2008-03-20

Epitáfios

É talvez um tema lúgubre e desinteressante para muitos mas a mim sempre me interessaram os epitáfios, a arte de resumir numa pequena frase o que pode ter sido toda uma vida.
Nas minhas escassas visitas a cemitérios nunca deixo de ler todas as lápides que vou vendo e, na verdade, não costumo encontrar grande imaginação, mas por vezes, o encontro com uma só frase compensa-me de todo este esforço. Como esta que li há cerca de um ano em Mirandela e que ainda hoje me faz pensar:
“A esta nem Deus teve respeito”, quase me vieram as lágrimas aos olhos, que desespero estava ali oculto, e que coragem para escrever isto e publicá-lo assim.
Mas lembrei-me deste tema quando ouvi ontem nas notícias da morte de Arthur C. Clark o epitáfio que terá escolhido “Ainda não era crescido mas esteve sempre a crescer”. Grande epitáfio, sem dúvida, bem à altura do génio criativo de Clark e que eu gostaria bem de ter adoptado para mim se a minha imaginação o tivesse conseguido produzir mas eu já passei várias horas a pensar no assunto e nunca me ocorreu nada tão sublime.
Resta-me talvez aquele epitáfio que li numa entrevista de Luis Pacheco onde afirmou que o teria escolhido para si, é magnífico, como o autor:
“Aqui jaz fulano de tal, Está morto.”Se não o usaram no Luis Pacheco vou reservá-lo para mim.

2 comentários:

Il_Marchese disse...

Eheheh

Milagres do blogspot: graças ao Clarke os dois escrevimos o homologo do post em duas linguas diferentes.

O epitaffio dele, já tá a agir.

Anónimo disse...

Estes escritos sobre as lousas tumulares “Epitáfios” são talvez pouco de muito, uma fase que reúno uma vida, que ficará eternamente ligada a muitas outras vidas ,escritos nascidos e registrados pela espontaneidade de linguagem rica e viva no plano de comunicação humana. O estado de espírito que revela, contêm muitas vezes uma sabedoria surpreendente de que somos espectadores, descobri muitas vezes uma riqueza e profundidade na simplicidade descontraída do saber popular, que tentam expressar amor, à saudade, à esperança, ao consolo, à tristeza ou à revolta.
Marcaram-me algumas em particular principalmente sobre crianças que não sei ate se terei o direito de as partilhar aqui, mas penso que seria egoísmo não as partilhar :
(...)
“Candura, graça, inocência,
Refugiaram-se aqui.
Terra, não peses sobre ela,
Pois não pesou sobre ti”.
(...)
“Aqui jazem os meus ossos,
Neste campo de igualdade,
Para onde virão os vossos,
Quando Deus tiver vontade”
(...)
“Eu que nunca um só momento,
Senti paixão pelo ouro,
Hoje por causa da morte,
Guardo enterrado um tesouro”

Fernando Monteiro