2010-03-15

A Globalização contada às crianças

Parte III

A Civilização


Amiguinhos

Onde é que tínhamos ficado? Ah, foi na propriedade, é verdade, a propriedade que mudou tudo.
Primeiro era preciso saber o que era de uns e outros, porque sempre havia gente a pôr isso em causa. Como os humanos, entretanto, descobriram a escrita passaram a poder fazer registos mas mais importante do que isso teve que aparecer uma autoridade que esclarecesse as questões e uma polícia para evitar os roubos e juizes para arbitrar disputas e mais tudo o que faz um Estado, passou a haver Estados.
Depois, enquanto dantes se eu queria uma maçã só tinha de ir apanhá-la numa macieira, agora havia alguém que me dizia:
- Essa macieira é minha, se queres uma maçã tens que me dar alguma coisa em troca.
Dar o quê? Talvez uma pulseira que eu tivesse feito ou uma cabra que fosse minha mas uma cabra era muito por uma maçã e se lhe desse só um bocado, tinha que matar a cabra e todos perdiam, teve-se de inventar algo diferente, uma coisa que toda agente quisesse e se pudesse dividir em porções.
A certa altura usou-se o sal e assim, por uma maçã talvez pudesse dar um punhado de sal, aliás é por isso que ainda hoje se chama salário ao que se paga pelo trabalho de uma pessoa.
Mas o sal também não dava muito jeito, era difícil carregar grandes quantidades para comprar uma quinta, por exemplo, alem de que se dissolvia na água.
Falei de uma quinta porque entretanto começou também a agricultura, em lugar de apanhar o que a natureza dava os humanos começaram a imitar a natureza e a criar aquilo que mais gostavam para ter sempre à mão.
Escolheram outra coisa, o ouro, o ouro dava muito jeito, podia-se dividir em porções muito pequenas e sobretudo, por alguma razão misteriosa, toda a gente queria ter ouro.
Entretanto o dono do pomar de macieiras pensava assim, “tenho as maçãs todas que quero e ganho muito ouro por aquelas que vendo, não preciso cuidar do pomar, vou dar um bocadinho do meu ouro para que alguém cuide do pomar por mim”.
E assim foi, criaram-se cidades e como nas cidades não havia agricultura, compravam os alimentos com ouro e mais tudo o que precisavam como os tachos e panelas e a roupa enquanto outros faziam essas coisas por ouro.
Entretanto o homem ia usando a sua imaginação e inventando sempre novas coisas.
Todavia outros bandos de homens começaram a inventar carros puxados por cavalos e armas de todo o tipo, como arcos e flechas, espadas e lanças e, mais tarde, espingardas e pistolas e pensaram assim” Nós escusamos de ter esforço a fazer coisas, vamos conquistar aquele Estado e ficamos com tudo o que era deles.
Assim começaram as guerras que duram até hoje.
Mas uma coisa tinha de mudar, o ouro é muito pesado, e se eu preciso de muito ouro, para comprar coisas, como é que eu aguento com o peso? e quando vou para a guerra tenho que deixar o meu ouro sujeito a ser roubado.
Assim apareceram outros humanos que disseram “eu guardo o ouro comigo e dou-vos um papel a dizer a quantidade de ouro que deixaram comigo e quando vocês vierem mostram-me o papel e eu devolvo-lhes o ouro, menos um bocadinho que é para o meu trabalho mas se precisarem de comprar alguma coisa podem entregar esse papel ao vendedor e ele depois vem ter comigo que eu dou-lhe o ouro”. Foram estes que inventaram os bancos que perduram até hoje e o papel moeda, que são as notas como as que hoje temos.
A todo este processo, que dura até hoje chamou-se civilização.
Um homem sábio que se chamava Almada Negreiros pensou assim: “A civilização é uma intrujice”.
E, de certa maneira tinha razão, porque os humanos deixaram de ser livres e tinham que depender uns dos outros e se tinham ouro, tudo bem, mas se não tinham só podiam trabalhar para ganhar algum para sobreviverem e isto só se lhes dessem trabalho.

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