2010-04-12

O PEC

Este acrónimo tenebroso parece que veio para ficar.
Ele apareceu com Manuela Ferreira Leite que descobriu ou introduziu em Portugal um princípio revolucionário que consiste em considerar que a parte é independente do todo.
De facto, os impostos sempre foram definidos como a retirada de uma fatia do bolo individual, supostamente para ser aplicada no bem comum.
Toda a gente pode perceber isto ainda que não concorde, é o princípio do dízimo da Igreja, é a lógica do “Contrato Social” de Rousseau.
A inovação de Manuela, ao introduzir o PEC, foi a de considerar que poderia haver fatia independentemente do bolo, é um PEC, um Pagamento Especial por Conta, é uma fatia por conta do bolo que presumivelmente se vai criar, se não por ti, pelo teu filho ou alguém, usando a mesma lógica da fábula do lobo e do cordeiro, que La Fontaine nos contou.
É um pagamento por conta de algo imaginário, que eventualmente se pode realizar, embora isso já não seja um problema do cobrador.
Foi esta separação semântica entre bolo potencial e bolo real que foi assim cómoda e liminarmente ultrapassada.
Mas o acrónimo não ficou por aqui, hoje já temos outro PEC que dizem significar Plano de Estabilidade e Crescimento.
Será ?
Pelo que vejo, para mim, é apenas outra forma do mesmo princípio, é apenas outro Pagamento Especial por Conta, só que agora já nem precisa haver bolo potencial é apenas por conta da crise e pronto, paga que é o PEC, seja lá o que isso for.

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