de burla contra incertos, em que os primeiros beneficiários burlam outras pessoas, mesmo que não saibam de quem se trata. Com efeito, será difícil aceitar que todos os prejudicados tenham obtido o esclarecimento suficiente para consentir no seu próprio prejuízo. Tal como no famoso conto do vigário, não deixa de existir burla devido à ingenuidade das vítimas. Só o consentimento consciente do ofendido excluirá a burla. A bolha não é só burla, mas também a revelação de que a racionalidade não cooperativa é irracional”.
Fernando Monteiro

Nuno Jordão disse...

Obrigado Fernando Monteiro pelo seu comentário que, como já nos habituou, está muito bem estruturado e esclarecedor.
E posso admitir consigo que possa ser uma burla, o que eu estranho é que ele se pratique impunemente mesmo com publicidade na tv sem que haja alguma intervenção para, presumivelmente, vir a ser proibido mais tarde, transformando as autoridades em jogadores previligiados, entram só quando querem e acabam com tudo quando querem.
Em resumo se é ilegal proibam já, se é legal deixem a bolha rebentar por si, é esta a minha tese.