2009-01-21

Quartas-Feiras

Nestas minhas novas rotinas, as quartas-feiras são um dia especial.
Dia de contactar o mundo.
A razão é simples, com a nova tecnologia, grande parte da minha vida passa por casa.
Mesmo o trabalho que ainda vou fazendo pode ser feito em casa, é um trabalho de pensamento e de escrita e de comunicação por e-mail.
Às quartas, porém, a minha casa fica inutilizada para qualquer função.
É o dia da D. Maria, que me faz a limpeza semanal e fá-la bem, vira-me tudo do avesso e desarruma-me tudo ao mesmo tempo, até que no fim tudo se repõe com alguns erros sistemáticos, que já interiorizei:
São os erros da D. Maria, legítimos, ganhou este estatuto.
Nas quartas-feiras, então, procuro sair durante o dia, vou almoçar com os meus velhos amigos e colegas de emprego e invento qualquer coisa para fazer a seguir.
Hoje, fui revisitar a Faculdade de Letras e a minha antiga professora de polaco.
Na Cidade Universitária, estacionar é difícil.
Há uns parques exclusivos para certas personalidades, uns parques públicos e pagos, um espaço livre apropriado (também pago mas com os parquímetros avariados, segundo aprendi) e um espaço selvagem onde se amanha quem pode.
Os tais espaços apropriados mas com parquímetros avariados são agora geridos pelos chamados arrumadores. Identificam vagas e prestam os seus serviços, em troca de uma gorjeta.
Geralmente é gente sem grandes recursos, desadaptados da sociedade, que assim tenta assegurar a sua sobrevivência diária.
Eu gosto dos arrumadores, é gente que faz um trabalho tão digno como outro qualquer.
Hoje, ao sair, falei com o que me tinha arranjado o lugar e que sorria já à minha hipótese de sair, libertando espaço para um novo carro.
E Perguntei-lhe por alternativas, pelo acesso a todos aqueles parques com cancelas.
“Caríssimos e à hora” disse-me ele, e apontando para os vários carros “mal” estacionados nos locais selvagens referiu-me: “ e estes só cá falta a GNR para os multar a todos”.
Naquele momento aquele “marginal” transformou-se num “banqueiro capitalista”, reenvindicando o Estado para defender o seu interessezinho pelas suas gorjetas.
Aprendi, de novo, uma lição que já sabia:

É a condição humana, tudo e todos, tão bem na grandeza como na sarjeta, são exactamente os mesmos!

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