2008-01-31

A minha difícil relação com a Filosofia

Tinha eu 17 anos, no velhinho 6º ano do liceu (hoje chamar-se-á 11º ano unificado) quando tive o meu primeiro contacto oficial com a matéria da Filosofia.
Tive um excelente mestre, sei-o hoje, na altura não lhe ligávamos nenhuma. Era um professor madeirense, que sempre que dizia Filosofia pronunciava algo que nós ouvíamos como filhosofia.
Poderão imaginar como, aos 17 anos, aquela involuntária e muito tortuosa conotação erótica, era uma fonte de risos e piadas permanente: “ele ensina filhosofia mas não nos diz nada sobre como ter filhos, deveria haver aulas práticas !”
Enfim essa simples diferença de pronúncia fazia desvalorizar tudo aquilo que ele ensinava mas mesmo assim retive, até hoje, um aforismo que aprendi com ele e que equilibrei dentro de mim:
“A Filosofia não se ensina nem se aprende, pratica-se, ensinar Filosofia é apenas ensinar um vocabulário”
Como isto é verdade, todos somos filósofos de facto, o que nos pode faltar é o vocabulário próprio, as referências e o correcto enquadramento de diversas categorias filosóficas já amplamente pensadas e discutidas por grandes pensadores desde a mais remota antiguidade e que nos permitirá expressar melhor o que pensamos.
Como aluno fui excelente, participava muito nas aulas, punha questões filosóficas de tal nível que depressa ganharam o estatuto de “jordanadas”, eram questões, ingénuas umas, profundas outras, notáveis todas.
O professor chamava-me sofista.
No exame nacional do 7º e último ano do ensino secundário, obtive um notável 18 em Filosofia, entre outras questões defendendo ideias do abade Berkeley (hoje, ficou-me o nome na memória mas já não sei bem que ideias eram embora saiba que era suposto na altura o aluno refutá-las).
Depois a formação universitária no âmbito técnico e o contacto directo com matérias filosóficas quase desapareceu.
Mais recentemente voltou-me um enorme interesse em recordar e reforçar esse vocabulário de que falava o velho professor, porque filosofar, com os parcos meios que tinha, sempre o fiz toda a vida.
Graças a Deus que hoje temos o Google, que não havia na altura, e que nos permite ganhar muito tempo.
Filosofem pois também, que vale a pena !

2 comentários:

eu disse...

Será que também fui aluna do seu professor? tderá ele dado aulas no Funchal? Se é madeirense...

Nuno Jordão disse...

É bem possível que tenha sido seu professor também,infelizmente não retive o seu nome, lembro-me que apareceu no "Padre António Vieira" liceu que a minha geração inaugurou e sentia um pouco de frustação por ser apenas professor do secundário, o seu sonho era a Universidade.
Talvez tenha vindo da Madeira, nesse ano, à procura desse sonho ou, não o tendo encontrado, tenha regressado à ilha pouco depois.
De qualquer forma para mim foi um belíssimo profesor, há poucos que me tenham deixado uma impressão tão duradoura.