2004-05-07

As tenças

Ao ver como os governos compensam regiamente os homens sem qualidade que enxameiam o país, como muito bem diz Paulo de Almeida Sande no seu excelente artigo de opinião, hoje publicado no Diário de Notícias, vêm-me há memória tantos que bem mais mereciam, se não tantas benesses, ao menos uma vida digna.
Vem isto a propósito do manifesto apresentado por alguns atletas de alta competição, referenciado no jornal da 2 por Susana Feitor.
Dizia ela, com imensa razão, que jovens que entregam 15 anos da sua juventude a um esforço enorme, que engrandece o país e faz levantar a nossa, tão abalada auto-estima, quando vemos tocar o hino e subir a bandeira num qualquer palco do mundo, estão muitas vezes condenados à miséria, quando passado esse período áureo, o país se esquece deles e eles têm que enfrentar um futuro que não prepararam devidamente.
Tudo isto me fez lembrar as tenças reais, que já não se usam, mas que ajudavam a pagar essa dívida do pais.
Para mim, quem já ganhou uma medalha olímpica, pelo que deu ao país, merecia que o país lhe permitisse viver dignamente até à sua morte.
Mas tudo isto são problemas velhos: logo a seguir, na 2, no programa do Prof Saraiva sobre Afonso de Albuquerque, surge a referência à estrofe 24 do canto X de Os Lusíadas, onde Camões se queixa que:
“Isto fazem os reis, quando, embebidos
Numa aparência branda que os contenta,
Dão os prémios, de Aiace merecidos,
À língua vã de Ulisses, fraudulenta,
Mas vingo-me: que os bens mal repartidos
Por quem só doces sombras apresenta.
Se não os dão a sábios cavaleiros
Dão-os logo a avarentos lisonjeiros

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