2004-01-18

Quem guarda os nossos guardas

É interessante verificar como se construi a nossa idiossincrasia, o nosso sistema de valores e de crenças que determinam as nossas atitudes sobre todas as questões.
É interessante ver como de forma inconsciente acumulamos pedras nessa construção ou desprezamos outras que parecem não se encaixar bem ou ainda como tentamos, por vezes, a escopro e a martelo, adaptar outras que nos pesam demasiado e, no entanto, permanecem determinando as nossas contradições até que em momentos de lucidez as conseguimos expulsar.
Vem esta introdução a propósito deste pequeno trecho de Aldous Huxley que, como outros, ficou retido no meu imaginário desde que o li pela primeira vez, há quase 30 anos e permanece firme na minha construção:

“Os súbditos do ditador do futuro serão governados sem dor por um corpo de Engenheiros Sociais altamente instruídos. “O desafio lançado pela engenharia social do nosso tempo”, escreve um advogado entusiástico desta nova ciência, “é como o desafio lançado pela engenharia técnica há cinquenta anos. Se a primeira metade do século XX foi a era dos engenheiros técnicos, a segunda metade bem pode ser a era dos engenheiros sociais” – e o século XXI, suponho, será a era dos Administradores do Mundo, do sistema científico das castas e do Admirável Mundo Novo.
À pergunta quis custodiet custodes ? – quem montará guarda em volta dos nossos guardas, quem será o engenheiro desses engenheiros ? – a resposta é uma serena negação de que eles necessitem de qualquer supervisão.
Parece ser uma crença tocante, entre os doutorados em sociologia, a de que os doutorados em sociologia nunca serão corrompidos pelo poder.
Tais como Sir Galahad, a força deles é como a força de dez porque o seu coração é puro – e o coração deles é puro porque são cientistas e tiveram seis mil horas de aulas sobre Ciências Sociais.”
Aldous Huxley – Regresso ao Admirável Mundo Novo

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