2008-03-29

As Cesarianas

É um caso exemplar das minhas grandes preocupações sobre o devir da civilização.
Quem pensa que será o aquecimento global ou a o terrorismo de base islâmica, que se desengane, essas, são questões “menores”, que a humanidade já enfrentou no passado sob diversas formas e já se saiu bem, com milhões de mortos, é certo, mas que já não nos incomodam nada. Safou-se e nós estamos aqui .
Quando a ameaça é óbvia, a sociedade de “Homo Sapiens Sapiens” tem encontrado facilmente soluções para as questões que estão ao seu alcance.
Agora as cesarianas que são uma prática ancestral de recurso para casos extremos, um verdadeiro hino ao domínio da razão dos homens sobre a natureza, que permite trocar as voltas ao “destino natural” salvando vidas, uma verdadeira prova da dimensão divina que nós somos também, quando passa de excepção a regra, de operação de recurso a operação de rotina só trás ao de cima a nossa dimensão animal de macacos que também somos.
A cesariana tornou-se confortável, um “win win game” ganham os médicos que dominam a técnica, cobram bem e reduzem os riscos, ganham as mães que sofrem menos, livram-se da praga bíblica, “parirás os teus filhos com dor”, aparentemente todos ganham, e mesmo para o bébé, o parto transforma-se num passeio.
É assim que vi com enorme espanto as estatísticas do hospital onde nasceu o meu primeiro neto um gráfico circular da sua “performance” onde apresentavam “orgulhosamente” uma percentagem largamente prevalente das cesarianas sobre os partos normais.
Vi também num programa da Ophra uma série de futuras mães referirem com descontracção o dia exacto em que os seus filhos iriam nascer.
Parece que a tendência é para que a cesariana se transforme no parto normal civilizado.
A questão é que sabemos pouco e se dominamos bem os processos biológicos mais aparentes, estamos ainda longe de dominar, por exemplo, o que se passa no cérebro daquela criança que nasce, mas já suspeitamos de algumas coisas. A ciência já conhece por exemplo o choque de DMT que é produzido pelo bébé naquele momento tão traumático, o que ainda não sabe é que importância que isso tem para o futuro daquela criança mas já suspeita que isso é muito importante e o mesmo se passa com outras moléculas endógenas.
Na verdade, estamos, de facto a abrir uma nova caixa de Pandora, o que dantes se diluía num mundo de diversidade e fazia parte do mistério que cada um de nós é, vai passar para o “main stream”, estamos a 20 anos de conhecer a primeira geração de filhos da cesariana.
Logo saberemos mais.
Muita gente tem já consciência deste problema, uns bem informados, outros apenas com aquele sentimento difuso de que isto não está certo.
Mas como combater uma prática que, à primeira vista, é útil para todos ?
A Sra. Ministra da Saúde está preocupada, bem haja, mas limita-se a dizer que o problema não pode ser decidido pelas mulheres futuras mâes, é já um passo em frente embora pense que confia demasiado na isenção e competência dos médicos.
De qualquer forma é um passo no sentido correcto.

4 comentários:

Anónimo disse...

Nuno
vivo e ensino numa sociedade em que ha ja algumas mulheres que optam por partos sem intervencao medica. Umas tem os bebes em casa e outras em "birthing centers". Em casa tem o apoio de um "tecnico experiente em partos", nos "birthing centers" a diferenca e que se algo correr mal, ha equipas medicas por perto. As mulheres tem ainda outra escolha, escrever um plano e antes do parto se iniciar partilha-lo com o medico que as vai apoiar. Se no plano estiver estipulado que as maes nao querem drogas, o medico nem sequer pode oferecer as drogas.
A maioria das mulheres, no entanto, ainda prefere ter os seus filhos no hospital com apoio medico.

Trabalho tambem aqui com as criancas que me chegam as maos 5 anos depois.
A minha experiencia e que em media o QI desta geracao e mais alto. Ha mais criancas no espectro do Autismo (melhor/mais diagnostico, maes mais velhas, vitaminas pre natais, ninguem sabe, sendo que a ligacao a vacinas foi afastada cientificamente), conheco algumas criancas que tendo ficado presas no "birth canal" e as maes tendo estado em trabalho de parto mais tempo do que seria desejado para elas e para os bebes, e ainda porque tinham os "birth plans" tem agora problemas ao nivel do desenvolvimento.

Nao sei qual e a estatistica entre cesariana e depressao pos-parto. Talvez uma mulher a sofrer dores inimaginaveis por mais do que 10 horas nao sera muito saudavel para ela e para quem a rodeia.

Sou tambem mae e irma de duas maes. A nossa posicao e liberdade de escolha e seguranca para as maes e para os bebes. drogas sempre que a mae as precisar e cesarianas sempre que o bebe e/ou a mae estiver em perigo!

fazer uma cesariana e caro! cuidar (bem) de uma crianca com problemas de desenvolvimento e muito mais caro!

Anónimo disse...

creio que o seu primeiro paragrago e a questao do controlo da natalidade e dos partos nao estao completamente dissociados.
Milhoes de mortos ha 900 anos nao e visto nem sentido da mesma foram que actualmente.
Um mulher em 1100 AD teria em media quantos filhos?
quantos destes sobreviviam as doencas tipicas da infancia?
Sera que uma mae que nao via os seus filhos em batalha em directo na sua sala de estar e que tinha 20 filhos dos quais ja tinha perdido 7 em doencas tipicas da infancia sente-se da mesma maneira?
Certo e, que as mulheres nao votavam e agora sim!

Unknown disse...

Pai, tens que ler o Michel Odent.

De qq forma, falando de experiencia propria, com cesariana tb se sofre e bem, no pos-parto. E parte das dores inimaginaveis durante o parto dito normal, sao consequencia de varias outras intervenções (indução, imobilizaçao na cama, etc). Sao partos por vias normais, mas longe de serem naturais.

Das pessoas que conheço que passaram por 2 partos (cesariana primeiro, parto normal em segundo ou vice-versa) todas, unanimemente, preferem o parto normal. Conheço uns 5 ou 6 casos.

O que mais me choca nisto tudo, em particular em portugal, é os procedimentos standard dos hospitais (publicos e privados) irem qs todos de encontro as praticas que NAO SE RECOMENDAM pela OMS. Nem percebo como se justifica isto.

De qq forma acredito que as coisas vao mudando e aos poucos a sociedade (e comunidade médica) vão tomando consciencia disso. O Hospital de S. Joao do Porto é um bom exemplo a seguir. E existem a Sociedade Portuguesa pela Humanização do Parto a que ja aderiram tb varios profissionais de saude.

Outro aspecto nisto do parto, mais do que normal vs. cesariana, e consequencias para uma geração, é a violencia que é a mulher não ser incluida nas decisoes no decorrer do parto. Mais do que tudo, isto foi o que me chocou nos meus dois partos. No primeiro, senti-me qs violada. No segundo fiz um plano de parto. O correr da coisa fez que a cada passo se sofresse um desvio ao plano, terminando, tb, em cesariana, mas sempre, sempre, me incluiram nas decisoes de desvio. O que fez com que fosse uma experiencia para mim mto mais pacifica e não acompanhada da sensaçao de revolta q senti da primeira vez.

Anónimo disse...

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