Visitava mais uma queijaria no sul de França, em plena região demarcada do Roquefort.
Uma pequena queijaria artesanal como a generalidade das que se dedicam à fabricação deste notável queijo, famoso no mundo inteiro.
Meditava precisamente nesta contradição da vida moderna:
Aquela queijaria, tão precária e tão pouco higiénica, como já quase não há em Portugal, mantinha-se assim precisamente apenas por ser francesa, um dos grandes da Europa, mas irá ver, ainda assim, julgo eu, mesmo em França, o seu inexorável fim, ditado pelos zelosos guardiões da saúde pública, que não descansarão enquanto não nos obrigarem a todos a comer exclusivamente plástico esterilizado.
No entanto, não fosse precisamente a existência daquelas condições, naquele lugar e ainda hoje não teríamos a contaminação do queijo com Penicilium roquefortis, e a descoberta desse sabor único, responsável hoje por um negócio de milhões.
Enquanto o meu pensamento deambulava por estas paragens, começo a ouvir uma música estranha mas simultaneamente familiar de um imenso repicar de pequenos sinos.
A música casava na perfeição com a calma e a solidão do lugar.
Era o regresso do rebanho, centenas de ovelhas, cada uma com o seu badalo tinindo preso ao pescoço.
Comandava o seu percurso um cão guia, em frenética actividade, não permitindo que uma só se afastasse mais do que alguns metros do rebanho e se apartasse e os próprios latidos do cão emprestavam uma beleza estranha aquela “sinfonia” de sinos.
Calmamente o rebanho recolheu ao seu redil, são e salvo e, na minha memória, ficou gravado até hoje aquele instante magnífico.
2005-10-09
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