2006-05-30

Auschwitz

O Papa esteve em Auschwitz e referiu que sendo alemão, (membro da juventude hitleriana, acrescento eu) não tinha palavras para se pronunciar. Compreendo-o..
Eu sou seguramente um dos poucos portugueses que melhor conhece Auschwitz.
Visitei n vezes o lugar, uma por mim, outra pela minha mulher quando me visitou na Polónia, e muitas mais por cada um dos franceses que se sucederam a me acompanhar no trabalho de formação, que foram muitos, sabendo que todos queriam visitar Auschwitz.
Eu levei-os lá.
Dizia, de brincadeira, que me poderia candidatar a guia oficial do campo, e, na verdade, podia.
As memórias que aí colhi sugerem-me muitas reflexões que poderei deixar em postes.
Talvez as vá escrevendo qualquer dia, por agora, queria apenas deixar a referência que me tocou mais fundo nesse local de massacre:
A frase que encima o portão de entrada no “campo”, que todos já viram na tv sem talvez nunca ter reparado nela e que diz::
“Harbeit Macht Frei”.
Cito o alemão de memória, perdoem-me qualquer erro, dizem-me que significa “O Trabalho Conduz à Liberdade”
Sabendo o que se passava naquele “campo de trabalho” a hipocrisia ali expressa, também contida nos concertos que prisioneiros músicos proporcionavam, junto a esse portão, para alegrar os cortejos de regresso do trabalho forçado dos seus colegas menos afortunados, esta presença simultânea entre a beleza e a mais abjecta crueldade, esta insuportável mas suportada contradição de termos, gravaram-se na minha memória, revelam-me muitíssimo sobre a condição humana.

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