2004-01-26

Jantávamos

em família, calmamente, conversávamos, entre garfadas, sobre o lúgubre tema da morte ou, mais precisamente, sobre diferentes atitudes do homem face à morte.
Percorríamos diferentes casos de familiares e amigos, casos de lutadores pela vida, casos de outros que parecem desistir de viver, dos que temem a morte, dos que a desejam e de outros que lhe são indiferentes.
Recordámos como a morte nos é apresentada neste universo espectacular, como algo perfeitamente evitável que apenas aparece por desleixo nosso: os cigarros que matam, os exercícios e dietas que não se fazem, a falta de cuidado e vigilância médica, enfim, essa ideia que se generaliza nos subconscientes de que morremos apenas porque queremos, e é bem feita.
Estávamos nesta conversa, na mesa um saboroso cabrito assado, sentindo-nos confortados pelo suave prazer de continuarmos vivos meditando na morte, quando, inesperadamente, violentamente, cruamente, brutalmente, destruindo, num ápice, todas as teorias que formulávamos, a morte, ela própria, em directo e ao vivo, nos chega pela TV. Um breve sorriso de Fehér logo seguido da morte, fulminante.
Apenas o tempo necessário para a sinistra ceifeira, numa gadanhada rápida, roubar uma vida jovem, que não fumava, seria assistida medicamente e teria uma alimentação cuidada.

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