2005-04-18

Na estação de “metro” do Lumiar,

enquanto aguardo comboio com “destino rato” (insólito destino, para quem, como eu por vezes, sem o “largo do” não vê mais do que o peludo animal que com a peste negra declarou guerra à humanidade e que os homens também elegeram como inimigo a abater), olhando para a parede de azulejos, começo a distinguir, tenuemente, em alto relevo qualquer frase como esta:
“Andam anjos a depositar palavras nos bancos públicos da cidade”
Fascinou-me a descoberta dessa frase magnífica:
O facto de estar semi-oculta, exigindo uma atenção especial para a sua descoberta.
O verificar como alguém descortina “anjos” onde a generalidade das pessoas apenas vê vadios iconoclastas.
O elevar esse pueril gesto da criatividade humana, a uma forma superior de depósito bancário, enfim um mundo riquíssimo de reflexões que seria longo desenvolver aqui.
Comecei então a perscrutar essas paredes misteriosas de azulejos e descobri então que estavam carregadas de diversas outras frases, como aquela, em várias línguas, inscritas todas em alto-relêvo, na mesma cor dos azulejos, apenas legíveis quando o olhar incide em determinados ângulos.
Não faço ideia de quem foi o arquitecto que concebeu tal coisa mas uma coisa é certa: a estação de “metro” do Lumiar é a única onde desejo que o combóio demore mais um pouco, é que:
Andaram anjos a depositar palavras nas paredes de azulejo do “metro” do Lumiar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Curiosamente é uma das poucas que não é da Viuva Lamego:


O projecto arquitectónico é da autoria do Arq.º Dinis Gomes e as intervenções plásticas são da autoria dos Artistas Plásticos António Moutinho, Marta Lima e Susete Rebelo.

(...)

Os Artistas Plásticos, António Moutinho, Marta Lima e Susete Rebelo, sublinham que os azulejos foram criados de forma a poderem “revestir toda a estação com uma espécie de pele, que respira, que é orgânica, que pulsa como os seres que nela transporta; que é no fundo, uma representação do fluxo do conjunto de indivíduos interligados no mesmo espaço-sistema, não deixando, ao mesmo tempo, de os personalizar nos seus micro - sistemas individuais e únicos”.

Para obter esse efeito, os artistas procuraram “criar, quer a nível visual, quer de toque, uma textura, uma cintilação de cor em dois níveis de profundidade, tendo isto resultado na concepção de um azulejo com relevo e com diferentes tipologias.”