Há tempos, referi aqui como uma pequena conversa, com as palavras certas, pode condicionar tanto a nossa visão do mundo.
Agora, vi algumas reportagens na rádio e na televisão sobre as inundações em Moçambique, e constatei a total incompreensão do problema, o conhecimento dos dois mundos, na generalidade dos jornalistas que fazem a reportagem e colocam perguntas imbecis tais como:
- E agora como é que o Sr. come ?
Reduzindo aquela tragédia ao problema a que talvez já tenham vivido um dia na sua própria vida, quando às 9 horas da noite depois de telefonarem para 3 ou 4 restaurantes habituais, recebem a resposta de que já não há mesas livres e descobrem que começa a ser difícil o jantar sonhado.
Então fazem a mesma pergunta ao companheiro ou companheira:
- E agora como é que a gente come ?
É com enorme espanto que vejo aquela gente, em vez de mandar à merda a jornalista, responder em português (que não é a sua língua materna) qualquer coisa como esta.
- Agora, é no sacrifício !
De facto, estamos tão longe da carência que muitos de nós nem sonhamos o que ela é.
Eu, também não, claro, mas sinto.
Lembrei-me de um episódio que se passou há anos comigo.
Por um acaso da vida, participei num jantar de encerramento de um encontro de Secretários Gerais de Ministérios da Agricultura dos PALOP.
No fim do jantar, em cavaqueira informal, perguntei a um Secretário Geral de um PALOP africano qual era a sua impressão do encontro. Ele respondeu-me que sim que tinha sempre interesse essa troca de experiências mas que de qualquer modo havia dois mundos muito diferentes e as experiências eram incomparáveis, disse-me assim:
- Por exemplo enquanto aqui os grandes problemas que enfrenta um Secretário Geral são, por exemplo, a restruturação do Ministério, na minha terra, os grandes problemas que eu enfrento são quando se funde uma lâmpada num gabinete !
Ao ouvir isto vi completamente estes dois mundos.
2008-03-04
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