2005-04-28

A minha iconoclastia

Por vir de alguém cuja opinião prezo, o comentário de Jpt ao meu poste sobre Lance Armstrong despertou em mim a necessidade de uma sincera reflexão.
De facto, quem como eu defende acima de tudo o indivíduo, sobretudo aqueles que sabem despertar em si a centelha “divina” que julgo estar contida em todos nós, criticar Lance Armstrong, logo esse homem corajoso e combativo que se sacrifica e agiganta para vencer os seus próprios limites, que se ultrapassou a si próprio, como muito poucos, na doença terrível de que foi alvo e que muito pela sua fibra combativa não o venceu, representa, aparentemente, uma contradição grosseira com o meu próprio discurso. Não foi isso que quis fazer
Também, o próprio exemplo que dei da volta ao Algarve terá sido talvez infeliz, porque a oferta do 1º lugar, que facilmente seria seu, a um seu colega e amigo não deixou de ser também uma demonstração de excelentes qualidades humanas.
No entanto, mesmo reconhecendo tudo isto, mesmo admirando o homem, olho para mim próprio e não deixo de sentir tudo o que escrevi.
É que foi um puro acto de iconoclastia, não foi o homem que quis atingir mas o seu ícone, apenas a sua imagem, produzida pela gigantesca máquina de espectáculo que domina todo o desporto profissional de hoje em dia. É essa especialização idiota numa única prova, porque “é o que o público quer”, com desprezo por todas as outras, com um exército de acólitos armados de bicicleta, de automóvel, de câmaras de filmar e de fotografar, de canetas e computadores portáteis, pagos todos para o servir ou antes servir a indústria do espectáculo parecendo que estão a servir o homem, o próprio homem que irão descartar, sem dó nem piedade, logo que as suas pernas deixarem de render o suficiente e que outro “Lance” chegue para lhe tirar o lugar e apagar a sua memória.
Se feri o homem foi apenas na medida em que se submete a este domínio.
Nem todos o fazem:
Dois exemplos apenas de gente que também foi envolvida pela máquina sem que, no entanto, se tenha submetido a ela:
Bobie Fisher
Mohamed Ali (Cassius Clay)

A estes 2 nunca chamaria campeões de papel.

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