2008-07-21

Freud deveria explicar

Hoje no final do almoço vivemos numa interacção sem tempo e sem lógica, onde todos interviemos respondendo apenas a estímulos, palavras que suscitam outras palavras recolhidas em arcas de experiências que conservamos em nós.
Na sequência do ponto em que a conversa nos levou e que abordava as férias, o prazer e a liberdade das férias e o bom ar que alguém tinha por regressar de férias e após um pequeno passo para alusões sexuais como é comum nestas situações, sobretudo em grupos mistos, alguém disse assim: “sim, porque se pode fazer amor sem sexo e fazer sexo sem amor” mas logo se arrependeu, “não, não queria dizer isso, fazer amor sem sexo não faz sentido”.
Mas a acha já estava na fogueira, “não faz sentido porquê?” mas para ele, fazer amor ou fazer sexo tinha um elemento estruturante fundamental que conseguiu exprimir assim: “tudo passa por meter para dentro...”.
Esta alusão picante alimentou a sequência da conversa durante alguns minutos mais, mas eu desliguei-me nesse momento, firmei-me no postulado inicial (amor sem sexo), ocorreram à minha memória experiências passadas que ilustravam ou desmentiam o ponto e, entre elas, voltou, muito nítida, uma experiência singular e insólita que vivi um dia, há vários anos:
Dançava numa discoteca, sozinho entre outros sós, num fim de noite, como me era habitual. A música era de Doors, que tem o condão de descarregar em mim fluxos de seratonina ou de qualquer endorfina de prazer, o álcool também era quanto baste.
O meu olhar cruzou-se com o de uma outra dançarina solitária, que parecia sentir a música tal como eu, dançamos sempre sós olhando um para o outro intensamente, sentindo exactamente o mesmo, movendo os corpos em sintonia, em simpatia, até que no clímax da música se desencadeou, para mim, talvez para ela também, um orgasmo puramente cerebral.
Não nos tocámos, não trocámos palavra, desaparecemos, cada um para o seu lugar, para o seu grupo, mas para sempre eu sei que fiz amor sem sexo com aquela rapariga, ou terá sido sexo sem amor ou o quê?
Afinal só me ocorre a velha expressão de Hamlet:
“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio do que as sonhadas pela tua filosofia”

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