2006-07-05

A “saga” dos magriços

Agora que tanto se tem falado desse episódio longínquo de 1966, gostaria de dar também o meu testemunho do facto.
E posso bem fazê-lo porque o vivi “in loco”, em Inglaterra, onde, com os meus 16 anos passava umas férias escolares num campo de trabalho, apanhando morangos e bolbos de túlipa.
Os campos de trabalho eram os “Erasmos” daquela época, a oportunidade para um jovem correr mundo sem arruinar o orçamento familiar.
Naquele tempo eu era como Pacheco Pereira, não queria saber de futebol, as minhas preocupações passavam mais pelas jovens “Suecas”, companheiras de trabalho e que designo entre aspas porque algumas delas não eram de facto Suecas, as míticas, eram apenas “gajas” porreiras de diferentes nacionalidades, livres da moralidade então vigente na nossa longa noite “fascista”.
No fim do período de trabalho passei uma semana em Londres, gastando os lucros da operação, dormindo em “pousadas da juventude” e percorrendo a cidade. Foi no período exacto em que decorria o Campeonato do Mundo de Futebol de 1966.
O que foi para mim notável, foi que Portugal, nessa época era, para os ingleses um país obscuro, velho aliado, sabiam da história, mas meio pateta e analfabeto, todavia, com os crescentes sucessos de Eusébio e companhia, saltou de repente para as luzes da ribalta.
Passei a ser melhor olhado na cidade, mas o mais significativo foi que todas as lojas, grandes e pequenas, começaram a colocar letreiros nas montras dizendo “fala-se português”.
De onde viria esse súbito conhecimento da nossa língua que parecia não haver cão nem gato que não a falasse ?
O meu divertimento e do meu colega Miranda que compartilhou comigo esta aventura, foi o de entrar em todas as lojas com o tal letreiro e “exigir” falar em português.
Foi aí e então que comecei a perceber os mecanismos do “espectáculo”.
Na realidade eram poucas as lojas onde tinham alguém que falasse a nossa língua, aparecia-nos de tudo, desde o “Sim, temos um funcionário que fala português mas hoje, infelizmente não veio” até ao caixeiro que tinha passado as últimas férias no Algarve e sabia dizer “bom dia” e “obrigado”, passando pelos que falavam algum espanhol (para eles mais ou menos a mesma coisa que o português) e até um ou outro, raríssimo, que de facto falava português.. Portugal, naquele momento entrou no mapa para os ingleses e, queiram ou não, foi o futebol que fez esse milagre.

1 comentário:

Anónimo disse...

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