2008-01-24

Dois homens admiráveis

Quando há dias, morreu Bobby Fischer, não fiz ao facto nenhuma referência.
Senti que não era fácil falar de um homem tão notável e simultaneamente tão estranho.
Brilhante, inteligente, enorme jogador de xadrez, antipático, mimado, quezilento, caprichoso, livre.
Por outro lado, sempre que pensava em Bobby Fischer, por qualquer associação misteriosa estabelecida entre células do meu cérebro um outro nome me ocorria insistentemente à memória, o de Clive Sinclair, dizendo-me uma voz interior “não podes falar de um sem referir o outro”.
Revi então brevemente as minhas referências essenciais de um e de outro:

Bobby Fischer: O célebre “match” de 1972 entre Fischer e Spassky, o seu significado simbólico em termos da "guerra fria", a mediatização mundial a que foi sujeito, a qualidade do jogo, sobretudo de Fischer, as novidade teóricas que introduziu, os lances de génio, foram responsáveis por o meu crescente interesse por este jogo fascinante.
Em Portugal, e julgo que também na generalidade do mundo, na estação pública de televisão (única na altura) no primeiro canal, em horário nobre todos os jogos foram seguidos e comentados lance a lance por João Cordovil. Nunca isto tinha sido feito antes, com este desporto, nunca isto foi feito depois com o Xadrez.
Depois, o abandono to título mundial, a progressiva desvinculação à sua pátria, cujo prestígio e honra tão brilhantemente tinha defendido, afastamento que terminou em ódio desproporcionado.
No 11 de Setembro o comentário de Bobby Fischer ao ataque terrorista foi mais violento do que este “Um dia maravilhoso mas foram só duas torres, lamento que os EUA não tenham sido completamente banidos do mapa”.
Tudo isto está profusamente documentado na net, com artigos filmes e declarações do mesmo.

Clive Sinclair: Talvez no século XX ninguém tenha influenciado tanto o sentido do vertiginoso desenvolvimento tecnológico e tenha influenciado tanto as nossas vidas de hoje como Clive Sinclair.
A primeira calculadora electrónica que vi na minha vida foi no ano de 1969, tinha-a um colega meu de vastas posses, comprada nos EUA por 18 contos (nesse ano eu almoçava por mais ou menos 15$00) fazia as 4 operações de forma rápida e eficiente.
Quatro anos depois eu tinha a minha própria calculadora, oferecida pelo meu irmão Zé Manel, (estava portanto ao alcance da sua bolsa que não era então muito recheada) e alem das 4 operações extraía raízes quadradas e fazia ainda outras habilidades de que já não me recordo.
Quem tornou isto possível foi Clive Sinclair !
Por esses anos (1970) deslocámo-nos em visita de estudo à Fundação Gulbenkian para ver um monstro caríssimo que era um da meia dúzia dos computadores que existiam em Portugal, fazia cálculos terríveis e a grande velocidade. Feliz o país e a instituição suficientemente poderosa para ter um.
Alguns, poucos, anos depois, tinha já eu um computador em minha casa, tão poderoso como o “monstro” da Gulbenkian e comprado a partir do meu parco salário, o célebre 4K e pouco depois o magnífico e potentíssimo ZX-spectrum.
Quem tornou isso possível foi Clive Sinclair !
Depois, toda a gente seguiu os seus passos e ele parou, ainda se falou de que ia fazer o mesmo aos automóveis e pô-los ao preço dos amendoins, mas por uma razão ou outra, não vimos nada disso, pelo contrário, hoje dedica-se a jogar poker, parece que também muito bem, como tudo o que faz.
Reflectindo um pouco consigo perceber o que Bobby Fisher e Clive Sinclair têm em comum:
Ambos foram mentes brilhantes, ambos estiveram mesmo no centro do “main stream” com os holofotes sobre eles e ambos escolheram marginalizar-se, fazer o que lhes apetecia e dizer ao mundo “fuck you !”
Bem hajam !

3 comentários:

Anónimo disse...

Nuno
obrigada
precisava de o ouvir falar de outras coisas
que Hhomens maravilhosos escolheu
obrigada

Nuno Jordão disse...

Tem razão
O fumo não merece que falemos tanto dele.
Mas sabe, não era bem do fumo que eu quiz falar foi mais da liberdade.

Anónimo disse...

bem sei
da sua e da minha
quando perdemos alguma ficamos tristes, quando encontramos uma nova deliciamo-nos