2008-01-17

17 de Janeiro de 2016

Circulo no meu carro numa estrada isolada, ao fundo começo a desvendar indícios de uma brigada de controlo misto da GNR e da ASAE.
Lá estão as metralhadoras, as máscaras encobrindo o rosto, os fatos de ninja dos polícias da ASAE e a velha farda cinzenta dos GNR.
Fico tenso: “diabos, onde vou eu esconder o cigarro ? se o deito pela janela eles vêem, o carro não tem cinzeiro, desde que foram proibidos”. Cuspo para o cigarro para o apagar, atiro-o para o chão e com os pés meto-o de baixo do tapete.
Entretanto estou já próximo da brigada fazem-me já sinais para encostar à direita.
Encosto e paro, dirige-se para mim um GNR. A 2 metros, 4 agentes ninjas da ASAE rodeiam o carro empunhando as metralhadoras.
Abro o vidro:
- Bom dia Sr. Guarda !
- Bom dia, os seus documentos.
Pediu-me o GNR, enquanto os olhos percorrem o interior da viatura e o nariz procura sinais de fumo.
Um pouco atarantado lá tiro do porta luvas o documento único da viatura e, da carteira, o meu documento único.
O GNR examina o “chip” com o seu leitor de “chips”.
- Parece estar tudo em ordem mas o Sr. esteve aqui a fumar !
- Eu ? Sr Guarda. Nem pensar nisso, há anos que não fumo.
- Tá bem, dê-me então o seu certificado de “jogging”.
Rebusco a carteira e lá encontro o papel já em mau estado de tanto uso, entrego-lho.
O GNR examina-o e diz-me:
- Falta aqui o carimbo de “jogging” da semana do Natal.
- Oh Sr. Guarda, eu fiz o “jogging” mas com a pressa das prendas esqueci-me de ir pôr o carimbo.
- Pois é, o carro cheira a fumo, o Sr. não leva o “jogging” a sério, e os contribuintes honestos é que têm de pagar para sua saúde enquanto o Sr. lhe vai dando cabo, sem nenhuma consideração pelos outros !
- Oh Sr. Guarda, nada disso, foi só um esquecimento, eu faço sempre os meus 5 quilómetros de jogging semanais.
- Bom, vá-se lá embora antes que os meus colegas da ASAE se apercebam, olhe que eles não perdoam e ainda o mandam para interrogatório, multa e curso de reabilitação cívica durante um mês, e se não passar no exame já sabe, fica sem carro e desconto no vencimento.
- Obrigado Sr. Guarda, vou ter o maior cuidado !
Lá segui o meu caminho em paz, o Governo zela por nós e graças a Deus ainda há um pouco de bom senso !

4 comentários:

Eduardo Jordão disse...

Nem mais, fascinante...

Anónimo disse...

Nuno creio que a questao nao e controlar se o sr fuma e quanto, mas onde. Pode fumar em casa, na garagem, no seu carro, na rua, no jardim, na praia...
Nao pode fumar em lugares fechados partilhados por outros. E assim tao dificil de engolir?
como nao fumadora, filha de nao fumadores e que zeladora feroz pela saude respiratoria da minha familia nao vejo grande drama nisto. Assim como nao tenho problema nenhum em pagar para tratar do seu cancro do pulmao assim como espero que o sr nao se importe por pagar pela educacao dos meus filhos ;)

Nuno Jordão disse...

Deus a ouça cara anónima, Deus a ouça.

Anónimo disse...

Meu caro Nuno, o texto está delicioso. Aliás, como tudo o que você escreve nos vários textos que já tive a oportunidade de ler, aqui no "Macacos-Deuses"!

O problema está, como diz a Anónima das 6:36 PM, no local do "fumanço" e não no próprio "fumanço".

É curioso verificar que os fumadores, à falta de argumentos que justifiquem o seu vício, se agarram a esse falso argumento de que os não fumadores lhes querem tolher a liberdade de fumar. Nada mais falso! Ninguém os quer proibir de fumar. Tal como diz leitora anterior, podem fazê-lo na rua, na praia, no campo, no jardim e até mesmo em casa ou no carro, desde que esteja sozinho ou os habitantes /passageiros não se importem de gramar com o fumo expelido dos seus cigarros.

Esta história da liberdade de fumar, faz-me lembrar aquele putos das corridas de carros (que pomposamente se intitulam de "street racers") quando querem justificar a sua acção criminosa nas auto-estradas ou na Vasco da Gama, com o argumento de que se acham no direito de acelerar à noite a 300Km/h porque têm um carro onde gastaram uma fortuna e porque gostam da aventura.
Também eles se sentem reprimidos só porque a polícia não os deixa "voar" pelo meio do trânsito. Também eles não colocam a questão de estarem a pôr em perigo a vida dos outros utentes das estradas. "Se estão mal, mudem-se! Não venham para as auto-estradas!" é o pensamento dominante destas criaturas, tal como fazem os fumadores ("Se não gostam do fumo do tabaco, fiquem em casa, não venham aos restaurantes, nem aos cafés ou pastelarias!")

Compreendo a dificuldade de se libertar de tão terrível vício (sei do falo porque fumei durante anos); gosto da sua maneira de pensar outros assuntos e de como os expõe, mas não posso concordar com esta obsessão pela "liberdade" de envenenar o ar que todos temos direito a respirar.