2009-01-01

Reflexão sobre o fogo de artifício

Neste primeiro dia do novo ano os media enchem-nos com os festejos feitos em muitos cantos do mundo que nos mostram à exaustão o fogo de artifício, o espectáculo milenar de luz e som que nos é proporcionado pela pirotecnia.

Tudo começou no oriente, talvez na China, primeiro incipiente, com a queima de pedaços de canas de bambu com determinadas características mas logo melhorados com a incorporação da pólvora, também descoberta na China.

Claude Lévi-Strauss, no seu livro “Raça e História”, defende uma teoria interessante e coerente sobre o desenvolvimento da civilização.

Ele vê as várias culturas como tendo, à partida, ou porque os seus interesses a conduziram nesse sentido, como que uma mão de cartas com que jogam neste jogo global. Por vezes a carta de que precisam para fazer uma boa “mão”, com as que já têm, está na posse dum seu parceiro embora, para esse parceiro, essa mesma carta possa ser, eventualmente, descartável.

Esta imagem é poderosíssima em termos didácticos e ajuda-nos a perceber muitas coisas, como a destruição de qualquer ideia de superioridade ou de inferioridade entre as diferentes culturas, daí que eu nunca mais a esqueci desde que a li há mais de 30 anos.

Um exemplo que Lévi-Strauss utiliza para ilustrar a sua tese é precisamente o da pólvora, descoberta na China, vários séculos antes do que a Europa a conheceu, e utilizada essencialmente para esse fim lúdico, o fogo de artifício.

Essa mesma pólvora era a carta que a Europa precisava para o seu jogo bélico e de dominação e rapidamente a foi buscar à China para a incorporar na sua máquina de guerra e com um enorme “sucesso”, ficou com uma excelente “mão” ganhadora.

Hoje, uma pesquisa na “net” sugere que a China já usava a pólvora também em instrumentos de morte e destruição, de qualquer forma nunca à escala do que veio a fazer a Europa quando na posse desse segredo.

De qualquer modo a mim conforta-me pensar que o primeiro uso que ocorreu ao homem quando descobriu a pólvora, foi o da beleza e da animação da pirotecnia e só depois veio esse péssimo instinto da destruição para estragar tudo.

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