Imaginemos que um estudo “científico”, um desses que diariamente nos chegam pela tv, demonstra que o uso de botões metálicos provoca uma ligeira alteração na concentração de quem os utiliza.
O governo, sempre atento a estas descobertas, proíbe o uso de casacos com mais de 3 botões metálicos na condução.
A vida continua, há acidentes na estrada e suponhamos que se verifica que 10% dos acidentados usavam mais de 3 botões metálicos.
A tese fica provada, independentemente da correcção do estudo de base, agora a experiência comprova os factos: usavam mais de 3 botões e tiveram, na realidade acidentes, o uso de botões metálicos passa a ser uma importante causa de acidentes e a solução é óbvia: baixa-se o limite de 3 para 2 botões metálicos.
Infelizmente esta medida não tem efeito pela irresponsabilidade dos automobilistas que continuam a usar botões metálicos em excesso.
Parece uma anedota esta história mas traduz exactamente o que se passa na realidade com as supostas principais causas de acidentes: a velocidade e o álcool.
Os limites de velocidade são estabelecidos administrativamente, a partir daí, todos os acidentes em que uma viatura circule a mais velocidade do que a legal, passam a ter como causa o excesso de velocidade, a solução tomada é sempre a de baixar esse limite legal e fica-se espantado porque os acidentes persistem.
Com o álcool passa-se o mesmo, não restam quaisquer dúvidas que o álcool retira capacidades de condução, só que os efeitos nocivos não se verificam ao nível dos 0,2 ou mesmo 0,5 ou 0,8 e baixar limites nesta faixa não tem qualquer efeito mas como o termo de comparação é sempre o limite legal, se esse limite for 0, como alguns querem, uma taxa de 0,001 g/l passa imediatamente a ser causa de acidente.
E assim persiste esta calamidade e se distrai a atenção dos verdadeiros problemas: o excesso de velocidade quando ele é aferido em relação às condições objectivas da viatura e da via e não ao limite legal, o excesso de álcool quando ele aferido relativamente às condições de concentração e consciência do condutor e não ao limite legal, mas também e sobretudo as manobras perigosas e aquela que pressinto ser, de facto, a principal causa: o sono ao volante.
Mas como nunca saberemos se o morto estava a dormir ou não, esta nunca será considerada uma importante causa de acidente.
Não está nas estatísticas, não existe.
2003-09-25
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