2006-04-08

E o direito dos fumadores passivos ?

Quando na realidade todos deveríamos ter direito a tudo, discutir a legislação sobre o tabagismo em termo de direitos de fumadores e de não fumadores não pode nunca passar de uma conversa de surdos, do tipo: “o meu (direito) é maior que o teu !”
Ora não é não senhor, nenhum direito é maior que o outro, nenhum se pode impor ao outro, o problema que se coloca é apenas, como em tantos casos, o de obter um razoável equilíbrio para uma sã convivência, o que não é tarefa fácil se não houver um mínimo de espírito de tolerância, como parece não haver. A alternativa será sempre a da lei do mais forte e o da opressão de um grupo sobre o outro.
Reconheço que agora, em Portugal, a vida está mais difícil para os que não suportam o fumo do tabaco mas, pelo menos, estes não sentirão o sofrimento da dependência orgânica e do síndroma de carência de um fumador.
Impeça-se sim o fumo em locais onde não fumadores têm necessidade de estar, mas prevejam-se espaços onde eles não sejam obrigados a estar e um fumador possa usufruir do seu prazer ou “matar” o seu vício, com um mínimo de conforto.
E num gabinete onde estou só sem nenhum não fumador a incomodar-se, não consigo ver qualquer razão para me quartarem esse prazer, a não ser o da pura maldade.
Mas se se quer colocar a questão em termos de direitos deixem-me trazer aqui mais um à liça, o mais ignorado de todos: o direito do fumador passivo a ser isso mesmo, um fumador passivo
Direito bem complexo este que para ser satisfeito exige determinado comportamento de terceiros.
Foi há poucos dias, na Grécia, que o ouvi reivindicar.
A Grécia, ao contrário da Irlanda, é um paraíso para os fumadores, pode-se fumar em quase todo o lado, até no aeroporto de Atenas apenas se não pode fumar em lugares específicos para não fumadores.
Nas reuniões em que participei, quando ao fim de algumas horas de abstinência aproveitei uma pequena pausa para perguntar timidamente se haveria algum local onde pudesse fumar um cigarro, vi muitos olhos brilharem de prazer e muitos maços de cigarro a saírem dos bolsos com um ar de alívio, para me dizerem assim: “mas pode fumar aqui mesmo e a qualquer momento”. Afinal a abstinência generalizada tinha sido feita apenas em minha homenagem.
Conversando sobre este tema com Iorgos Petrides, que nunca fumou na sua vida, vim a saber que esta não era ainda uma questão na ordem do dia grego. Falei-lhe então do que se passava em Portugal onde se espera uma mudança rápida para, receio bem, um fundamentalismo anti-tabagista e falei-lhe na Irlanda, onde esse fundamentalismo já se exercia.
Iorgos estava atónito e procurava confirmar “mas então na Irlanda não se fuma já nos bares e discotecas ?”, “só em espaços abertos que vão procurando manter ou construir” respondi-lhe eu, e foi então que Iorgos explicitou a sua reivindicação a fumador passivo:
“Eu não fumo nem nunca fumei na minha vida, mas entrar num bar onde não haja um ambiente de fumo, parece-me que não tem graça nenhuma, é como se proibissem aí também a cerveja e outras bebidas alcoólicas, para mim não faz sentido, não é o ambiente que eu gosto !”
E pronto aqui está um ponto de vista que ainda nunca tinha ouvido.

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