2010-04-02

Tostões e milhões

Duas historinhas

O Sr. Fonseca tem uma pequena pastelaria de bairro.
Há uns dias a minha mulher e uma amiga, acompanhadas do meu neto estiveram lá para um breve chá, torradas e uns bolinhos. A despesa foi de 3,5€.
O Sr. Fonseca, a certa altura trouxe 2 rebuçados para dar ao meu neto.
Coloco a questão: O Sr. Fonseca terá querido corromper a minha mulher e a sua amiga?
Cometeu o crime de corrupção?
O seu intuito parece-me óbvio, foi ser simpático criar boa impressão de forma a facilitar que aquelas clientes lá voltem, façam despesas semelhantes e o seu negócio prospere.
O seu investimento terá sido de cerca de 0,3 por cento da despesa ocorrida, foi isto que despendeu para promover o seu negócio, para alcançar aquele objectivo.
Será isto corrupção? Ou apenas simpatia e boas maneiras?
Penso que a generalidade das pessoas responderão apenas que o Sr. Fonseca é atencioso

Entretanto.

O Sr. Klauss Lesker administra uma empresa que vende submarinos, cada um a um preço que parece rondar os 800 000 Milhões de Euros.
O Sr. Klauss, para promover uma venda de 3 submarinos a Portugal terá dado cerca de 1,6 Milhões de Euros ao Cônsul Honorário de Portugal na Baviera, Sr. Jurgen Adolf e, eventualmente, um pouco também a alguns outros intervenientes.
Foi uma simpatia inferior a 0,1 por cento do valor das prováveis vendas.
O Sr. Klauss Lesker investiu menos no seu negócio do que o Sr. Fonseca.
E não pergunto se isto é corrupção porque a justiça alemã e portuguesa, assim como ambas as opiniões públicas, dizem que sim.

Qual a diferença então?

È apenas uma questão de dose e que dose, de facto, passar de 2 rebuçados para 1,6 Milhões de Euros, embora nos dois episódios as motivações e o esforço empregue para defender os seus negócios tenha sido semelhante, quero dizer quase exactamente os mesmos.

A verdade é que na economia, na vida, existem dois mundos iguais porém completamente diferentes, apenas por uma questão de doze:
O mundo em que nos movemos nós, comuns mortais, é o mundo das unidades mas há também o mundo dos milhões onde vivem alguns outros ou porque os têm ou porque os administram e a eles têm acesso.
Num mundo ou noutros somos todos os mesmos homens com os mesmos comportamentos.

2 comentários:

Anónimo disse...

O problema, no caso apresentado, é ser a sua mulher a arca com a despesa, e eu (nós) não temos nada com o facto do tasqueiro se desdobrar em amabilidades e lhe oferecer rebuçados. O problema é quando somos todos nós a pagar a facturazinha e há uns tantos cavalheiros a chuparem uns "rebuçados". Percebe a diferença? Bom dia!

Nuno Jordão disse...

Tem, evidentemente, toda a razão, caro Anónimo.
A questão é que, precisamente por isso ser uma evidência preferi tocar no assunto pelo ângulo menos considerado, o da natureza humana.
Tentando dizer que esse tipo de comportamento irá prevalecer sempre.
Aliás o Sr. Yurgen já vem dizendo que apenas recebeu honorários e eu duvido que venha a ser condenado.
A nós só nos resta aguentar